terça-feira, 10 de junho de 2025

O dilema da direita - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Melhor chance de conservadores seria sair com candidato que rejeitasse Bolsonaro, mas fazê-lo poderia custar passagem para o segundo turno

Lula experimenta problemas de popularidade e cientistas políticos se perguntam se a outrora incontestável vantagem do incumbente em eleições continua funcionando a pleno vapor. Nos últimos tempos, assistimos a vários pleitos em que o fato de estar no poder operou mais como ônus do que como bônus para o ocupante do posto que buscava a reeleição.

Ainda assim, é arriscado apostar contra a força da máquina do governo federal. É difícil imaginar um cenário em que Lula ou outro candidato situacionista não sejam pelo menos competitivos em 2026. É só lembrar que, em 2022, Jair Bolsonaro, mesmo carregando nas costas a pecha de golpista e a gestão desastrosa da pandemia, ficou apenas 1,8 ponto percentual atrás de Lula.

Diante desse quadro, a melhor chance de a direita retomar a Presidência seria sair com um candidato de menor rejeição, capaz de atrair para si a parcela de eleitores independentes insatisfeitos tanto com o ex-presidente como com o atual.

Em português claro, a direita deveria dar um pé na bunda de Bolsonaro. Ao fazê-lo, ampliaria sua probabilidade de êxito no segundo torno (o que importa), dado que ao eleitor bolsonarista não haveria alternativa que não votar em qualquer coisa contra o PT.

A pergunta que se impõe então é por que não dão esse pé na bunda? A culpa é do equilíbrio de Nash.

Praticamente nenhum dos pré-candidatos da direita ousa se insurgir contra Bolsonaro porque fazê-lo unilateralmente significaria receber o veto do capitão reformado, o que poderia custar a passagem para o segundo turno.

O resultado disso é que os pré-candidatos da direita tentam rezar para dois senhores. Acenando para os independentes, falam em superar a polarização, mas, num tributo aos extremistas, prometem indultar Bolsonaro em caso de vitória.

Ainda que tal cálculo faça sentido eleitoral, ele é péssimo para as instituições. Apenas flertar com um indulto a quem tentou subverter o resultado de uma eleição já significa reduzir a democracia a mero atalho na disputa pelo poder.

 

 

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