Folha de S. Paulo
Lula cria as próprias dificuldades ao
persistir nos erros com absoluta certeza de que está certo
Autoconfiança é uma coisa, mas a capacidade
de errar com absoluta convicção é diferente e geralmente senta praça na
antessala do infortúnio.
É o risco que corre o presidente Lula (PT) ao insistir em
dar murros na ponta das evidências como se a elas cumprisse o dever de se
dobrar a vontades e realizar expectativas.
O governo gasta o dobro do que arrecada, não entrega um bom serviço e ainda se arvora o direito de aumentar impostos sob a rubrica da justiça social recentemente convocada para dar a Lula ares de Robin Hood.
Uma infantilização do eleitorado com
repetição de artifícios e retórica que envelheceram duas décadas. O entorno de
operadores inoperantes e temerosos de contrariar o chefe não ajuda o presidente
a sair do lugar de quem acredita ter chegado até aqui por obra da inspiração
divina que mais uma vez não lhe faltará.
Na terra dos homens não funciona assim. De um
presidente da República esperam-se resultados, competência para liderar um
projeto de país, habilidade de ultrapassar obstáculos na construção de
consensos e disposição de abraçar o interesse nacional em detrimento de suas
certezas pessoais.
Lula não entrega nada disso e, mesmo assim, acha que
bastam seu desejo e obsessão para lhe garantir mais um mandato na Presidência,
sem que ofereça à sociedade boas perspectivas para um novo período a partir de
2027.
Ele atribui as dificuldades atuais a crises,
à oposição inclemente e à maioria hostil no Congresso. Crises nascidas todas no seio do governo;
oposição no papel que já foi do PT;
e um Parlamento que lhe deu todas as chances no primeiro ano, mas foi deixado à
própria sorte enquanto o então (ainda) comandante do jogo tentava se firmar
como liderança internacional.
Sim, há em cena o poder do Legislativo, mas
há, sobretudo, a impopularidade de Lula, cujo capital ele deixou erodir criando
o ambiente propício à sublevação dos congressistas de início aliados. Se há
tempo de recuperar, cabe ao presidente demonstrar se consegue mudar.
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