O Estado de S. Paulo
O desafio do Copom é avaliar quão inflacionário ou recessivo será o tarifaço dos EUA
Parece até simples o dilema que o Copom terá
pela frente ao fim da sua reunião de hoje, conforme a maioria dos analistas:
será a derradeira alta do atual ciclo de aperto monetário ou ainda haverá um
último ajuste em junho? A taxa final da Selic ficará em 14,75% ou 15%?
O desafio com que se depara o Copom é exatamente o mesmo de outras autoridades monetárias do mundo, que é avaliar quão inflacionária ou recessiva será a política de tarifas de importação adotada por Donald Trump. Como não dá para antecipar desde já a decisão final sobre o nível tarifário que será cobrado de cada país, em especial da China, diante das muitas idas e vindas do presidente americano, o que resta, neste momento, são apenas incertezas.
E incerteza maior costuma deprimir a
atividade econômica. Com isso, todos os bancos centrais consideram que vão ter
de trabalhar com condições financeiras mais frouxas. Ou seja, aqueles que já
estavam em ciclo de cortes de juros agora admitem que vão ter de reduzir mais
ainda a taxa básica. Quem achava que iria deixar a política monetária num nível
mais restritivo, agora admite deixá-la neutra. No caso do Brasil, que segue
subindo a Selic, talvez o tamanho total da alta de juros tenha de ser menor do
que o inicialmente projetado.
Como as condições domésticas estão
praticamente inalteradas desde a última decisão do Copom (incipiente
desaceleração da atividade econômica, inflação corrente em patamar
desconfortável e expectativas inflacionárias muito acima da meta), a história
desta reunião resume-se em julgar como as mudanças nos eventos externos
afetaram a economia brasileira. Um exemplo disso foi a queda no preço do
petróleo, de US$ 70 para cerca de US$ 61, mais um alívio à inflação. Outro foi
o dólar: ainda comportado, subindo de R$ 5,65, no Copom de março, para a faixa
de R$ 5,71.
O que esperar, então, deste Copom? Uma alta
de 0,50 ponto porcentual da Selic, para 14,75%, com o comunicado deixando em
aberto a decisão de junho. Dependendo do que ocorrer até lá, outra alta de 0,25
ponto estaria na mesa, com a taxa terminal em 15%. Mas não dá para descartar
uma sinalização de que a elevação de 0,50 ponto seja a última, tampouco que
esse ajuste poderá ser dividido em dois de 0,25 ponto, um agora e outro em
junho.
Seja como for, a conclusão é de que a
incerteza com a economia global fez com que o fim do ciclo de alta de juros no
Brasil chegasse antes do que se imaginava. Mas, se o mercado considerar que o
fim do aperto foi prematuro, o trabalho do Copom ficará mais difícil.
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