quinta-feira, 3 de julho de 2008

ESPECIAL PARA O BLOG

A INFLAÇÃO E O EXCESSO DE GASTOS DO GOVERNO
Jarbas de Holanda


Ainda sem afetar os altos índices de confiança no presidente, de 68%, e de aprovação do governo, 58%, o salto do sentimento de medo do conjunto da sociedade a respeito do crescimento da inflação – de 51% em março, para 65% agora, registrado na pesquisa do Ibope para a CNI divulgada anteontem, deve estar constituindo a principal preocupação de Lula às vésperas do início das campanhas para os pleitos municipais. E a pesquisa aponta outro indicador certamente agravante da preocupação – no julgamento do papel do governo diante do processo inflacionário, as taxas de aprovação, 51%, e desaprovação, 43%, inverteram-se em três meses, respectivamente, para as de 41% e 53%.

Quanto à percepção de Lula sobre a influência do aumento de preços na avaliação do governo e nos resultados eleitorais, foi mais uma vez evidenciada na entrevista de seu assessor e confidente mais próximo, Gilberto Carvalho, numa entrevista à Veja desta semana: o reconhecimento de que 90% da popularidade do presidente estão ligados ao desempenho da economia – centralmente à inflação baixa – e apenas 10% ao seu carisma pessoal. E é também essa percepção – já afirmada por ele ao escolher a dupla Antonio Palocci e Henrique Meirelles no primeiro mandato, e mantida até hoje com a preservação do segundo, de par com autonomia do BC – que tem representado um dos traços distintos entre o governo de Lula e o de Hugo Chávez, na Venezuela, ou o dos Kirchners, na Argentina.

Mas agora os efeitos combinados de fatores externos, que quase todos os ministros tratam de absolutizar, e dos internos (entre os quais a escalada de gastos públicos e de despesas da máquina governamental) que praticamente só o BC aponta e busca enfrentar, ademais das outras implicações econômicas e sociais que têm , disparam aumentos generalizados de preços, com repercussão maior nas classes de baixa renda. E com um potencial de erodir a popularidade do presidente, bem como de frustrar seu plano de grande vitória do lulismo nas eleições municipais, que deve levá-lo, enfim, a aplicar as reiteradas propostas que lhe veem sendo feitas por conselheiros informais (Delfim Netto, Antonio Palocci, Beluzzo) de uma efetiva contenção dos gastos públicos em geral e em particular das chamadas despesas correntes, turbinadas por inchaço da máquina, aumentos reais dos salários de várias categorias do funcionalismo e do Bolsa Família e por outras benesses eleitoreiras.

2010 em SP e BH e fragmentação partidária no Rio

Concluído o processo de formalização de alianças para o pleito municipal de outubro, as capitais paulista e mineira terão disputas condicionadas pelos principais projetos voltados à sucessão do governo federal. Nas duas composições feitas em torno dos projetos dos governadores José Serra e Aécio Neves, e em São Paulo também em torno da meta do presidente Lula de eleger como sucessor um candidato petista de sua indicação. O que não ocorreu no Rio, onde nem os projetos do PSDB e do lulismo e tampouco os de afirmação do DEM e do PMDB, articulados ou contrapostos, conseguiram prevalecer no alinhamento político-partidário. O prefeito César Maia, dos democratas, não viabilizou a aliança inicial buscada com o PMDB em torno da candidatura de Solange Amaral. Os peemedebistas, sob a nova liderança do governador Sérgio Cabral, cancelaram a composição tecida por Lula em torno de um candidato do PT e relançaram Eduardo Paes. O líder nas pesquisas, Marcelo Crivella, do PRB, começou a debilitar-se com os efeitos das mortes de três jovens do Morro da Providência, vinculadas a seu projeto “Cimento Social”. E a esquerda está dividida entre várias candidaturas – de Jandira Feglali, do PC do B, de Alessandro Molon, do PT, de Paulo Ramos, do PDT, e de Chico Alencar, do PSOL, além do que parte dela poderá votar em Fernando Gabeira, da coligação PSDB, PV, PPS.

Em São Paulo, Lula forçou a adesão do chamado bloquinho, PC do B, PSB, PDT, à candidatura de Marta Suplicy, viabilizando um palanque de esquerda no qual jogará seu forte peso político. José Serra, após a grande tacada da atração do PMDB de Orestes Quércia para a candidatura de Gilberto Kassab, do DEM (tendo em vista a construção de aliança para 2010), foi compelido – pelas pesquisas e pela maioria do PSDB – a dar apoio formal a Geraldo Alckmin, mas vai evidenciando que segue todo empenhado numa vitória do primeiro, só devendo caminhar de fato para respaldar o antecessor no governo estadual se for ele o adversário de Marta no segundo turno. Já em Belo Horizonte, o tucano Aécio Neves, mesmo com o sacrifício da presença formal do PSDB na aliança PSB-PT para a eleição de seu ex-secretário Márcio Lacerda, terá o comando da campanha deste. Com cuja provável vitória procurará afirmar a alternativa que propõe de uma candidatura presidencial situada além da confrontação com o presidente Lula e em possível aliança com partidos da base governista como o PMDB e o PSB.

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