Folha de S. Paulo
Elite do mundo trata de guerra comercial;
americano elogia sua 'revolução do bom senso'
A "opinião pública" convencional
passou a terça-feira (4) a discutir
"tarifas" e escaramuças da guerra
comercial. No fim do dia, Donald Trump foi
ao Congresso falar de sua "revolução do bom senso".
Tratou de "tarifas" também, palavra que apareceu depois de
transcorrido um terço de um discurso
de 100 minutos.
Antes e por quase o tempo todo, Trump falou
de preocupações compreensíveis e comuns e dos objetivos de um governo
que começa como o "melhor da história" (o segundo é o de
George Washington).
Começou por enumerar feitos e, assim, a listar inimigos do povo: imigrantes, tecnocracia, "wokes", verdes, instituições multilaterais, países que barram produtos americanos.
Suas tropas "repelem
a invasão" de imigrantes (vários "assassinos, traficantes,
chefes de gangues" e doentes mentais). Congelou contratações
de funcionários públicos, regulamentações governamentais e ajuda externa.
Mandou servidores aparecerem no trabalho ("centenas de milhares" não
o faziam). Deu fim à "ridícula mutreta do Acordo de Paris", saiu
da Organização Mundial da Saúde e de organizações
"corruptas" ou "antiamericanas".
Restaurou a "liberdade de
expressão". Acabou com a "tirania" da "diversidade,
equidade e inclusão". Decretou que só
existem os gêneros masculino e feminino. Removeu a "teoria crítica da
raça" das escolas públicas.
Está acabando com a "ideologia
transgênero", "mutilações sexuais" e com a participação de
mulheres trans em esportes femininos. Contou a história de uma jogadora de
vôlei que ficou muito machucada por causa de uma bolada de uma atleta trans.
Nisso e nos "inimigos do povo"
gastou o sexto inicial do discurso, que seria ocupado por tais assuntos ainda
muitas vezes.
Citou o preço
do ovo e a carestia, meio de passagem. Deu ênfase ao grande corte de
impostos que virá para os "comuns". Disse que herdou de Joe Biden uma
"catástrofe econômica e um pesadelo de inflação". Que a energia é
cara por causa de políticas ambientais e regulamentação —vai explorar muito
petróleo e fazer um gasoduto no Alasca.
O déficit do governo é causado por
desperdícios e fraudes, ora combatidos por Elon Musk, como gastar dinheiro em
ajuda a LGBTQIA+ do Lesoto, país africano "de que ninguém jamais ouviu
falar", entre outros exemplos caricatos.
A "burocracia federal" cresceu por
quase 100 anos "até esmagar nossas liberdades, inflar déficits e limitar o
potencial da América". Agora, o país não será mais dominado por burocratas
que não foram eleitos ("Estado profundo"). "Tendo isso [déficit]
em mente", Trump lembrou que vai vender por US$ 5 milhões direitos de
residência a pessoas "brilhantes".
Sim, "tarifas" ficaram com uns 15%
do discurso, mas não se tratou ali de política econômica, mas da vingança de um
país explorado ou invadido por drogas e comida importada suja; de como os impostos
de importação já atraem centenas de bilhões em investimento.
Fez o elogio das "forças da ordem".
Quer construir um "domo antimísseis", restaurar a indústria
naval, retomar
o canal do Panamá e fazer com que a Groenlândia seja parte dos EUA,
assunto de segurança nacional e mundial. Falou de passagem da Ucrânia, também o
de sempre.
Foi um discurso que enfatizou a ideologia
Maga e a defesa da "revolução do senso comum" nos EUA e no resto do
mundo. Convém prestar atenção nesse roteiro reiterado.
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