segunda-feira, 10 de março de 2025

Entre o aeroporto, a cadeia e o perdão - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Se Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas

Jair Bolsonaro disse que só morto indica outro candidato para disputar a Presidência em 2026. Ele já errou outras vezes em previsões em que atrelou sua morte ao seu futuro político. Em 2021, em um dos muitos momentos em que flertou com a recusa em deixar o cargo, disse que só encerraria o mandato preso, morto ou com vitória. Não foi preso, não morreu e tampouco foi vitorioso. Optou pelo aeroporto às vésperas da posse de Lula.

Em 2026, só será diferente em um ponto: é provável que até lá Bolsonaro esteja, de fato, preso. Na melhor das hipóteses, para ele, continuará eleitoralmente morto, ou seja, inelegível. Ninguém duvida que acabará indicando um candidato para concorrer à Presidência em seu lugar. A questão é quando fazê-lo. Agora ou na última hora?

Saber o momento certo de parar de insistir no próprio nome como candidato da direita populista é complexo porque nenhuma das opções é muito boa para Bolsonaro. Se jogar a tolha agora, ele perde a aura de único líder legítimo do seu nicho eleitoral e, com ela, a possibilidade de elevar o custo político de uma eventual condenação por tentativa de golpe de Estado. Um líder populista nunca pode deixar de alimentar a ideia de que é insubstituível.

Se, por outro lado, Bolsonaro deixar para a última hora a escolha de um sucessor, acabará criando dois problemas. O primeiro é que haverá menos tempo para trabalhar o nome de sua preferência junto ao eleitorado. O segundo é que isso estimula a fragmentação da direita em diversos pré-candidatos. Nos dois casos, o efeito é diminuir as chances de vitória de um nome endossado por Bolsonaro.

Há um terceiro cálculo a ser feito, caso Bolsonaro reconheça, pelo menos para si mesmo, que não irá recuperar sua elegibilidade e que a condenação é inevitável. A sua melhor opção, nesse cenário, é que o candidato vitorioso em 2026 seja alguém que aceite lhe conceder a graça presidencial, extinguindo sua pena. Mas isso significaria admitir a hipótese de passar alguns meses na cadeia e exigiria uma confiança muito grande no sucessor escolhido. Rei morto, rei posto. Optar pela esposa Michelle ou pelo filho Eduardo parece mais seguro, mas eles teriam menos chances, mesmo contra um Lula enfraquecido.

Bolsonaro diz que, se existisse um “motivo justo” para ele estar inelegível, “arrumaria uma maneira de fugir”. Entre a cadeia e o perdão, o aeroporto parece uma opção cada vez mais factível para o ex-presidente.

Nenhum comentário: