quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Bernardo Mello Franco - Bolsonaristas em fuga

O Globo

De olho em 2026, Tarcísio e Zema se distanciam após fracasso de intentona fascista

Jair Bolsonaro não está morto, mas suas ações despencaram no mercado futuro. O capitão saiu das urnas com 58 milhões de votos e uma tropa reforçada no Congresso. Três meses depois, amarga um cerco judicial e começa a ser abandonado por aliados.

O Supremo incluiu o ex-presidente no inquérito que investiga os ataques golpistas do 8 de Janeiro. Em outra frente, o TSE acrescentou novas provas aos processos a que ele responde por crimes eleitorais.

Com o fracasso da intentona fascista, Bolsonaro pode ser preso e ficar inelegível — não necessariamente nesta ordem. Isso precipitou a disputa por seu possível espólio em 2026.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deu os primeiros passos para se descolar do padrinho. No dia seguinte ao quebra-quebra, foi ao Planalto e trocou amabilidades com Lula. Dois dias depois, posou sorridente ao lado do petista.

O mineiro Romeu Zema divulgou nota contra os “inaceitáveis atos de vandalismo”. “No final, quem pagará seremos todos nós”, acrescentou.

O ex-vice-presidente Hamilton Mourão começou a se reposicionar antes mesmo do quebra-quebra. No último dia de mandato, aproveitou a viagem de Bolsonaro para atacá-lo em cadeia nacional de rádio e TV.

Tarcísio, Zema e Mourão se elegeram com o voto bolsonarista, mas nenhum deles derramará uma lágrima se o capitão for impedido de concorrer em 2026.

O desafio da trinca é se desvincular do ex-presidente sem perder a conexão com seu eleitorado. A derrocada dos ex-bolsonaristas João Doria e Wilson Witzel já mostrou que essa tarefa não é para amadores.

Nos últimos dias, os três presidenciáveis fizeram malabarismo para provar às suas bases que não viraram comunistas. Mourão esbravejou com o Supremo e criticou a “detenção indiscriminada” de extremistas. Zema foi mais ousado: sugeriu que Lula teria feito “vista grossa” para os criminosos que tentaram derrubá-lo.

Tarcísio não embarcou no besteirol, mas também deu uma piscadela para a extrema direita. Depois de acomodar um cunhado de Bolsonaro, deu emprego público a um coronel denunciado nos processos do massacre do Carandiru.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

"A derrocada dos ex-bolsonaristas João Doria e Wilson Witzel" não tem relação com o afastamento deles do bolsonarismo. Doria foi atropelado pelas trapalhadas do seu partido e Witzel foi flagrado em crimes pelos órgãos de controle. Mas isto não invalida toda a análise do colunista, basicamente correta.

Anônimo disse...

"Intentona fascista"? Ah, vá estudar ...!

ADEMAR AMANCIO disse...

João Doria aparecia com 1 ponto nas pesquisas porque começou criticar Bolsonaro.