O Estado de S. Paulo
CEF para o Centrão, Petrobras para políticos e Lula mira no déficit zero e acerta Haddad
Ao nomear Ciro Nogueira, do PP, Jair
Bolsonaro admitiu que dava o “coração do governo” para o Centrão. Hoje, Lula
nomeia para a Caixa Econômica Federal o indicado de Arthur Lyra, também do PP.
Dá o que de bandeja para o Centrão? O bolso, o cofre, uma grande máquina
eleitoral? Pode estar contratando um problemão para logo adiante.
A CEF tem mais poder, dinheiro, ramificação e força eleitoral do que grande parte, talvez até a maioria dos ministérios. Em 2022, seu patrimônio líquido era de R$ 122 trilhões e seu lucro líquido bateu em R$ 9.2 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, sua carteira geral de crédito chegou a R$ 1 trilhão. Com agências em toda parte, a CEF oferece crédito para pessoas físicas e jurídicas, habitações populares, casas e apartamentos da classe média e de alto padrão e chega ao topo, o agronegócio. Já imaginaram o Centrão botando a mão nisso tudo?
Na sexta-feira, 27/10, Lula admitiu: “Eles
(Centrão) têm mais de cem votos e eu precisava deles”. Precisava, não; precisa.
Jogado na “lata de lixo” numa “exposição de arte” grosseira na Caixa, Lira
suspendeu todas as votações de interesse do governo. Depois do anúncio de
Carlos Antonio Vieira para a CEF, fez-se a luz e a Câmara aprovou a taxação de
fundos especiais de investimento e de offshores.
Essa medida é muito importante para um
governo que se comprometeu com déficit zero em 2024, mas até Lula, num típico
sincericídio, já admite que não dá. É a pura verdade, mas chacoalha Bolsa e
câmbio, irrita o Congresso e enfraquece o principal ministro, Fernando Haddad,
além de abalar a confiança no próprio governo.
Nunca o Congresso esteve tão empoderado e
nenhum presidente escaparia da armadilha, mas para Lula ela é muito mais
perigosa, ameaçadora, depois de mensalão, Lava Jato e prisão. Com esse fantasma
rondando, qualquer denúncia de corrupção em estatal e banco público ganhará uma
dimensão explosiva para ele, governo e PT.
Some-se à entrega da CEF para o Centrão o
esforço concentrado do governo, com a mão amiga do ex-ministro do Supremo
Ricardo Lewandowski, para alterar o estatuto da Petrobras e
“flexibilizar” a entrada de políticos pela
porta dos fundos da maior, mais rica e mais simbólica companhia brasileira. Um
eventual escândalo na Caixa e na Petrobras vai cair direto no colo de Lula, que
oscila nas pesquisas, ainda gera incertezas e não pode dar sorte para o azar.
Todo cuidado é pouco. Mas o que fazer? Não dar a CEF para o Centrão e não
aprovar mais nada no Congresso, ou dar e correr esse terrível risco? Uma
escolha de Sofia.
PS: População mais feminina, governo mais
masculino…
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