segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna*

Paixões e interesses à parte, estaremos no tempo que se abre adiante no terreno áspero e difícil das transições em que não é mais noite e o dia ainda não chegou, cabendo à política bem compreendida acelerar sua festiva aparição. Contudo não poderemos fechar os olhos aos perigos que nos rondam, pondo em xeque a singular cultura que aqui criamos, nós brancos, índios e negros, tudo erraticamente misturado, sem identidade definida, porque somos, como sustentava o gênio de Euclides da Cunha, uma construção voltada para futuro em busca da realização de ideais civilizatórios. O Brasil não pode ser uma cabeça de ponte na nuestra América para o fascismo em qualquer dos disfarces com que se apresente.

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* Sociólogo, PUC- Rio. “Transições”, O Estado de S. Paulo, 2/9/2018

Marcus André Melo: O voto útil e os institutos de pesquisa

- Folha de S. Paulo

As elites partidárias falharam, com os eleitores será diferente?

Em "Os Partidos Políticos" (1951), Maurice Duverger apresentou a análise pioneira do voto estratégico ou sofisticado, que no léxico político brasileiro passou a ser conhecido como voto útil. Sua principal preocupação era examinar o efeito das regras eleitorais sobre os sistemas partidários.

A chave analítica foi a distinção entre o que chamou efeito mecânico das regras eleitorais e seu efeito psicológico.

Duverger introduzia na análise os incentivos que as regras eleitorais criam para os eleitores. Em sistemas majoritários de distrito uninominal ("voto distrital"), só partidos que agreguem as primeiras preferências dos eleitores adquirem representação. Este efeito mecânico se expressa na sub-representação de partidos minoritários. Contudo, ele é antecipado pelos eleitores que têm incentivos a votar estrategicamente de forma a obter um resultado mais próximo de suas preferências.

O efeito conjunto de ambos os mecanismos produz uma redução do número de partidos, levando ao bipartidarismo. Sob a representação proporcional (RP), o efeito é distinto: os eleitores têm incentivos ao chamado voto sincero na medida em que partidos não-majoritários adquirem representação e podem participar de coalizões governativas.

Fernando Gabeira: Estreitos horizontes

- O Globo

Não sei quanto custará tirar o nome dos devedores do SPC. Só sei que é mais uma sedução pelo consumo

Uma das coisas de que não gosto nessas minhas viagens semanais é me sentar na poltrona do meio. São trechos longos, como Macapá ou Boa Vista-Rio. Preciso trabalhar, mas o espaço fica muito contraído, e detesto incomodar o sonolento vizinho do corredor quando preciso ir ao banheiro.

Jamais pensei que faria um texto cujo tema é o assento 23B. Mas essa sensação de estar meio espremido, sem horizontes, lembrou-me de minhas inquietações espaciais na Rússia.

Fotografei muitos prédios em todos os estilos, mas queria ressaltara arquitetura stalinista, sobretudo um grupo de arquitetos surgidos na época do Plano Diretor, quando tudo deveria se submeter aos desígnios do Estado.

Os intelectuais eram chamados de engenheiros das almas, e esse grupo de arquitetos projetou inúmeros prédios onde tudo era coletivo. Todos os que conhecem a história recente da Rússia sabem que a vidas e tornou muito difícil nessa atmosfera desenhada e que as pessoas costumavam até comer na cama, desesperadas por uma nesga de privacidade.

Vejo agora que uma escola de Tocantins, da cidade de Formoso do Araguaia, ganhou um prêmio internacional de arquitetura, o melhor prédio escolar do ano. As fotos das estruturas de madeira são bonitas. A história, mais reveladora ainda. O projeto da escola, na Fazenda Canuanã, foi realizado pelo designer Marcelo Rosenbaum e o escritório de arquitetura Aleph Zero.

Os autores contaram coma ajudados alunos que moravam no prédio e indicaram as linhas por onde deveria ser melhorado. Eles diziam que moravam na escola. Agora, não dizem mais. Um traço da mudança foi abrir mais espaços para a privacidade individual.
Portanto, o êxito dos arquitetos brasileiros avançou exatamente no sentido oposto ao dos stalinistas. Certamente, foram ajudados pela opinião dos estudantes.

Cacá Diegues: O modelo das desigualdades

- O Globo

A gente dá aos cidadãos de 5ª classe um cantinho para dormir, lhes dá de beber e de comer, para que sigam servindo à nação

Quando falamos do Brasil, a palavra que mais usamos, hoje em dia, é crise. Podemos enfeitar o papo com eufemismos mais classudos, tipo recessão, mas a ideia segue sendo a mesma. Queremos sempre nos referir ao que nos aconteceu, depois de 18 anos de justa esperança durante os governos de Itamar, FHC e Lula, quando o país crescia a uma taxa média de cerca de 5% a 7% ao ano.

Quando Dilma Rousseff sofreu o impeachment, a inflação já chegara a quase 10%, a taxa de juros a 15%, e mais de 11 milhões de brasileiros estavam desempregados. Michel Temer assumiu o governo e, nos seus cerca de dois anos de mandato, esses números só fizeram se agravar, mesmo que à sombra de uma pequena recuperação da economia.

No resto do mundo, a coisa também anda feia, mas nem sempre pelos mesmos motivos. Na África, as guerras elevaram o número de crianças mortas por violência para cinco milhões em 20 anos, além da desnutrição e de doenças que estão sob controle em outras regiões do planeta. O que temos em comum com os países africanos é a absoluta desigualdade provocada pela falta de oportunidades para todos e pelas ideias que foram construídas sobre essa desigualdade.

As desigualdades cultivadas na sociedade brasileira, uma perversão que vem desde a chegada dos europeus por aqui, com sua economia baseada no trabalho escravo, podem acabar com a noção que nós pretendemos ter de nação. Nada impede que, seguindo em frente nessa trama nacional, um dia acordemos com a mais radical divisão social em nosso país, praticada através da expulsão dos indesejados ou de genocídios purificadores. Poderemos até pensar, quem sabe, na restauração da escravidão no país, como única solução para, digamos, a crise fiscal ou coisa parecida.

Vinicius Mota: Faça como FHC, dê seu palpite eleitoral

- Folha de S. Paulo

Por enquanto, prever o resultado da disputa presidencial é como apostar num cassino

Bolsonaro, Marina, Ciro, Alckmin e Haddad. Vai ficar com um desses cinco, parece, a faixa presidencial. Quais são as chances de cada um ainda é difícil avaliar.

Parta do básico, prega a boa técnica, e atualize os cálculos com as informações que surjam. Na largada, cada um tem 20% de chances de sagrar-se vencedor e 40% de estar entre os finalistas caso haja segundo turno.

Os dados das pesquisas eleitorais recomendam aumentar um pouco as probabilidades de Bolsonaro, Marina e Ciro chegarem à final, à custa das do tucano e do petista. A chance de vitória da candidata da Rede numa rodada decisiva também cresce.

É razoável supor que ainda subsista grande déficit de informações na massa do eleitorado acerca de quem são os postulantes. Essa lacuna será preenchida nas próximas cinco semanas, mas não de forma equânime.

Alckmin e Haddad, nessa ordem, serão bem mais expostos no rádio e na TV do que os outros três competidores. Nossa continha agora tem de rumar na direção contrária da que considerava só números de pesquisas.

Volta-se para perto da situação em que prever mal se distingue de lançar uma moeda esperando que dê cara.

Leandro Colon: TSE fez gol legítimo ao cassar Lula, mas levou olé na propaganda de TV

- Folha de S. Paulo

Ministros discutiram por trás das cortinas recuo que levou PT a driblar tribunal

O TSE fez um gol legítimo ao barrar o registro da candidatura de Lula, inelegível pela Lei da Ficha Limpa, e tomou nas horas seguintes um olé capaz de fazer qualquer bom zagueiro cair sentado no chão.

Passava de 1h de sábado (1º) quando os ministros decidiram sair de cena para discutir, longe do público, possível reviravolta de uma posição tomada pela maioria minutos antes.

Nada surpreende em Brasília nos dias de hoje, mas não deixa de ser inusitado que integrantes de tribunal superior interrompam julgamento transmitido a todo o país para trocar figurinha por trás das cortinas.

Não se sabe exatamente o que conversaram a portas fechadas. Apenas anunciaram, por meio da presidente, Rosa Weber, um recuo de uma decisão apoiada anteriormente por cinco dos sete ministros da corte eleitoral.

Era começo da madrugada e o TSE já havia votado por proibir a coligação do PT de participar da propaganda em rádio e TV até a substituição de Lula dentro do prazo de dez dias.

Fernando Limongi: Na primeira casa

- Valor Econômico

PT leva vantagem, mas é cedo para que saia cantando vitória

Lula, até o momento, deu de lavada nos adversários. Da prisão, comanda o show. O petista pode morrer na praia, mas é inegável que vem dando um baile em todos, incluindo este colunista. Entre o Datafolha da primeira semana de junho e o da semana passada, o ex-presidente pulou de 30 para 39 pontos na pesquisa estimulada, enquanto Jair Bolsonaro só galgou dois sofridos pontinhos, chegando a 19. Na espontânea, a arremetida Lula é ainda mais espetacular e significativa, atingindo 20, o dobro da última pesquisa. Seu perseguidor imediato passou de 12 a 15 pontos no mesmo período.

Os resultados de outros institutos trazem alguma variação, mas o retrato e as lições, como mostra o agregador de pesquisa do Jota, não variam significativamente. O PT avançou em passadas largas, Bolsonaro se moveu lentamente e os candidatos embaralhados no segundo pelotão (Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin) mal saíram do lugar.

O sucesso do petista gerou perplexidade e censura. Para os mais críticos, ao manter a candidatura do ex-presidente, o PT estaria flertando com a ilegalidade. A crítica erra o ponto. O partido não desafiou a ordem legal e não deu qualquer indicação de que ultrapassará a linha, afinal já definiu quem será seu verdadeiro candidato.

Lula não é o primeiro e nem será o último 'ficha suja' a se inscrever alegando inocência e se dizendo vítima de perseguição política. Este foi o caso do recém cassado Paulo Maluf, cujos votos foram inicialmente computados como nulos, mas acabaram resgatados e legalizados por uma operação capitaneada por Dias Toffoli e Gilmar Mendes.

Cida Damasco: Sem ajuste 'vapt-vupt'

- O Estado de S.Paulo

É preciso falar com franqueza sobre as mudanças que virão, além do pente-fino nos gastos

Em certos momentos, as propostas de campanha dos candidatos à Presidência da República dão a impressão de que será simples recolocar a economia brasileira na trilha do equilíbrio fiscal e, por tabela, do crescimento. Nos debates e sabatinas, candidatos de qualquer espectro político têm se comprometido a arrumar dinheiro cuidando das contas públicas como donas de casa diligentes e providenciando cortes em tudo que é gasto dispensável. Mais ou menos como, na roda de conversa da família e de amigos, alguém sempre lembra que, se não se roubasse tanto, daria para o País resolver todos os problemas na saúde, na educação, no saneamento e assim por diante.

O debate ganha ainda mais destaque quando se constata que a economia brasileira anda a passos lentíssimos – quando anda – sugerindo, à primeira vista, que estaria na hora de estímulos e não de aperto, como está implícito no ajuste fiscal. A estagnação da economia aparece com nitidez no desempenho do PIB há pelo menos três trimestres: crescimento zero nos últimos três meses de 2017, variação de apenas 0,1% no primeiro trimestre de 2018 e de 0,2% no segundo. Além disso, a taxa de investimento ficou em 16% do PIB no período abril/junho, pelo menos quatro pontos porcentuais abaixo do que é considerado o mínimo necessário para um país como o Brasil. Cálculos do Ministério do Planejamento apontam, num cenário básico, a necessidade de se aplicar 17,8% do PIB para garantir um crescimento médio de 2,3% ao ano entre 2019 e 2031, sendo 1,8% só para infraestrutura.

Angela Bittencourt: Lula inelegível não reduz risco eleitoral

- Valor Econômico

"Só há espaço para choque fiscal", avisa Wahba, da Garín

Hoje é feriado nos Estados Unidos pelo Dia do Trabalho. Portanto, um "quase" feriado global para transações financeiras. Na sexta-feira, é feriado no Brasil pelo Dia da Independência. Três dias de negócios no mercado local em funcionamento alternado com Wall Street são suficientes - a qualquer tempo - para que gestores e chefes de tesouraria assumam posições defensivas e travem os negócios até a segunda-feira seguinte. Desta vez, porém, empurrar os negócios pode não ser tão simples. O mercado tem novos riscos a administrar, a partir da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de rejeitar o registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às eleições de outubro e da limpeza de gavetas a ser feita pelo governo Michel Temer.

Na última semana, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) aumentou o preço do óleo diesel, congelado desde a greve dos caminhoneiros em maio e já há manifestações contra reajuste de 13% nas refinarias; a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) conseguiu realizar, na sexta, o leilão de energia correndo contra o tempo e ações judiciais; a equipe econômica detalhou e encaminhou ao Congresso o Projeto de Lei do Orçamento de 2019, que estabeleceu em R$ 1.006 o valor do salário mínimo a partir de janeiro, sendo que em abril uma nova regra de cálculo será discutida para o mínimo de 2020.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, formalizou a transferência, para 2020, do reajuste salarial dos servidores civis do Executivo e manutenção do reajuste do Judiciário em 2019, em troca da extinção do auxílio-moradia.

Alberto Aggio: Do antipetismo à antipolítica e suas diversas facetas

Nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015/16, havia de tudo. Dentre os diversos grupos que se manifestavam, havia um bastante ruidoso, com certo tom beligerante, agressivo, que advogava abertamente a intervenção militar, junto com alguns outros. Era o “Revoltados on-line”. De lá para cá, o que os animava se desdobrou para além do impeachment: eles passaram a se apresentar como a redenção da sociedade “contra a política que está aí”, entendida como integralmente manchada pela corrupção. Esse rechaço à política propugnava por uma ação “antipolítica”, identificando “todos os políticos” como corruptos. Para eles, esse era afetivamente o “mal do Brasil”. Aquilo que era latente na sociedade acabou sendo então promovido à uma estratégia política que se afirmava, sinteticamente, como uma visão da sociedade contra o Estado (políticos). No fundo, uma revolta da sociedade contra a política.

Esses grupos atuaram nas redes sociais como a oposição a tudo, semeando o ódio a tudo e a todos. Sua ação permanente extrapolou a oposição ao PT. Eles nasceram do antipetismo mas foram além disso. O resultado está aí na candidatura Bolsonaro. É ele quem mais expressa essa beligerância, identificando o ódio à política e à esquerda em geral, como se o petismo fosse a única esquerda existente. Política, esquerda, petismo, comunismo e até a socialdemocracia foram e são identificados como os males do Brasil que precisam ser extirpados.

Vindos daquele mesmo processo do impeachment, outros movimentos de 2015/16 também passaram a ocupar um lugar na política. Não é o caso aqui de discutir todos eles. Quero mencionar apenas o “Vem pra Rua”, um movimento antipetista mas que, de outras maneiras se postou também como antipolítico por meio da ideia de que sem mudar já e radicalmente o sistema político, não iria haver alternativa para o país. E mudar já e radicalmente significava deslocar a “velha classe política” e colocar em seu lugar “o novo”. Ao lançarem-se à disputa eleitoral, será o Partido Novo quem melhor irá expressar essa disposição. O resultado é, até o momento, menos exitoso em termos eleitorais, se compararmos com o “Revoltados On-line”. É uma adesão à antipolítica por outros termos e meios, mas curiosamente há coincidências entre ambos.

"Populismo se nutre da falsa ideia de que mundo vai mal, mas ele vai bem", diz Steven Pinker

Psicólogo defende que humanidade está em seu melhor momento, mas pessimismo nos confunde

Patrícia Campos Mello | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Enquanto o noticiário nos apavora com milhões de refugiados, guerras sangrentas e crianças famélicas, o psicólogo e linguista canadense-americano Steven Pinker persiste na cruzada para nos convencer de que o mundo nunca esteve tão bem.

Divulgar o progresso da humanidade, segundo ele, não é só um meio de corrigir uma visão distorcida que as pessoas têm do mundo. É uma urgência neste momento de ascensão do populismo autoritário.

Em seu livro mais recente, "O Novo Iluminismo - Em defesa da razão, da ciência e do humanismo", que será lançado quinta (6) no Brasil pela Companhia das Letras, Pinker, 63, retoma o projeto de mostrar com dados e fatos que as coisas estão melhorando.

Para o psicólogo cognitivo, é preciso redobrar o foco na razão, na ciência, no humanismo e no progresso para que as coisas continuem a melhorar e para evitar que as pessoas sejam seduzidas pelo discurso catastrofista nostálgico do populismo em expansão.

• Quando vemos o noticiário, parece que o mundo está cada vez pior. Mas o sr. argumenta, com dados, que nunca estivemos tão bem. Por que há esse descolamento entre a nossa percepção e a realidade?

Isso decorre da natureza do noticiário e da mente humana. A mente humana avalia risco e perigo por meio de exemplos vívidos, imagens, narrativas.

Não somos intuitivamente estatísticos. Se lemos uma reportagem marcante sobre alguém sendo mordido por um tubarão, um terrorista jogando seu carro no meio das pessoas na calçada, ou um ataque numa guerra, isso nos faz pensar que esse tipo de incidente é extremamente comum.
Nós conseguimos nos lembrar facilmente do que está mais disponível na nossa memória, algo que os psicólogos chamam isso de heurística da disponibilidade. Quanto mais alguma coisa está à mão na nossa memória, mais pensamos que é algo com grande probabilidade de acontecer.

Já o noticiário tem como objetivo apresentar ao público eventos e incidentes. Se qualquer coisa ruim acontece em qualquer lugar do mundo, é garantido que estará no noticiário. Já os acontecimentos positivos muitas vezes não rendem imagens vívidas, e na maioria das vezes não são coisas que acontecem de repente, portanto eles sistematicamente não estão no noticiário.

Não se noticia o fato de que, nos últimos 40 anos, não houve nenhuma guerra no sudeste da Ásia, uma região onde frequentemente havia conflitos, como o da Coreia, Camboja, Vietnã. Uma região onde não há guerra não é uma manchete, esses são acontecimentos que só podem ser vistos por meio de dados.

Só quando você compila dados, como eu fiz, é que consegue compreender as enormes mudanças benéficas que ocorreram no mundo. Por exemplo, mortes em guerras: o número de mortes aumentou um pouco nos últimos cinco anos, por causa da guerra da Síria, mas, mesmo assim, está muito abaixo dos níveis dos anos 50, 60 e 70, e mais ainda dos níveis da Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Da mesma maneira, os jornais raramente falam que a porcentagem da população vivendo em pobreza extrema caiu de 30% há 30 anos para 10%; e alfabetização aumentou para 90% das pessoas com menos de 25 anos. Na maioria dos países, a criminalidade caiu. Até no Brasil, um dos mais violentos, houve queda no número de mortes decorrentes de crimes em algumas cidades, como o Rio.

Melhoras que podem ser detectadas nos números, nos dados, quase nunca aparecem no noticiário, por isso as pessoas não sabem que houve progresso.

• As pessoas reagem com ceticismo quando o senhor tenta convencê-las de que o mundo está melhorando?

Sempre. Quando elas veem dados, elas ficam surpresas e mais receptivas --por isso eu conto a história do meu livro por meio de 75 gráficos, e, no livro anterior ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza", Companhia das Letras, 2017), eu usei 100 gráficos, porque sabia que, se as pessoas não vissem os números, não acreditariam.

Falta de respostas de PSDB e PT abre caminho a Bolsonaro: Editorial | Valor Econômico

Entre mil e outras razões, o sucesso do discurso autoritário do deputado Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República também é sinal da perda da capacidade do PT e do PSDB de mediar soluções para a crise.

Desde 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, os dois partidos organizam e dão as cartas da política nacional. Parecia que ia dar certo. Fernando Henrique arrumou a casa, e Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a reduzir as desigualdades sociais.

Depois de dois mandatos o sociólogo FHC passou a faixa presidencial para Lula, um operário eleito pela oposição, num episódio de civilidade institucional singular na politica brasileira. Venceu a democracia.

Mas logo os dois partidos se perderam nos desvãos da política. Na oposição, o PSDB se acomodou e virou um partido de cúpula, bem distante da sigla criativa e combativa que ajudou a enterrar o entulho autoritário deixado pelo regime dos generais.

O PT, por seu turno, aos poucos foi se tornando um partido obcecado com a manutenção do poder a qualquer custo.

Quando a Operação Lava-Jato moveu as engrenagens que nivelaram por baixo toda a política brasileira, já era nítida a divisão e a incapacidade dos dois partidos para dialogar, analisar e entender o que se passava abaixo da linha de superfície. Parafraseando a canção, o tempo passou na janela e PT e PSDB, assim como os demais partidos, não viram.

Então no governo e vindo de um período de prosperidade no país, por causa de elevados índices de crescimento econômico, o PT não entendeu os protestos de junho de 2013, o primeiro sinal do desapontamento da sociedade com o funcionamento das instituições, aí incluídos o Executivo, o Congresso e os partidos, para citar alguns.

Em meio a esse ambiente atordoante, assiste-se, ainda, ao aparecimento de um novo e poderoso ator, o Ministério Público Federal.

Os sinais da crise de representação estavam claros, vindos das ruas.

Verborragia perigosa: Editorial | Folha de S. Paulo

Campanhas de Bolsonaro e do PT lançam dúvidas sobre a legitimidade das regras do jogo
Uma candidatura presidencial propaga que as urnas eletrônicas terão sido fraudadas caso não seja a vencedora do pleito. Outra, que decisões reiteradas da Justiça convertem a disputa em fraude.

Jair Bolsonaro (PSL), seus porta-vozes e militantes lançam dúvidas sobre a probidade do registro de votos, o que compõe uma arenga autoritária que inclui o elogio de ditaduras e da violência física.

Petistas dizem que a condenação em duas instâncias de seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, constitui violação institucional —ou parte de um golpe, termo que aplicam a qualquer procedimento que os contrarie, não importando a regularidade do processo.

Na diatribe mais recente, a mais que esperada decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de considerar Lula inelegível foi descrita, na propaganda de TV, como um ataque à “vontade do povo”.

Ainda que possam parecer mera verborragia demagógica, tais arroubos envenenam o ambiente democrático. As contestações à legalidade da disputa eleitoral não são propriamente críticas, com argumentos baseados em lógica e evidências, nem queixas encaminhadas aos canais adequados.

Trata-se de ataques infundados às regras do jogo —que, mais adiante, poderão ser usadas para negar também a legitimidade do eleito, de seu governo, de leis e políticas que vierem a ser implantadas.

A estratégia se vale da disseminação de crenças conspiratórias, que apelam em particular às parcelas mais sectárias do eleitorado.

Os setores mais extremados acabam por não ver os adversários como pessoas de opiniões e interesses diferentes em seu direito de disputar o poder; oponentes se tornam inimigos a serem eliminados da vida pública e hostilizados nas ruas.

Um país exausto: Editoria | O Estado de S. Paulo

O vaivém nos últimos dias a respeito do reajuste salarial do funcionalismo, defendido com obstinação pelas corporações malgrado o estado crítico das contas públicas, serviu para lembrar a existência de dois países chamados Brasil: o Brasil real, no qual a maioria dos trabalhadores, se der sorte de arranjar emprego, recebe salários determinados pelas duras condições de mercado, pode ser demitida a qualquer momento e tem escassa capacidade de mobilização política; e o Brasil dos servidores públicos, onde grande parte de seus felizes habitantes conta com estabilidade no emprego, ganha muito acima da média do mercado, aposenta-se em condições privilegiadas e dispõe de imenso poder de convencimento em Brasília.

O fato é que o Brasil dos servidores públicos está exaurindo o Brasil dos trabalhadores comuns, de cujo rendimento saem os impostos que sustentarão os proventos dos cidadãos daquele outro país. E isso fica claro não apenas quando se comparam as discrepantes condições de trabalho e de aposentadoria de uns e de outros, das quais se destacam os muitos penduricalhos e benefícios de que usufruem várias categorias de servidores públicos, a maioria dos quais jamais seria obtida no setor privado. A exaustão do Brasil real se dá especialmente porque uma parte considerável de suas agruras fiscais se deve à sempre crescente demanda de recursos por parte do país dos servidores públicos - invariavelmente, é claro, movido pelas melhores intenções.

Congresso ainda está devendo a reforma do SUS: Editorial | O Globo

Legislativo precisa iniciar a revisão do sistema público de saúde, que atende 175 milhões de brasileiros

Entrou em vigor semana passada uma nova lei (13.714) que garante assistência integral na rede pública de saúde, inclusive com fornecimento de medicamentos, a quem mora na rua ou em locais precários e não tem como comprovar residência.

A iniciativa da Câmara, ampliada pelo Senado, tem mérito caritativo —e somente isso. Na prática, reflete a equidistância assumida pelo Legislativo em relação ao problema central: a necessária e urgente reestruturação do Sistema Único de Saúde( SUS ). Ele continua a ser a única alternativa para 175 milhões de brasileiros.

O Congresso tem o dever de reformar o SUS, na perspectiva do aumento da eficiência e da economia de recursos, para fazer justiça social. Está claro que uma rede pública de saúde eficiente poderia ofertar mais e melhores serviços, até com o mesmo nível de recursos.

Não faltaram investimentos na última década. Até 2014, as despesas públicas com saúde cresceram à taxa média de 7% acima da inflação. Deve-se aos estados e municípios, segundo o Banco Mundial, a maior contribuição para esse aumento nos gastos públicos.

As despesas federais com saúde subiram pouco, da proporção de 1,6% para 1,7% do Produto Interno Bruto entre 2004 e 2014. Nessa participação federal, há um aspecto relevante: os gastos tributários aumentaram continuamente. Já representam 31% do dispêndio da União no setor, e estão concentrados em créditos fiscais na renda pessoal e em isenções para hospitais filantrópicos.

'Não há ataque, mostramos o que ele fala', diz Alckmin sobre Bolsonaro

Campanha tucana tem utilizado declarações pregressas do deputado federal em seus spots no rádio e na TV

Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

O candidato do PSDB à Presidência nas eleições 2018, Geraldo Alckmin, negou que em sua campanha na TV e no rádio esteja atacando o deputado Jair Bolsonaro (PSL), adversário na disputa por uma vaga no segundo turno. "Não há nenhum ataque. O que mostramos é o ele que fala. Se o que ele fala é ataque, o problema é dele", disse o tucano neste domingo, 2, em São Bernardo do Campo.

O ex-governador de São Paulo ainda foi questionado sobre a resposta que a campanha do PSL postou nas redes, ligando-o ao escândalo da merenda durante sua gestão à frente de São Paulo. "Ele é mal informado ainda, porque a questão da merenda foi o Estado que apurou junto com o Ministério Público. Não havia envolvimento de ninguém do governo, o que havia eram estelionatários nas cooperativas prejudicando os cooperados."

Desde sexta-feira, a campanha do PSDB tem utilizado declarações pregressas do deputado nos spots de rádio e TV. Uma delas, por exemplo, mostra o presidenciável gritando com a deputada federal Maria do Rosário (PT) no salão verde da Câmara e a chamando de "vagabunda". "Você gostaria de ser tratada desse jeito?", pergunta a narradora da inserção.

Outro vídeo não traz declarações do candidato, mas também é endereçado ao capitão reformado do Exército. Inspirado em uma campanha de desarmamento do Reino Unido, o vídeo mostra um projétil acertando diversos objetos que representariam fome, analfabetismo, crise hídrica, entre outros. "Não é na bala que se resolve", termina o vídeo, antes que a bala acerte a cabeça de uma garota.

Alckmin critica PT por esconder candidato e diz que sua propaganda só reproduz fala de Bolsonaro

Tucano diz que PT tenta vitimizar Lula e chamou a propaganda da sigla de 'enganação vergonhosa'

Artur Rodrigues – Folha de S. Paulo

SÃO BERNARDO DO CAMPO - Em evento político em São Bernardo do Campo, berço político petista, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin criticou neste domingo (2) o PT por esconder seu real candidato. Apesar de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter vetado a candidatura de Lula, a legenda insiste que ele é candidato e continua tratando Fernado Haddad como vice.
"O que estamos vendo na televisão pelo PT é enganação vergonhosa. Tão escondendo o candidato que efetivamente vai ser candidato", disse Alckmin. "Por que não fala a verdade? Buscando vitimizar aquele que foi condenado e escondendo aquele que efetivamente vai disputar a eleição."

Alckmin também negou que sua propaganda que mostra Jair Bolsonaro (PSL) xingando mulheres seja um ataque.

"Não há nenhum ataque. É ele que fala. Se o que ele fala é ataque problema dele", disse, em São Bernardo, sobre a propaganda que mostra o militar dizendo que uma repórter é ignorante e xingando a deputada petista Maria do Rosário de vagabunda. O vídeo ainda pergunta à mulheres se elas gostariam de ser tratadas desta maneira.

Bolsonaro rebateu a peça de propaganda fazendo menção à máfia da merenda, ao questionar se o eleitor deixaria sua filha sem merenda.

"É mal informado ainda. Porque a questão da merenda o estado que apurou junto com o Ministério Público. Não teve nenhum envolvimento de ninguém do governo. Não teve nenhum prejuízo", disse. "O que havia era estelionatário comandado cooperativa e prejudicando fortemente os cooperados. E foram punidos", disse.

Apesar dos comentários, Alckmin só citou Bolsonaro, com quem disputa os eleitores, depois de ser questionado e, ainda assim, foi sucinto. O tucano tem adotado tática de deixar os ataques mais duros ao militar para a propaganda, para não se indispor com os eleitores de Bolsonaro e tentar se posicionar melhor no campo antipetista.

O evento, realizado no Clube dos Meninos, contou com os principais candidatos do tucanato Paulista ao Legislativo e os do Executivo, incluindo o candidato ao governo João Doria, que também mirou o PT.

Tchaikovsky: Symphony No. 5 / Barenboim · Berliner Philharmoniker

William Shakespeare: Versos

Que eu não veja empecilhos na sincera
União de duas almas. Não amor
É o que encontrando alterações se altera
Ou diminui se o atinge o desamor.
Oh, não! Amor é ponto assaz constante
Que ileso os bravos temporais defronta.
É a estrela guia do baixel errante,
De brilho certo, mas valor sem conta.
O Amor não é jogral do tempo, embora
Em seu declínio os lábios nos entorte.
O Amor não muda com o dia e a hora,
Mas persevera ao limiar da morte.

E, se se prova que num erro estou,
Nunca fiz versos, nem jamais se amou."

Tradução de Ivo Barroso