Decisão
do STF de barrar por serem inconstitucionais as reeleições de Rodrigo Maia e
Davi Alcolumbre inaugurou o lançamento de candidaturas nas duas casas
O Congresso Nacional começa
a viver os momentos de turbulência que antecedem a sucessão das mesas da Câmara
e do Senado. A decisão do Supremo Tribunal Federal de barrar por serem
inconstitucionais as reeleições de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre inaugurou o
lançamento de candidaturas nas duas casas. Esta coluna não quer fazer juízo de
valor, mas vai nomear cada um dos já lançados e acrescentar pequenas bios das
suas trajetórias nas tramas da justiça. A elas.
CÂMARA
Arthur
Lira (PP-AL),
candidato do presidente Bolsonaro. Réu por desvio de dinheiro do erário e por
enriquecimento ilícito; denunciado na Lava-Jato por lavagem de dinheiro;
acusado pelo Ministério Público de Alagoas por desviar R$ 1 milhão através de
rachadinhas durante mandato de deputado estadual; denunciado no STF por
agressão à sua ex-mulher, que o acusou de participar de um esquema de corrupção
em seu estado.
Aguinaldo
Ribeiro (PP-PB),
foi ministro de Dilma e depois votou contra ela no processo de impeachment.
Acusado pelo doleiro Alberto Youssef de receber mesada do PT para votar a favor
das pautas do partido; citado na delação da Odebrecht por receber propina;
denunciado pelo ex-procurador Rodrigo Janot por fazer parte da organização
criminosa que assaltou a Petrobras.
Luciano
Bivar (PSL-PE),
presidente do partido que abriu as portas para Bolsonaro ser candidato em 2018.
Em 2013, admitiu ter pago propina para a CBF para que o técnico da seleção
Emerson Leão convocasse o jogador Leomar, que à época pertencia ao Sport, clube
que Bivar dirigia; indiciado pela PF no esquema de laranjas do PSL nas eleições
de 2018.
Marcos
Pereira (Republicanos-SP), bispo licenciado da Igreja Universal, foi
ministro do governo Temer. Ficou quase dois anos no cargo, mas se viu obrigado
a renunciar ao posto quando seu nome apareceu na lista da Odebrecht como um dos
beneficiários das propinas da empresa.
Elmar
Nascimento (DEM-BA), deputado de segundo mandato. Acusado de ser um dos 81
parlamentares beneficiários do esquema da Odebrecht de distribuição de dinheiro
para campanhas em caixa dois através da cervejaria Itaipava.
Baleia
Rossi (MDB-SP),
presidente nacional da sigla desde o fim da era de Romero Jucá. Foi acusado em
2016 pelo lobista Marcel Júlio como participante de um esquema de extorsão de
fornecedores de merenda para escolas públicas de São Paulo. Mais tarde, o Coaf
apresentou uma lista de envolvidos sem o seu nome.
Tereza Cristina (DEM-MS), ministra da Agricultura de Bolsonaro e deputada licenciada. Acusada de dar calote em cinco empréstimos que tomou de bancos e fundos de investimentos agropecuários, entre eles, um da JBS, para projetos rurais particulares.
SENADO
Fernando
Bezerra (MDB-PE),
ex-ministro do governo Dilma. Acusado de lavagem de dinheiro na Operação
Turbulência para reeleição de Eduardo Campos em Pernambuco (parte do dinheiro
teria sido usado na compra do avião que caiu em 2018 matando Campos);
denunciado por receber propina da Camargo Corrêa nas obras da refinaria Abreu
Lima; denunciado na Lava-Jato por receber R$ 20 milhões em propina.
Eduardo
Braga (MDB-AM),
ex-prefeito de Manaus, ex-governador do Amazonas, ex-ministro de Dilma.
Suspeito na Lava-Jato por receber R$ 1 milhão em propina; acusado de ser dono
oculto de um jato Citation de US$ 9 milhões (R$ 46,5 milhões), cujo prefixo é o
sugestivo PP-MDB; denunciado pelo MP do estado por comprar terreno público por
R$ 400 mil e vendê-lo três meses depois por R$ 13,1 milhões; conhecido nas
planilhas da Odebrecht pelo apelido “Glutão”.
Nelsinho
Trad (PSD-MS),
ex-prefeito de Campo Grande. Teve R$ 101 milhões bloqueados em suas contas por
envolvimento no maior escândalo do Mato Grosso do Sul, de desvios milionários
da empresa de limpeza urbana da capital do estado, a Solurb; denunciado pelo MP
estadual por fazer autopromoção com dinheiro público quando era prefeito.
Eduardo
Gomes (MDB-TO),
senador de primeiro mandato. Denunciado na Operação Sanguessuga por desvio de
dinheiro do Ministério da Saúde destinado a compra de ambulâncias; acusado de
fraudar licitações quando presidia a Câmara Municipal de Palmas; usou verbas
indenizatórias do Senado para comprar “notícias” favoráveis a ele em jornais de
Tocantins.
Antonio
Anastasia (PSD-MG), ex-governador de Minas Gerais, ex-vice de Aécio
Neves, a quem sucedeu. Citado na Lava-Jato como receptor de propinas. O
ex-policial Jayme Oliveira Filho disse ter entregado dinheiro em BH a uma pessoa
muito parecida com Anastasia. Alberto Youssef, de quem o policial era operador,
negou que o dinheiro fosse para Anastasia. O processo acabou arquivado.
Simone
Tebet (MDB-MS),
senadora de primeiro mandato. Investigada por crime de responsabilidade em dois
inquéritos que apuram fraude durante sua gestão na prefeitura de Três Lagoas
(MS). Um deles foi arquivado por prescrição.
Rodrigo
Pacheco (DEM-MG),
senador de primeiro mandato. Defensor dos denunciados no mensalão, detrator da
Lava-Jato e crítico do Ministério Público.
ATÉ
HONDURAS
Com
todo o respeito que aquele país da América Central merece, mas é bom notar que
até mesmo a pequena Honduras (9,5 milhões de habitantes, PIB de US$ 49 bilhões
e renda per capita de US$ 5,8 mil) vai começar a vacinação da sua população
ainda este ano. Na capital, Tegucigalpa, as doses da vacina russa Sputnik começam
a ser inoculadas na semana que vem. Alguém pode até dizer que a Sputnik não é
segura, mas toda a família real de Dubai foi imunizada com ela.
O OSCAR
BRASILEIRO
Daniel
Day-Lewis leu cem livros sobre Lincoln para interpretar seu personagem no
cinema. Assim
que se trabalha. Quantos livros Bolsonaro e Pazuello leram
sobre o coronavírus? O ator ganhou um Oscar por aquela interpretação. Que
prêmio você daria ao presidente e ao seu ministro?
SAÚDE MENTAL
O
governo resolveu revogar portarias que dão estrutura e recursos às políticas de
saúde mental no Brasil. Parece que alguém mais, além do general Eduardo Paradão Pazuello,
perdeu o juízo no Ministério da Saúde. Ou será que foi mais do mesmo?
HOTEL
MUSEU
Nada
contra um hotel no Jardim Botânico. Parques
têm que ser usados e visitados pelas pessoas. São educativos e
dão prazer e relaxamento aos visitantes. O maior parque do mundo, o
Yellowstone, que se estende por três estados americanos em 8,9 mil quilômetros
quadrados muito bem preservados, tem dez hotéis no seu interior. Todos geram
renda e empregos e não atentam contra o meio ambiente. Agora, por que fazer
logo no lugar do Museu do Meio Ambiente? Para reduzir o debate sobre a questão
e suspender a movimentação de ideias e ideais preservacionistas. E para quê
mais hotel no já abarrotado Rio de Janeiro? Aliás, Salles ajudaria muito se
mandasse demolir o esqueleto do Gávea Tourist Hotel no Parque da Tijuca. Ou
será que Eduardo Paes poderia se ocupar disso?
CANCÚN,
NÃO
Por
falar em hotel, é bom não se esquecer que ainda está muito bem viva a ideia maluca
de Bolsonaro de querer transformar a baía de Angra dos Reis em uma “Cancún
brasileira”. O que se quer fazer ali é uma agressão hedionda a um dos lugares mais
preservados do planeta. A proposta é acabar com a estação ecológica e a APA de
Tamoios e chamar investidores para erguer hotéis e resorts na área. Uma bobagem
que não pode prosperar. E não vai, por que você acha que ainda tenha gente que
acredite neste governo e invista numa furada dessas?
AINDA
RODRIGO
O
deputado Rodrigo Maia chegou a se coçar quando emissários de Bolsonaro o
avisaram, há dois meses, que sua excelência pensava em lhe entregar um
ministério. Poderia ser uma forma de agradecer ao presidente da Câmara por
fazer nada com os mais de
30 pedidos de impeachment que recebeu. Mas, como revelou
ontem o jornalista Fernando Rodrigues, do Poder 360, Paulo Guedes vetou Rodrigo
num hipotético Ministério do Planejamento recriado. Pois é.
OS MITOS
Os
políticos acreditam que o brasileiro gosta mesmo de líderes fortes e, melhor
ainda, carismáticos. Muito provavelmente inspirados em outros modelos latinos,
como o argentino, que até hoje vive sob a
sombra de Juan Domingos Perón. Talvez seja por isso que políticos
de direita (não falo do centrão das boquinhas, que não tem ideologia e está em
qualquer governo) ainda acreditem em Bolsonaro, o mito de 2018. E esta também
deve ser a razão para muitos bons quadros da esquerda continuarem teimando com
Lula, o mito de duas décadas atrás.
NEGÓCIO
NOVO
O
mercado do direito autoral só se surpreendeu com o montante, não com a venda
dos direitos autorais das músicas de Bob Dylan por US$ 300 milhões. No Brasil,
investimentos no setor podem render até 13% ao ano, como mostrou em setembro a
repórter Júlia Lewgoy, do Valor Investe. Significa quase cinco vezes mais do que paga a poupança.
Mas é preciso saber como funcionam os direitos autorais de músicas para poder
se movimentar por ali. Para isso é que estão sendo criados fundos específicos
por bancos e fintechs. Trata-se de um novo negócio na praça.
AUDIÊNCIAS
A
audiência da Fox News no verão americano foi a maior da história, superando
todas as demais no cabo e ganhando até mesmo das emissoras de sinal aberto. Já
por aqui, a Fox brasileira perdeu feio para a GloboNews.
IMPOSTOS
E ARMAS
Bolsonaro
vai zerar impostos para importação de armas a partir de 1º de janeiro. Neste
caso, o presidente não
surpreende mesmo. Agora, por que não zera também as
alíquotas para seringas, já que os produtores locais dizem que não conseguem
entregar o que o país precisa para a vacinação contra a Covid? Com a redução do
imposto as indústrias poderiam contratar funcionários e produzir mais. Aliás, o
que a Taurus, uma das maiores financiadoras da campanha de Bolsonaro em 2018,
tem a dizer sobre a medida?
ULTRAJE
Não há outro nome para aquela ridícula exposição dos vestuários de Bolsonaro e Michelle no dia da posse.
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