O Estado de S. Paulo
Se Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas
Jair Bolsonaro disse que só morto indica
outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes
em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um
dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só
encerraria o mandato preso, morto ou com vitória. Não foi preso, não morreu e
tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula.
Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto, ou seja, inelegível. Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora?
Saber o momento certo de parar de insistir no
próprio nome como candidato da direita populista é complexo porque nenhuma das
opções é muito boa para Bolsonaro. Se jogar a tolha agora, ele perde a aura de
único líder legítimo do seu nicho eleitoral e, com ela, a possibilidade de
elevar o custo político de uma eventual condenação por tentativa de golpe de
Estado. Um líder populista nunca pode deixar de alimentar a ideia de que é
insubstituível.
Se, por outro lado, Bolsonaro deixar para a
última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas. O
primeiro é que haverá menos tempo para trabalhar o nome de sua preferência
junto ao eleitorado. O segundo é que isso estimula a fragmentação da direita em
diversos pré-candidatos. Nos dois casos, o efeito é diminuir as chances de
vitória de um nome endossado por Bolsonaro.
Há um terceiro cálculo a ser feito, caso
Bolsonaro reconheça, pelo menos para si mesmo, que não irá recuperar sua
elegibilidade e que a condenação é inevitável. A sua melhor opção, nesse
cenário, é que o candidato vitorioso em 2026 seja alguém que aceite lhe
conceder a graça presidencial, extinguindo sua pena. Mas isso significaria
admitir a hipótese de passar alguns meses na cadeia e exigiria uma confiança
muito grande no sucessor escolhido. Rei morto, rei posto. Optar pela esposa
Michelle ou pelo filho Eduardo parece mais seguro, mas eles teriam menos
chances, mesmo contra um Lula enfraquecido.
Bolsonaro diz que, se existisse um “motivo justo” para ele estar inelegível, “arrumaria uma maneira de fugir”. Entre a cadeia e o perdão, o aeroporto parece uma opção cada vez mais factível para o ex-presidente.
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