Valor Econômico
Responsável por 1/3 de tudo que o Brasil
vende aos EUA, São Paulo seria o Estado mais prejudicado por um tarifaço
Dois terços das exportações do Brasil para os
Estados Unidos têm origem em Estados de governadores que, em 2022, se alinharam
ao bolsonarismo. São Paulo sozinho é responsável por 33,6% do que o Brasil
vendeu aos EUA em 2024.
A ameaça de sobretaxa sobre produtos
brasileiros, agora nominada pelo presidente americano, não moveu nenhum desses
governadores em defesa da economia de seus Estados. O produto de exportação que
mais preocupa o bolsonarismo hoje é o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), cujo
passaporte está ameaçado de apreensão pela denúncia de crime de lesa-pátria.
Neste ano, o filho do ex-presidente já esteve três vezes nos EUA. É um dos articuladores da proposta que avança no Congresso americano para barrar o ingresso no país de autoridades estrangeiras que infrinjam a “liberdade de expressão” dos EUA. Foi uma medida talhada para atingir o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, pela contenda em torno da queda de braço com as gigantes de tecnologia daquele país.
Desde a posse de Trump, os governadores
bolsonaristas têm se pautado por eloquente silêncio. Aquilo que disseram
naquele momento, porém, sugere que assim como na segurança pública, a aposta é
de que todo o desgaste recaia sobre o governo federal.
Tomem-se, por exemplo, as manifestações do
governador paulista, Tarcísio de Freitas. Depois de ter posado de boné vermelho
“Make America Great Again” no dia da eleição de Trump em vídeo em que
proclamava o “grande dia”, o governador paulista expôs suas expectativas sobre
os Estados Unidos a partir de sua posse: “Uma economia mais forte, com menos
impostos, uma outra visão acerca da América Latina, uma postura diferente em
relação às disputas comerciais que podem virar oportunidades para nós se bem
lidas e aproveitadas”.
Uma leitura possível, que é partilhada por
integrantes bem-postos do governo brasileiro, é que Tarcísio faça cara de
paisagem ante a escalada tarifária trumpista na expectativa de que o governo
federal tropece nas negociações.
No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio não se descarta, por exemplo, que haja pressão americana para o
governo negociar tarifas e cotas num único balaio, que passe, por exemplo, pela
manutenção da cota de exportação de aço mediante a redução daquela de etanol.
Isso acabaria por semear, entre setores prejudicados, animosidade contra o
governo federal sem, necessariamente, resultar em “gratidão” daqueles que
tiveram seus espaços preservados - uma reprise do comportamento do eleitorado
ante as políticas públicas.
O vice-presidente e titular do Midc, Geraldo
Alckmin, conversará por videoconferência, nesta quinta, com o Secretário de
Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Espera-se que saia de lá com mais clareza
sobre o rumo que o governo americano pretende imprimir à negociação.
México e Canadá, que ganharam um mês de prazo
até a imposição dos 25%, foram informados, na quarta (5), do adiamento das
tarifas sobre a indústria automobilística daqueles países, por óbvia pressão
das montadoras de Detroit cuja integração com os dois países seria desmantelada
pelo tarifaço.
Por isso, é possível que os governadores
bolsonaristas estejam de braços cruzados na expectativa de que Trump esteja
blefando. Não valeria a pena o desgaste de se confrontar com um governo que tem
se mostrado útil ao ex-presidente em sua guerra com o STF - vide a participação
da empresa de Trump na ação por “censura” contra Moraes na justiça americana.
Não é o que o resto do mundo tem feito.
Governos, empresas, entidades empresariais têm se articulado para antever e
conter os estragos da política comercial de Trump. O congraçamento público
entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador paulista no
lançamento do edital do túnel Santos-Guarujá não se estendeu a uma troca de
figurinhas no tema.
Alckmin tem estreitado as relações com a
Fiesp e a CNI, mas as cobranças das entidades sobre os governadores é tímida,
para não dizer inexistente. Dias atrás, um estudo da diretoria de comércio
exterior da Fiesp limitou-se a sugerir uma maior colaboração do empresariado
junto ao governo federal para a celeridade de respostas contra medidas que
prejudiquem produtos brasileiros.
A cobrança sobre o governador deve vir de
rodadas setoriais a serem promovidas pela Fiesp. Se comparecer, Tarcísio de
Freitas será convidado a se posicionar sobre a política comercial americana e
as medidas a serem tomadas pelo governo de São Paulo em defesa de sua economia.
O tema reaproxima Alckmin da elite
empresarial do Estado que governou quatro vezes mas não está claro se será
capaz de desfazer sua inconteste adesão às ambições políticas do governador
paulista rumo ao Palácio do Planalto em 2026.
A inação dos governadores para proteger a
economia - e os empregos - de seus Estados em nada tem prejudicado sua imagem
ante os eleitores. O governador de São Paulo tem mais que o dobro da aprovação
colhida por Lula no Estado (61% x 29%) segundo a Genial/Quaest. O foco que suas
redes sociais dedicam à segurança pública sugere que o governador acredite em
mais dividendos decorrentes das prisões efetuadas por policiais fantasiados de
Power Rangers no carnaval do que numa defesa efetiva da indústria e do agronegócio
paulistas.
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