O Estado de S. Paulo
O fracasso do projeto de Bolsonaro de alterar a lei antiterror salvou seus apoiadores
Em 2019, o deputado federal Vitor Hugo
(PL-GO), então líder do governo, apresentou um projeto de lei que criava a
Autoridade Nacional Contraterrorista. O deputado bolsonarista queria
superpoderes para esse órgão, subordinado diretamente ao presidente da
República.
O plano antiterror formulado pelo major, um ex-oficial das Forças Especiais (FE) do Exército, dizia que a lei poderia ser aplicada “também para prevenir e reprimir a execução de ato que, embora não tipificado como crime de terrorismo”, fosse “perigoso para a vida humana ou potencialmente destrutivo em relação a alguma infraestrutura crítica, serviço público essencial ou recurso-chave”. Também afirmava que a norma podia ser usada para reprimir atos que tivessem a “aparente intenção de intimidar ou coagir a população civil ou de afetar a definição de políticas públicas por meio de intimidação, coerção, destruição em massa, assassinatos, sequestros ou qualquer outra forma de violência”
Pela lei atual, só há terrorismo se o crime
for praticado por razões de xenofobia ou discriminação de raça, cor, etnia e
religião. Segundo os procuradores, dezenas de condutas poderiam ser tratadas
assim se o projeto fosse aprovado. Um governo que enfrentasse manifestações
poderia usar atos isolados de vandalismo para criminalizar todos os que
protestassem.
Vitor Hugo ignorou as críticas. Com os
apoios de Jair Bolsonaro e de Eduardo Bolsonaro, levou o projeto adiante. O
filho do ex-presidente defendia uma lei antiterror renovada, tipificando como
terrorismo os atos do Movimento dos Sem Terra (MST). “Se for necessário prender
100 mil, qual o problema?”, disse ao Estadão, após ser reeleito, em 2018.
Em 2021, a Câmara rejeitou dar regime de
urgência ao projeto antiterror. A vigilância de parlamentares e da imprensa
impediu. Se os congressistas tivessem levado a lei liberticida adiante, hoje os
milhares de participantes do ataque aos três Poderes, no dia 8, estariam sendo
enquadrados e processados legalmente como terroristas. Talvez essa história não
lhes ensine nada. Até porque os autoritários nunca imaginam que um dia podem
perder o poder.
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Fato.
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