terça-feira, 10 de junho de 2025

Equipe econômica chegou à forma autoaplicável de redução linear de 10% do gasto tributário – Míriam Leitão

O Globo

Por Luciana Casemira

A equipe econômica desenvolveu uma forma autoaplicável de reduzir linearmente 10% do gasto tributário, que somam cerca de R$ 800 bilhões. No entanto, o acerto feito na reunião neste domingo, a casa do presidente da Câmara, Hugo Motta, para ser editada uma lei complementar e não uma PEC como estava previsto, tira desse pacote a Zona Franca de Manaus que representa uma importante renúncia, revelou uma fonte ao blog na manhã desta segunda-feira. Na visão do governo, as propostas discutidas nesse domingo trocam o IOF, imposto que admitem pode causar distorções, por medidas que acabam com distorções do mercado e podem trazer aos cofres públicos montante igual ou até maior de recursos.

Segundo essa fonte, o corte linear nos gastos tributários foi bem recebido pelos líderes, especialmente, os presidentes das duas Casas. A grande preocupação da equipe era aprovar a medida e ela não ser implementada, por isso, é importante ter chegado a uma fórmula que permita que a redução dos benefícios fiscais seja autoaplicável.

— A gente achou um jeito de ter regras para cada tipo de benefício e dizer, por exemplo, se o benefício é uma isenção, ele vai ser tributado com a alíquota equivalente a 10% da alíquota cheia. Regras para tudo, está bem organizado. Temos uma estrutura que funciona, agora o que precisa ser negociado com o Congresso, o que vai entrar e o que não vai. Mas a proposta é que entrem todos os gastos tributários. Talvez não se consiga cortar todos os benefícios, mas vamos cortar um pouquinho de todo mundo, para todos fazerem o esforço necessário para arrumar as contas públicas. Fora dos R$ 800 bilhões mapeados pelo relatório de gastos tributários, há outras renúncias que não são irrelevantes - explicou uma pessoa próxima às negociações ao blog.

Outra informação importante é que a tributação de 5% sobre os títulos que antes eram isentos não vai poupar ninguém. Valerá para LCA, LCI, CRI, CRA, para todos. A taxação, no entanto, só valerá para títulos e letras de crédito emitidos após 31 de dezembro deste ano. Tudo que for emitido até esta data, todo o estoque, terá a isenção de tributação preservada, independentemente da data de vencimento. Também será mantido o benefício para a negociação desses títulos no mercado secundário.

- Então, se você comprou um título que está isento, ele vence só ano que vem, o rendimento dele continua isento para você e se você vender o título no secundário também para quem comprou. A tributação só valerá para novas emissões - antecipa essa fonte.

As propostas levadas pela equipe econômica para a mesa de negociação contemplam ainda a alteração da tributação de aplicações financeiras, que seria a terceira etapa da reforma da renda, explica essa fonte. Atualmente, os tributos sobre aplicações financeiras variam de 15% a 22,5%. A medida unifica a tributação em 17,5%, acabando com a alíquota regressiva.

- Como a gente vai ter uma alíquota uniforme para todos os produtos agora, mas vai permitir livre compensação de ganhos e perdas entre aplicações financeiras, o que hoje é vedado. Então, se você perder o dinheiro em uma aplicação, você vai poder compensar com o ganho que teve na outra e pagar menos imposto.

Estopim da crise, o IOF também foi alvo de mudanças relevantes, antecipou a fonte ao blog.

Confira:

IOF risco sacado: A queixa do mercado era o custo dessas operações de curto prazo, que se renovam a cada 30, 45 dias, subiria muito. A proposta atual retira a alíquota fixa de 0,95%, que tinha sido estabelecida pelo decreto, e mantém apenas a taxa variável. Isso faz com que o impacto no custo do crédito para o devedor caia em 80%.

IOF pessoa jurídica: Foi mantida a alíquota variável e reduzida a fixa de 0,95% para 0,38%

IOF no câmbio: A equipe fez mais uma exceção à regra de 3,5% na saída de recursos de quem investiu dinheiro no Brasil, comprou uma empresa, por exemplo, a hora que tirava o dinheiro, estava sendo tributado a 3,5%, essa tributação foi zerada para não ter impacto no investimento estrangeiro no Brasil.

FDICs: Desde o anúncio das mudanças do IOF, a equipe econômica vem recebendo relato dos bancos de migração de recursos para FDICs, fundos não regulados pelo Banco Central. Para reduzir essa migração, esses fundos passam a ser tributados em 0,38% na entrada do dinheiro na aplicação.

VGBL: A partir de 2025, haverá isenção para um limite de aporte de R$ 600 mil por pessoa por ano no VGBL. Com essa mudança, explica a fonte, 99,3% das pessoas que hoje aportam no VGBL continuarão isentas. O tributo vai pegar só os 0,7% responsáveis por um terço dos aportes no VGBL. Para 2025, foi construída uma regra de transição que garantirá isenção no limite de R$ 200 mil aplicados por segurado até o fim do ano. Ano que vem, passa a vigorar um limite anual de 600 mil para todos os aportes, somando as seguradoras.

Ainda não há cálculo que determine o valor de cada uma das medidas. As propostas serão apresentadas ao presidente Lula, que chega ao Brasil na noite desta segunda-feira. Portanto, não há previsão de detalhamento público de medidas nesta segunda.

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