O Globo
A esquerda brasileira, especialmente o PT,
nascida da Teoria da Libertação, não encontrou o respaldo permanente na Igreja
Católica e, juntamente com ela, perdeu espaço no seio dos desvalidos
Se juntarmos a multidão de milhões de
evangélicos reunida na Marcha para Jesus com a pesquisa DataFolha que mostra
que a maioria dos brasileiros prefere o trabalho independente a ter carteira
assinada, teremos um bom retrato da realidade brasileira. A esquerda brasileira
não entendeu ainda o que se passa na cabeça dos brasileiros de classe média,
que procuram um sentido de prosperidade pessoal em seu trabalho e em sua
religião.
Segundo a pesquisa, os trabalhadores que ganham até dois salários-mínimos, onde o PT predomina, são aqueles que preferem a carteira assinada. A maioria dos que preferem um trabalho autônomo para ganhar mais é de eleitores do PL, partido do ex-presidente Bolsonaro. O último censo mostrou que os evangélicos continuam crescendo, embora em ritmo menor, e a teoria da prosperidade, vendida por pastores menos ortodoxos, encontra mentes ávidas por uma saída do cotidiano de precariedade.
A esquerda brasileira, especialmente o PT,
nascida da Teoria da Libertação, não encontrou o respaldo permanente na Igreja
Católica e, juntamente com ela, perdeu espaço no seio dos desvalidos. Há
indícios de que a freada na queda dos católicos no país, registrada no mais
recente censo, deve-se à atuação do papa Francisco que, sem ser um adepto da
Teoria da Libertação, agiu entre os desvalidos com mais frequência do que seus
antecessores, retomando o caminho do concílio Vaticano II, com especial atenção
à evangelização e à justiça social.
Da mesma maneira que a Igreja Católica
refreou a Teoria da Libertação por sua politização, a politização das igrejas
evangélicas está chegando a tal ponto que provoca uma evasão de fiéis para
igrejas mais tradicionais, que vendem a espiritualidade em vez da prosperidade
inatingível. Esta é uma das principais razões, segundo especialistas, da
redução da perda de fiéis católicos e do baixo crescimento dos evangélicos no
país, que se esperava muito maior. Os católicos continuam sendo majoritários,
com 56,7% da população, enquanto os evangélicos são 26,9%. Se continuassem na
progressão registrada, os evangélicos hoje estariam em torno de 30%, e
crescendo.
A Marcha para Jesus é exemplar de um
movimento religioso aparelhado por pastores políticos e políticos populistas
que misturam a fé religiosa com objetivos eleitorais. A rejeição da maioria às
pseudo garantias da CLT mostra que os novos trabalhadores preferem se virar em
diversas atividades autônomas do que ter patrão. Pode ser um sonho inatingível,
mas é o que move a maioria em busca de uma vida melhor.
Na Marcha para Jesus, não havia apenas os
políticos de direita, mas também de centro-direita, como Gilberto Kassab, que
anda se equilibrando entre o apoio a Bolsonaro, para ver o governador de São
Paulo Tarcísio de Freitas ungido candidato, e o de Lula, que dá ao PSD alguns
ministérios tentando atrai-lo para sua recandidatura. Até o evangélico ministro
Jorge Messias, da Advocacia-Geral da União (AGU), estava no palanque e
discursou, sem citar o PT ou Lula.
Há oito anos, o Instituto Perseu Abramo,
ligado ao PT, fez uma pesquisa que mostrou que os eleitores da periferia de São
Paulo deixaram de votar no PT porque consideravam que o governo tem uma
ingerência excessiva na vida dos cidadãos, cobra muito imposto e trava a
evolução do cidadão com uma burocracia desnecessária. Já naquela ocasião estava
clara a tendência majoritária dessa percepção que, como estamos vendo, tem
validade para a maioria dos cidadãos brasileiros, e piora a situação do PT com
a acusação de que o governo vive de cobrar impostos. Exatamente por isso, e não
porque quer equilibrar as contas públicas, que a oposição se coloca contrária
ao aumento de impostos, embora não dê soluções alternativas nem corte seus
próprios gastos.
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