quinta-feira, 27 de julho de 2023

Bruno Boghossian - Uma visita ao submundo

Folha de S. Paulo

Para achar mandantes, investigação terá que ir fundo numa estrutura embrenhada em regiões inteiras do Rio

A etapa mais recente da investigação das mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes ajudou a completar o desenho da cena do crime, mas não foi só isso. A delação que detalhou a execução dos assassinatos também ofereceu uma visita ao submundo em que será preciso mergulhar para encerrar o caso.

O ex-PM Élcio Queiroz narrou com naturalidade a conexão entre os responsáveis pelos assassinatos e as atividades de milícias do Rio. Descontado o espírito de propaganda, foi isso que levou o ministro Flávio Dino a dizer que "é indiscutível" o vínculo entre esses grupos e as mortes.

Acusado de fazer os disparos, Ronnie Lessa aparece na delação como miliciano modelo. Também ex-policial, ele ganharia dinheiro com a exploração de máquinas caça-níqueis e de serviços ilegais de TV a cabo e internet. No chamado "gatonet", seria sócio do ex-bombeiro Suel, preso na segunda-feira (24) por suspeita de participação nas mortes.

O ex-policial preenche outro item do perfil: a disputa por terras na zona oeste do Rio. Segundo o delator, Lessa ajudou Suel a bloquear a ameaça de policiais de Rio das Pedras (foco da atuação de milícias) que queriam tomar dele "um terreno enorme".

Os relatos de Élcio sugerem ainda que Lessa usava uma rede de policiais e ex-policiais para suas atividades. Um dos casos seria a origem da arma do crime, desviada no incêndio de um paiol do Bope. Outro seria o vazamento da operação em que os dois foram presos, em 2019.

Élcio contou que o assassinato teria sido encomendado por Edmilson de Oliveira, sargento aposentado da PM. Conhecido como Macalé, ele já foi identificado como chefe da milícia em Oswaldo Cruz, na zona norte.

A identificação de Macalé como intermediário deixou ainda mais nítida a impressão digital das milícias, mas também expôs um obstáculo, já que ele foi assassinado em 2021. Para seguir o fio dos mandantes, os investigadores terão que ir fundo numa estrutura embrenhada na sociedade, na economia e na política de regiões inteiras do Rio.

 

2 comentários:

marcos disse...

PM e CB têm que acabar. MAM

ADEMAR AMANCIO disse...

Segue o fio...