O Estado de S. Paulo
Cada vez mais idosos, os padres ‘dos anos 1970’ dão lugar aos ‘novos padres’, mais jovens e tradicionais
Frei Betto completou 80 anos. Em 2024, foi
homenageado em Havana. Vestia um boné do MST e posou para foto ao lado de
estudantes de Medicina. Meses depois do dominicano, padre Julio Lancellotti, o
carmelita da Pastoral dos Povos de Rua de São Paulo, completou 76 anos. E, na
semana passada, encontrou um jovem sacerdote, o frei Gilson, de 38 anos, assim
como ele um fenômeno na internet – Lancellotti tem 2,2 milhões de seguidores no
X e Gilson, 9,3 milhões.
Foi então que o sacerdote, que ao lado de Betto é um símbolo da Igreja progressista, a da opção preferencial pelos pobres, disse ao Estadão. “Eu que sou mais velho tenho uma teologia mais ligada ao (Concílio) Vaticano 2.º. E os jovens uma teologia mais tradicional. Quando eu tinha a idade dele ( Gilson) essa teologia era dos mais idosos. Agora, são os mais velhos que têm uma teologia mais inter-religiosa, mais aberta para o mundo. Os da minha geração éramos mais afinados com o papa Francisco do que os mais jovens.”
Quem quiser saber se a constatação do padre é
verdade basta ler o livro O Novo Rosto do Clero, do pesquisador Agenor
Brighenti, professor e pesquisador da PUC-PR. A igreja de Medellín, de Puebla,
com seu foco na evangelização e na libertação, cedeu espaço à dos padres com
uma perspectiva mais institucional e carismática, o que é visto pelo autor como
um reflexo dos papados de João Paulo II e Bento XVI. Trata-se de um clero em
busca de referenciais seguros nos sacramentos e na tradição em meio à
insegurança de critérios e de valores. Ele privilegia o perfil sacerdotal em
relação ao profético ou se desloca, no caso dos carismáticos, da militância dos
anos 1970 para a “mística na esfera da subjetividade individual”, na qual o
sagrado impõe sua força pela sedução.
A pesquisa feita pelo autor e seus
colaboradores ouviu padres de todo o Brasil e mostrou as diferentes convicções
dos grupos. Para os padres novos, o que está piorando no mundo atual (28,4%) é
o individualismo, além da “crise do sentido da vida, com seu vazio existencial”
(20,9%). Já os sacerdotes dos anos 1970 citam também o individualismo (20%),
mas ele está quase empatado com as condições de vida dos pobres, migrantes e
favelados (16,8%), o que é apontado só por 1,5% dos novos. Há também
concordâncias entre eles – e não apenas no credo. Os dois grupos criticam
igualmente o “distanciamento da religião e dos valores cristãos” – novos 19,4%
e velhos 17,9%.
Em Roma, muitos dos cardeais que vão eleger o
novo papa são de uma geração intermediária entre os “novos” e os “velhos”. Daí
porque tantos falam que o futuro pontífice deve ter um perfil conciliador. Eles
sabem o que se passa nas sacristias. •
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