O Estado de S. Paulo
Sem planejamento e sem rumo claro, o
presidente aposta nos gastos e no populismo para preservar seus seguidores
Juros altos, baixo investimento, inflação bem acima da meta e economia sem perspectiva de longo prazo marcam o cenário a pouco mais de um ano das eleições. Sem planejamento e sem rumo claro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta nos gastos e no populismo para preservar seus seguidores – e parece ter algum sucesso, neste momento, principalmente entre os mais pobres. Pesquisas, no entanto, indicam empate no segundo turno e elevada rejeição. Por enquanto, a economia avança, embora menos velozmente do que no primeiro trimestre, mas os preços no varejo permanecem desarrumados e as projeções de inflação seguem elevadas.
Somado à insegurança das contas públicas, o
persistente aumento de preços motivou mais uma elevação de juros pelo Banco
Central (BC), desta vez para 15%, a maior taxa desde 2006. O novo aperto
monetário parece defensável quando a mediana das expectativas aponta inflação
de 5,25% neste ano e 4,50% no próximo, segundo o Boletim Focus. Boa safra, com
boa oferta de comida prevista para o resto do ano, deveria, segundo o senso
comum, estar associada à perspectiva de um custo de vida mais leve e mais
favorável a todos os grupos de renda. Mas o senso comum pode estar
menosprezando ou ignorando alguns fatores importantes, como a insegurança
internacional e os possíveis efeitos inflacionários da corrida eleitoral no
Brasil.
Do lado externo, pesam as possíveis
consequências dos conflitos no Oriente Médio. O preço do petróleo Brent subiu
14% em uma semana, até a última quinta-feira, inflado pelo receio de problemas
no estreito de Ormuz. Também é preciso levar em conta as ações aparentemente
voluntaristas do presidente Donald Trump, às vezes imprevisíveis, mas com
frequência relevantes por seus efeitos internacionais.
Internamente, a antecipação da campanha
eleitoral pode afetar os mercados e favorecer a elevação dos preços. O
presidente Lula está claramente empenhado na corrida, embora insinue, de vez em
quando, a possível disposição de renunciar à disputa. A busca de uma reeleição
pode ser muito custosa para os contribuintes e, de fato, para o conjunto dos
cidadãos, quando a gestão pública se volta para a captação de votos.
Iniciativas populistas, como isenções fiscais e energia gratuita para certos
grupos, elevam os encargos do setor público sem resultar em prosperidade
sustentável para o conjunto da população.
Projeções do mercado indicam expansão
econômica pouco acima de 2% neste ano e pouco abaixo desse nível em 2026. As
estimativas do governo são pouco mais otimistas. Recentemente a Secretaria de
Política Econômica do Ministério da Fazenda aumentou de 2,3% para 2,4% o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) esperado para este ano. Para 2026
foi calculada uma expansão de 2,5%, um desempenho medíocre, segundo os padrões
internacionais, para uma grande economia emergente.
O fraco desempenho econômico deve ainda ser
acompanhado, neste e nos próximos anos, por inflação elevada e muito distante
dos 3% fixados como centro da meta oficial. Preços desarranjados e contas
públicas inseguras deverão motivar juros ainda elevados e desfavoráveis a uma
economia mais dinâmica e mais propícia ao emprego produtivo. Talvez o resultado
eleitoral do próximo ano altere as condições da política econômica, mas é muito
cedo para discutir essa possibilidade. Não há sinal, sequer, de alguma candidatura
viável, associada a um programa de renovação econômica. As forças políticas
mais atuantes e mais visíveis, neste momento, pouco têm contribuído com ideias,
programas e projetos de renovação.
O baixo ritmo dos investimentos produtivos
combina com o cenário político e com a pobreza de perspectivas. A taxa de
investimento passou de 17,1% do PIB para 17,8% entre o quarto trimestre do ano
passado e o primeiro deste ano. Essa relação raramente superou 18% na maior
parte deste quarto de século. Mesmo quando superado esse limite, a parcela do
PIB investida em meios físicos, como equipamentos, máquinas, instalações
produtivas e obras de infraestrutura foi insuficiente para afetar de forma
significativa o ritmo e as perspectivas de expansão econômica do País. O custo
do capital pode favorecer ou dificultar a aplicação produtiva de recursos. Nos
últimos 20 anos, no entanto, os juros oscilaram amplamente e o investimento
produtivo nunca deslanchou, continuando longe dos padrões observados na segunda
metade do século passado.
Não basta o governo aumentar alguns
investimentos em áreas escolhidas segundo conveniências de autoridades. Nas
democracias, crescimento para valer, bem orientado e duradouro, resulta mais
facilmente de condições políticas e administrativas seguras e com
desenvolvimentos previsíveis. O presidente Lula tem experiência política
suficiente para entender esse fato e reconhecer as condições necessárias à
aplicação produtiva de capitais. Mas essa experiência e esse conhecimento podem
ser ofuscados, em pouco tempo, quando o governante cede ao imediatismo e ao
impulso das ações eleitoreiras e populistas.
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