Folha de S. Paulo
Direitão aprova leis ruinosas, faz chantagem
e acha que Dino e Lula conspiram para segurar dinheiro
Depois de voltarem
das férias juninas e julinas,
os parlamentares devem tratar da isenção
do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês. O governo quer
compensar essa isenção cobrando imposto de mais ricos.
Na atual pindaíba, seria o caso de cobrar imposto de rico e não isentar ninguém, mas isso é devaneio. Realista é estimar que o direitão do Congresso talvez aprove a isenção sem providenciar receita para cobrir o buraco. "Talvez": a depender da conjuntura político-eleitoral, pode ser que não se dê essa lambuja a Luiz Inácio Lula da Silva.
A derrubada
de vetos presidenciais na semana passada foi assustadora até para quem
já dá de barato o comportamento político desclassificado, bucaneiro e
ignorante.
Os votos
encareceram a conta de luz e apodreceram ainda mais o setor elétrico.
Subsídios e reservas de mercado impedem que se planeje a expansão do
fornecimento de energia com base em necessidades de consumo, em preços, na
operação segura do sistema de trânsito de eletricidade, em adoção de tecnologia
nova e na aplicação racional de investimento. É um desastre.
Lula 3 é o governo mais minoritário no
Congresso em termos numéricos e ideológicos desde a redemocratização. A
articulação política é incapaz. A popularidade
do presidente é baixa. O governo pedincha dinheiro a cada quatro meses, por
aí, a fim de cobrir parte do aumento irresponsável de despesa, o que o sujeita
a mais chantagem e golpes.
O governo apanha por motivos variados, pois,
até por ser incompetente. Mas, desde fins de 2024, o principal motivo é falta
de dinheiro para emendas parlamentares. Flávio Dino, ministro do STF, tenta
diminuir a vergonheira. O pagamento encrencou. O direitão que domina o
Congresso acredita de fato que governo e Dino conspiram para fechar a torneira.
Emenda, essa gorjeta gorda paga por maus
serviços, é uma graxa que faz o parlamento rodar desde pelo menos a
Constituição de 1988. Difícil dizer que legislaturas recentes sejam mais
negocistas do que antecessoras, por falta de medida, não de mau cheiro. No que
dá para medir, há mais dinheiro reservado para a graxa das emendas do que em
quase todos os ministérios. Há menos estatal para se fazer farra.
Logo, emenda é a alma do negócio, renda
complementada por fundo eleitoral e partidário. Hoje em dia, dado o fim oficial
do financiamento empresarial de campanhas, acredita-se que não existam mimos de
lobbies. Né.
Assim, mesmo que houvesse lideranças
parlamentares prestantes, elas seriam tragadas pela necessidade de administrar
a repartição das emendas, sem o que não se manda nem no café do Congresso. O
neocoronelismo se entrincheira, a "base eleitoral" do deputado se
torna feudo ou capitania bancada por emendas, que alimentam familismos,
dinastias pebas, prefeitos agregados e também roubança.
Os mandões do Congresso ora tentam
reorganizar o sistema de distribuição de dinheiro e, assim, a funcionalidade
perturbada da troca de votos por favores para o feudo. Novas demandas de Dino
podem encrencar um acordão que, se previa, funcionaria depois da metade do ano.
A dúvida é saber se dinheiro basta ou começou a campanha de destruir governo e
país, país que tem de se rebelar contra essa gente.
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