Folha de S. Paulo
Melhor chance de conservadores seria sair com
candidato que rejeitasse Bolsonaro, mas fazê-lo poderia custar passagem para o
segundo turno
Lula experimenta problemas
de popularidade e cientistas políticos se perguntam se a outrora
incontestável vantagem do incumbente em eleições continua
funcionando a pleno vapor. Nos últimos tempos, assistimos a vários pleitos em
que o fato de estar no poder operou mais como ônus do que como bônus para o
ocupante do posto que buscava a reeleição.
Ainda assim, é arriscado apostar contra a força da máquina do governo federal. É difícil imaginar um cenário em que Lula ou outro candidato situacionista não sejam pelo menos competitivos em 2026. É só lembrar que, em 2022, Jair Bolsonaro, mesmo carregando nas costas a pecha de golpista e a gestão desastrosa da pandemia, ficou apenas 1,8 ponto percentual atrás de Lula.
Diante desse quadro, a melhor chance de a
direita retomar a Presidência seria sair com um candidato de menor rejeição,
capaz de atrair para si a parcela de eleitores independentes insatisfeitos
tanto com o ex-presidente como com o atual.
Em português claro, a direita deveria dar um
pé na bunda de Bolsonaro. Ao fazê-lo, ampliaria sua probabilidade de êxito no
segundo torno (o que importa), dado que ao eleitor bolsonarista não haveria
alternativa que não votar em qualquer coisa contra o PT.
A pergunta que se impõe então é por que não
dão esse pé na bunda? A culpa é do equilíbrio
de Nash.
Praticamente nenhum dos pré-candidatos
da direita ousa se insurgir contra Bolsonaro porque fazê-lo
unilateralmente significaria receber o veto do capitão reformado, o que poderia
custar a passagem para o segundo turno.
O resultado disso é que os pré-candidatos da
direita tentam rezar para dois senhores. Acenando para os independentes, falam
em superar a polarização, mas, num tributo aos extremistas, prometem indultar
Bolsonaro em caso de vitória.
Ainda que tal cálculo faça sentido eleitoral,
ele é péssimo para as instituições. Apenas flertar com um indulto a quem tentou
subverter o resultado de uma eleição já significa reduzir a democracia a mero
atalho na disputa pelo poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário