O Globo
O 8 de janeiro expôs um golpismo inédito
No dia 1º de novembro, logo depois da
derrota eleitoral, Jair
Bolsonaro gabou-se:
— A direita surgiu de verdade em nosso
país.
Na tarde de 8 de janeiro, viu-se em
Brasília o que é a direita de Bolsonaro. Direita, o Pindorama sempre teve, mas
a de Bolsonaro tem características próprias e inéditas. É uma direita com bases
populares, mobilizável para atos de delinquência. Noves fora George Washington
de Oliveira Sousa, gerente de um posto de gasolina no Pará que está preso, 23
dos 1.500 presos de Brasília tinham antecedentes criminais. O George Washington
bolsonarista planejava um Riocentro 2.0, explodindo um caminhão de combustível
no pátio do Aeroporto de Brasília, sincronizado com um corte de energia. Esse é
o braço terrorista dessa direita.
No braço dos atentados de 8 de janeiro
estavam duas figuras singulares.
Uma é Maria de Fátima Mendonça Jacinto
Souza, a “Fátima de Tubarão” (SC), de 67 anos. Ela invadiu o Palácio do
Planalto, avisando:
— Vamos para a guerra, é guerra agora.
Vamos pegar o Xandão agora.
Xandão é o ministro Alexandre de Moraes.
O outro é o paraense Antônio Geovane Sousa
de Sousa, de 23 anos, preso quando tentava acender um explosivo.
Fátima foi condenada a três anos e dez
meses de prisão por tráfico de drogas e cumpre a pena em regime aberto. Geovane
foi preso em 2018, acusado de ter matado um homem a facadas. É um foragido. O
que leva pessoas com antecedentes criminais a participar de atos como os
atentados de 8 de janeiro só pode ser uma irresponsável sensação de impunidade.
Mas essas poderiam ser histórias do andar de baixo.
No de cima, vai-se achar Creusa Buss
Melotto. Duas semanas antes do fim do governo, a senhora recebeu do Gabinete de
Segurança Institucional uma autorização para a exploração de garimpo de ouro
numa área de 9.800 hectares na Amazônia. Na década de 1990, ela cumpriu pena de
seis anos de prisão por tráfico de drogas.
A direita de Jair Bolsonaro nada tem a ver
com a de figuras como Roberto Campos ou o ultramontano católico Gustavo Corção.
Ela tem a cabeça sabe-se lá onde, mas seus pés estão nas milícias, na grilagem
de terras, nas delinquências amazônicas e até mesmo em casos de crimes.
(As ligações da ministra do Turismo,
Daniela Carneiro, ou “Daniela
do Waguinho”, com milicianos da Baixada Fluminense são uma carga para o
governo de Lula.
Comparar o grosso da militância bolsonarista com a petista é chamar urubu de
meu louro, mas tanto os urubus como os papagaios são aves.)
A direita mobilizada por Bolsonaro fez no
dia 8 de janeiro coisas que nunca foram vistas na política nacional. Aqui e ali
já foram cometidos atos violentos, mas nunca tiveram o apoio expresso e
persistente de uma liderança nacional.
Queira-se ou não, Jair Bolsonaro teve 58,2
milhões de votos. Perdeu para Lula por uma margem de menos de dois pontos
percentuais. Num universo eleitoral que cresceu, em 2022 ele teve cerca de 400
mil votos a mais que em 2018.
O 8 de janeiro sugere que pode ter começado o ocaso político de Bolsonaro. Sua direita é outra, nunca vista. Violenta e golpista, com base popular.
5 comentários:
A direita de Bolsonaro, CRIMINOSA COMO ELE! Excelente coluna!
O articulista forenece sem querer argumentos para a tese de que, em vez de ato político, de cunho "terrorista", os acontecimentos de domingo foram atos criminosos oportunistas, vandalismo, baderna e desordem - que , no Brasil, não costumam ser prevenidos, muito menos combatidos pelas autoridades, por se originarem das "vítimas da sociedade".
Isso!
E no andar mais de cima de todos, onde circulam as fardas e os donos de jornais & dindim, Elio o Gaspari, papagaio a soldo mais pra urubu, no 'tadinho das vítimas'
Tomara que não inventem a fazer como em USA, político do GOP sair atirando em casa dos Democratas. De hora em hora tudo piora é dar uma olhada para s Ucrânia e constatar que o mundo está virando de cabeça para baixo. Que bons ares continue a soprar no nosso pais. Nada como uma mudança para fazer a meia volta volver e colocar em seu devido lugar o equilíbrio. Bolsonaro nunca foi mente sana, faltou-lhe um psiquiatra no meio do caminho.
O que o colunista entende por crime?
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