O Estado de S. Paulo
Destruição de Fordow é necessária, mas só mudança de regime evitaria que Irã obtenha a bomba
Ao ordenar o bombardeio das instalações
nucleares iranianas, Donald Trump tomou a decisão potencialmente mais
importante de sua presidência, que poderá moldar sua biografia política. A
destruição da instalação de Fordow é condição necessária, mas não suficiente
para impedir o Irã de obter bombas nucleares: seria necessária a mudança de
regime.
Trump construiu sua carreira política sobre a promessa de desengajar os EUA de “guerras infinitas” como a do Afeganistão e do Iraque, que mataram 7 mil soldados americanos e consumiram US$ 2 trilhões. Por outro lado, ele nutre há décadas uma repulsa à proliferação nuclear – desde que seu tio, físico nuclear, explicou-lhe na juventude o que ela significava – e simpatia por Israel.
Esses três pilares de sua visão de mundo
entraram em conflito. A montanha de Fordow abriga a cascata de centrífugas mais
avançada do Irã, a uma profundidade de 800 metros, protegida por concreto,
segundo o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael
Grossi. Só vários disparos das bombas GBU-57, por bombardeiros B2, ambos
americanos, são capazes de penetrar essa estrutura.
O envolvimento direto dos EUA pode levar o
Irã a retaliar contra 40 mil militares americanos no Oriente Médio, seja com
mísseis, drones ou ataques terroristas. O Hezbollah estreou em 1983 com dois
atentados com caminhões-bomba no aeroporto de Beirute, que mataram 241
americanos e 58 franceses, por ordem do Irã.
Ataques a americanos obrigarão Trump a
ordenar uma retaliação. Uma reação em cadeia pode levar à guerra direta. A
destruição das instalações nucleares vai retardar o programa, mas o ataque
reforça a motivação dos nacionalistas de o retomar e militarizar.
Só a instalação de um regime não beligerante
garantiria a desistência do Irã. Entretanto, mudança de regime é uma tarefa
sangrenta, cara e incerta, como demonstram o Iraque, Líbia, Síria e
Afeganistão, embora seus regimes fossem odiados por suas populações.
O acordo com o Irã firmado por Barack Obama
em 2015 limitou o enriquecimento de urânio a 3,67%, suficiente para geração de
energia elétrica, e a 300 kg. Trump rompeu o acordo em 2018 e exige que o Irã
abdique do enriquecimento e do programa de mísseis, o que o país encara como
afronta a sua soberania. A aposta de Trump é que, diante dos ataques
israelenses e agora americanos, o Irã aceite essa condição. Quanto ao risco de
expansão, a China se beneficia do petróleo e a Rússia, dos drones iranianos,
mas nada disso justifica se envolverem em uma guerra. •
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