quinta-feira, 6 de março de 2025

A revolução do ‘senso comum’ de Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Elite do mundo trata de guerra comercial; americano elogia sua 'revolução do bom senso'

A "opinião pública" convencional passou a terça-feira (4) a discutir "tarifas" e escaramuças da guerra comercial. No fim do dia, Donald Trump foi ao Congresso falar de sua "revolução do bom senso".
Tratou de "tarifas" também, palavra que apareceu depois de transcorrido um terço de um discurso de 100 minutos.

Antes e por quase o tempo todo, Trump falou de preocupações compreensíveis e comuns e dos objetivos de um governo que começa como o "melhor da história" (o segundo é o de George Washington).

Começou por enumerar feitos e, assim, a listar inimigos do povo: imigrantes, tecnocracia, "wokes", verdes, instituições multilaterais, países que barram produtos americanos.

Suas tropas "repelem a invasão" de imigrantes (vários "assassinos, traficantes, chefes de gangues" e doentes mentais). Congelou contratações de funcionários públicos, regulamentações governamentais e ajuda externa. Mandou servidores aparecerem no trabalho ("centenas de milhares" não o faziam). Deu fim à "ridícula mutreta do Acordo de Paris", saiu da Organização Mundial da Saúde e de organizações "corruptas" ou "antiamericanas".

Restaurou a "liberdade de expressão". Acabou com a "tirania" da "diversidade, equidade e inclusão". Decretou que só existem os gêneros masculino e feminino. Removeu a "teoria crítica da raça" das escolas públicas.

Está acabando com a "ideologia transgênero", "mutilações sexuais" e com a participação de mulheres trans em esportes femininos. Contou a história de uma jogadora de vôlei que ficou muito machucada por causa de uma bolada de uma atleta trans.

Nisso e nos "inimigos do povo" gastou o sexto inicial do discurso, que seria ocupado por tais assuntos ainda muitas vezes.

Citou o preço do ovo e a carestia, meio de passagem. Deu ênfase ao grande corte de impostos que virá para os "comuns". Disse que herdou de Joe Biden uma "catástrofe econômica e um pesadelo de inflação". Que a energia é cara por causa de políticas ambientais e regulamentação —vai explorar muito petróleo e fazer um gasoduto no Alasca.

O déficit do governo é causado por desperdícios e fraudes, ora combatidos por Elon Musk, como gastar dinheiro em ajuda a LGBTQIA+ do Lesoto, país africano "de que ninguém jamais ouviu falar", entre outros exemplos caricatos.

A "burocracia federal" cresceu por quase 100 anos "até esmagar nossas liberdades, inflar déficits e limitar o potencial da América". Agora, o país não será mais dominado por burocratas que não foram eleitos ("Estado profundo"). "Tendo isso [déficit] em mente", Trump lembrou que vai vender por US$ 5 milhões direitos de residência a pessoas "brilhantes".

Sim, "tarifas" ficaram com uns 15% do discurso, mas não se tratou ali de política econômica, mas da vingança de um país explorado ou invadido por drogas e comida importada suja; de como os impostos de importação já atraem centenas de bilhões em investimento.

Fez o elogio das "forças da ordem". Quer construir um "domo antimísseis", restaurar a indústria naval, retomar o canal do Panamá e fazer com que a Groenlândia seja parte dos EUA, assunto de segurança nacional e mundial. Falou de passagem da Ucrânia, também o de sempre.

Foi um discurso que enfatizou a ideologia Maga e a defesa da "revolução do senso comum" nos EUA e no resto do mundo. Convém prestar atenção nesse roteiro reiterado.

 

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