Por Valor Econômico
Petista deve fazer mais mexidas na Esplanada
e prepara envio de projetos ao Congresso
Passado o Carnaval, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva deve concluir nas próximas semanas a reforma ministerial. As
trocas começaram na cozinha do Palácio do Planalto, com Sidônio Palmeira na
Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) e Gleisi Hoffmann na
Secretaria de Relações Institucionais (SRI) no lugar de Alexandre Padilha, que
vai para a Saúde. Nas últimas horas, aumentaram os rumores da nomeação de
Guilherme Boulos (Psol-SP) para substituir de Márcio Macêdo, na
Secretaria-Geral, outro ministério palaciano.
Em meio à lentidão de Lula para fazer as mexidas, há apenas uma certeza entre os auxiliares do presidente: o PSD da Câmara deve ganhar um ministério. A sigla já sinalizou ao presidente que não se interessa por Ciência e Tecnologia, atualmente com Luciana Santos (PCdoB). O partido de Gilberto Kassab pode ser contemplado com o Turismo, hoje ocupado por Celso Sabino (União Brasil). A legenda de Sabino e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pode ir para Ciência e Tecnologia.
Ainda em relação ao núcleo político, outra
sugestão é que o presidente nomeie um quadro do Centrão para o cargo de líder
do governo na Câmara, no lugar do deputado José Guimarães (PT-CE). O mais
cotado é o líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões (AL).
Em relação a Boulos, as opiniões se dividem,
inclusive no Psol. A favor da indicação, os argumentos são de que Lula tem
apreço pelo candidato a prefeito de São Paulo derrotado em 2024, e acredita que
é um quadro da esquerda cujo capital político não deve ser desvalorizado. No
ministério, Boulos voltaria aos holofotes, contribuiria para fazer a disputa
política em defesa do governo, e para dar novo ânimo à articulação com os
movimentos sociais, como liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), e capacidade de engajamento nas redes sociais.
Contra a ida de Boulos ao ministério, a
percepção é de que ele enfrentaria obstáculos no Psol, porque uma ala do
partido é contra apoiar o governo Lula. No entanto, o Psol já tem uma cadeira
na Esplanada, com o Ministério dos Povos Indígenas, cuja titular é Sonia
Guajajara. Outra avaliação é de que acentuaria a imagem de esquerda radical no
Palácio do Planalto, ao lado de Gleisi, embora ele tenha apresentado um perfil
moderado na campanha eleitoral de 2024.
No Palácio, a única certeza é que o PSD da
Câmara deve ganhar um ministério
Em outra frente, um interlocutor de Macêdo
avalia que Lula deu sinalizações de que não pretende substituir o auxiliar. Ele
vem desempenhando várias missões para o presidente, como os preparativos para o
evento social que ocorrerá paralelo à COP30 em Belém em novembro, e a
interlocução com a população atingida pela tragédia de Mariana (MG), que
receberá a primeira parcela, no valor de R$ 5 bilhões, do acordo de indenização
com as mineradoras.
Quanto à interlocução com o Congresso, um
grupo de aliados defende que Lula tire do PT a liderança do governo na Câmara,
para dar o cargo para o MDB. Isnaldo Bulhões é muito próximo do presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do ministro dos Transportes, Renan
Filho. A eventual troca, entretanto, não agradou lideranças do Centrão, já que
o bloco reivindicava, na verdade, o ministério da articulação política, que
ficará com Gleisi Hoffmann.
Enquanto Lula conclui a reforma ministerial,
o governo ajeita a pauta de prioridades para o Congresso, com projetos cruciais
para que ele tenha governabilidade no último biênio de mandato e aumente suas
chances de reeleição.
No início de fevereiro, a equipe econômica
apresentou ao Congresso uma agenda com 25 itens prioritários para tramitação em
2025. O principal ponto na agenda legislativa, até o momento, é o projeto que
vai isentar de Imposto de Renda quem tem vencimentos de até R$ 5 mil ao mês. O
maior entrave ao Congresso será a aprovação da medida compensatória, já que,
nos cálculos do Ministério da Fazenda, a renúncia de receita será de R$ 35
bilhões ao ano. O governo estuda implementar um imposto mínimo para quem tem
rendimentos superiores a R$ 50 mil.
Lideranças do Congresso, no entanto, já se
manifestaram de forma contrária à proposta, vista pelo governo como a principal
aposta para ativar a economia, ampliar a renda disponível e favorecer,
principalmente, a classe média. Sindicatos que representam auditores estimam
que cerca de 36 milhões de contribuintes podem ser favorecidos e também apontam
para uma renúncia de receita maior do que a estimada pela Fazenda.
No curto prazo, ainda há o desafio da
aprovação do Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2025, que está em
tramitação na Comissão Mista de Orçamento (CMO). A equipe econômica estima que,
com a homologação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do plano de trabalho para
dar transparência às emendas parlamentares, a peça orçamentária deve ser
destravada nas próximas semanas.
Com a aparente solução momentânea do impasse
entre Legislativo e Judiciário e a reforma ministerial começando a andar, a
tendência é que os trabalhos no Congresso ganhem tração. Na terça-feira (11), a
CMO realizará uma reunião onde o relator da Ploa, senador Angelo Coronel
(PSD-BA) apresentará aos parlamentares em que estágio está o seu parecer. A
votação, no entanto, só deverá ocorrer na semana do dia 17.
Coronel espera que o texto seja votado na CMO
no dia 17 e no plenário no dia 18. Ele já alinhou para que Alcolumbre convoque
uma sessão do Congresso para o dia seguinte da votação no colegiado.
Ainda do ponto de vista orçamentário, a
equipe econômica ainda aposta na tramitação de duas propostas que fizeram parte
do pacote de gastos e não avançaram ao final do ano passado: o limite aos
supersalários no Poder Judiciário e as mudanças nas regras de aposentadoria
para os militares.
Coronel ainda aguarda um ofício do Ministério
do Planejamento solicitando a inclusão na peça orçamentária da ampliação do
vale-gás, anunciado por Lula para atender mais de 20 milhões de pessoas. A
previsão no texto enviado pelo Executivo é de R$ 600 milhões, mas o montante
dedicado ao benefício pode chegar a R$ 3,4 bilhões.
Apesar da indefinição sobre o vale-gás, o programa Pé-de-Meia não deve entrar no relatório de Coronel, sendo inserido no Orçamento após o prazo de 120 dias dado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em um projeto de lei do Congresso Nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário