quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

PT retoma esquerdismo como tática anticrise e com olho em José Serra

Jarbas de Holanda

Atende a vários objetivos – de curto, médio e longo prazos - a forte retórica esquerdista adotada pelo grupo dirigente do PT, “Construindo um Novo Brasil” (sucessor do “Campo Majoritário” que se esfacelou após o mensalão), em seu encontro realizado no último fim de semana em São Roque (SP). Mas todos eles se vinculam ou subordinam à disputa da presidência da República em 2010. Dividem-se, a este respeito, em duas etapas: primeira, assegurar um papel relevante do partido na definição do candidato situacionista, em complicado confronto com o presidente Lula; depois, desdobrar tal papel numa campanha em que não contará com seu decisivo trunfo eleitoral – o nome dele. E incluem a alternativa da preparação de ferrenho combate a um governo eleito pela oposição, na perspectiva de um retorno ao poder, no pleito seguinte, do atual chefe do governo.

Reportagem da Folha de S. Paulo sobre o encontro mostrou como o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e demais dirigentes regulares, além do líder informal, José Dirceu, vão usar os efeitos que a crise financeira global começa a ter em nossa economia, para o encaminhamento desses objetivos, com base no discurso eleitoral que preparam de fortes teores estatizante e populista: pressão sobre o Palácio do Planalto para que cancele a autonomia prática que o Banco Central conquistou e reduza a meta do superávit primário; duros ataques a privatizações, com citação especial da Vale, combinados com proposta de ampliação do papel do Estado e de mais gastos com o reforço do assistencialismo; responsabilização, pela crise, dos partidos oposicionistas e do “neo-liberalismo” dos governos FHC. E José Dirceu, tendo presidido a principal mesa de debates da reunião, anunciou em entrevista que vai relançar a campanha por sua anistia. Trechos da reportagem, intitulada “PT critica BC, pede Estado forte e culpa PSDB pela crise”: “Durante o encontro de seus comandantes, os petistas defenderam o fortalecimento do Estado, dos investimentos públicos por meio dos bancos estatais e o incremento dos programas de transferência de renda direta ao cidadão. Em contrapartida, queda dos juros e a intervenção na política cambial”. “Nós vamos retomar o desenvolvimento se fizermos mudanças no sistema financeiro, na política de juros, no superávit e na política cambial. Se nós abandonarmos o último bastião da ortodoxia no Brasil, que é o Banco Central, podemos dar um salto ...” afirmou José Dirceu”. O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, disse que o partido fará o debate eleitoral com o PSDB. ‘É a crise de um modelo do qual o governo FHC e o DEM foram os grandes defensores no Brasil. Foi a desregulamentação do Estado, da forma de trabalho, sem proteções, as privatizações. É esse modelo que está em crise’, disse”.

A ênfase nos ataques ao BC, ademais de representar um ingrediente natural do radicalismo tático da direção do PT, tem em vista uma função eleitoral, ligada ao cálculo de que o candidato oposicionista à sucessão de Lula seja mesmo o governador de São Paulo José Serra. Essa ênfase servirá para neutralizar e se possível desqualificar a postura crítica que este tem contra a política monetária que o BC pratica desde o primeiro governo FHC. Postura que Serra já tinha então, mesmo ocupando o ministério do Planejamento (do qual teria se afastado por isso, segundo declaração recente dele, em que explicitou ser também contrário à autonomia formal da instituição). E que, sendo candidato, poderá respaldar sua condenação aos juros altos aplicados no governo Lula. “Contra esse “oportunismo de esquerda”, segundo um dirigente petista, nada melhor do que “o esquerdismo sério do nosso partido”.

Duas outras evidências de fortalecimento do esquerdismo estatizante e populista do PT tornaram-se bem visíveis ao longo deste ano, mesmo depois de sinais claros de que a crise vai chegando. Primeira – o espaço maior ganho pelas demandas da CUT e da aliada Força Sindical de mais verbas públicas, bem como de mais empregos em estatais. Segundo – o avanço no Congresso de projetos de parlamentares petistas, com sérias implicações negativas para as contas públicas e para a economia, diante dos quais resistências e objeções inicialmente opostas por autoridades do Executivo são depois substituídas por negociações defensivas, concordância tácita ou omissão. Exemplos mais significativos de iniciativas do gênero: o projeto do senador Paulo Paim (PT-RS), que extingue o fator previdenciário nos processos de aposentadoria dos trabalhadores da iniciativa privada, cuja aprovação – já obtida no Senado e em vias de ser conseguida na Câmara (com forte pressão de sindicalistas) “fará crescer o déficit da Previdência dos atuais 7,4% do PIB para 26%, até 2.049”, como precisou o Estado de S. Paulo, em editorial de anteontem; e o projeto do presidente petista da Câmara, Arlindo Chinaglia, para a concessão de licença remunerada do trabalho também ao pai, a partir da gravidez da esposa ou de uma companheira, por tempo igual ao da licença maternidade. Ambos os projetos, configurando, um, absurda irresponsabilidade fiscal e, outro, intervenção grosseira e irracional nas relações de trabalho, têm de fato a finalidade de manipulação eleitoreira dos assalariados.



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