Folha de S. Paulo
Lula não consegue reverter avaliação negativa
porque não olha para o lado certo do problema
Ministros ouvidos na última semana sobre
a resistência
da opinião pública em conferir crédito de confiança ao governo, e com
isso inverter a curva da desaprovação versus aprovação nas pesquisas,
insistiram no argumento de que o problema são os outros.
Na versão deles, é a população que não compreende o quanto tem sido beneficiada, a comunicação que precisa ser ajustada, a oposição que não dá trégua e os revezes sofridos pelo presidente Lula (PT) —que são muitos e difíceis de enfrentar.
Primeiro foi a inflação, a
explosão do dólar e depois as crises do Pix, do INSS e
do IOF.
Antes disso, a revolta com a taxa das blusinhas e um Congresso
Nacional que não ajuda ao interditar a política do equilíbrio das
contas pela via da arrecadação.
Nada disso foi culpa do alheio. Todas as
crises foram gestadas pelo governo que as criou, aumentou (caso das fraudes no
INSS) ou não soube gerenciá-las de modo a arrefecer seus efeitos.
Nesse cenário pintado com as tintas da benevolência, o governo ocuparia lugar
de vítima das circunstâncias.
Fernando
Haddad corroborou essa ideia ao fazer repetidas referências ao
"sofrimento" que vive no Ministério
da Fazenda. O próprio Lula, em raro dia de baixo-astral na viagem à França,
disse que se sentia "enxugando gelo".
Não deixa de ter razão. Foram muitos os
anúncios de medidas nas quais o governo jogou as fichas para apostar na
recuperação: isenção de imposto de renda, redução de jornada de trabalho, luz e
gás de graça para os mais pobres, ampliação de empréstimo consignado, crédito
para reforma de imóveis, PEC da Segurança e por aí vão as tentativas de dar ao
público uma sensação de conforto.
Nada disso serviu para melhorar a percepção
de desconforto.
A surpresa não são tais providências não
terem dado os resultados esperados pelo governo, mas sim que gente adulta,
rodada na política, achasse possível recuperar, com meros auxílios e fórmulas
antigas, o terreno perdido em dois anos de esforços para arruinar o capital
conquistado na eleição.
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