Entrevista de FHC à revista ISTOÉ
ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a campanha do PSDB?
FHC – Qualquer coisa que eu diga agora vai ser tomada como crítica à campanha. É uma posição muito incômoda para mim. Fui presidente por oito anos e não me cabe ficar estilhaçando os outros na campanha. Cada um faz o seu. Só depois dos resultados efetivos é que a gente pode dizer o que foi certo e o que foi errado. Hoje se tem a visão do marquetismo. E acho que uma sociedade como a nossa já está um pouco cansada de marquetismo. Vivemos uma época de marquetismo exagerado e é preciso voltar ao nervo político. É importante se tentar algo diferente.
ISTOÉ – O quê, por exemplo?
FHC – O que é política? É você ter convicções e tentar fazer com que os outros tenham as mesmas que você. Veja o que aconteceu no caso do Obama. Quem tinha os recursos, a máquina toda, era a Hillary, mas ele sintonizou com o país em dado momento. O Lula também está sintonizado neste momento.
ISTOÉ – E o que Serra pode fazer para sintonizar com o País?
FHC – A campanha de Serra não está sintonizada com o País, mas ele tem condições de mudar isto. É uma coisa muito pessoal, mas eu acho que o ator conta muito. Passa muito pela pessoa, pelo ator. Esta semana ele apareceu em tevê nacional (no “Jornal da Globo”) e falou com as pessoas. Se eu fosse o Serra só faria aquilo, não ficaria esperando debates. Qualquer campanha tem que ser de conversa com o País. Eu sempre conversei, o Lula também, cada um do seu jeito. Serra é um homem inteligente, preparado. Ele sabe se expressar de maneira direta, mas não está conseguindo fazer isso.
ISTOÉ – Serra não está se comunicando com o povo?
FHC – Mas eu não quero colocar toda a responsabilidade nele. É de todo mundo. É preciso mais tenacidade, motivação. Serra é professor, sabe falar de maneira clara. Há mil modos de se comunicar com o povo.
ISTOÉ – Qual é a receita?
FHC – Não há, mas nesse tipo de situação, a meu ver, você tem que convencer, ser espontâneo, fazer graça e ser contundente também. Tem que misturar tudo isto e mostrar que tem garra.
ISTOÉ – A marquetagem está atrapalhando?
FHC – Atrapalha. O povo não te pega. Por exemplo, eles fizeram o Lula ficar calado um ano, no início do governo, para não dizer bobagem. Quando o Lula começou a falar, ele ganhou. Estamos fazendo campanhas engessadas, porque a maior preocupação no campo de batalha é a couraça. Se você conseguir quebrar isso, muda o jogo.
ISTOÉ – O sr. já falou isto para o Serra?
FHC – Lógico que já falei. Falo com ele por e-mail principalmente. Eu acho que ele concorda. O problema é que, quando você está em campanha, é muita sugestão, muita pressão, muita responsabilidade. Você não tem liberdade. Agora, é possível mudar. Não há uma onda petista. Há uma onda lulista. Em governo de Estado o PT não está crescendo em nenhum lugar. Acho que nesse momento entra a vontade. Ou você entra com vontade ou não faz nada. Você tem que ter decisão, vontade de lutar.
ISTOÉ – O sr. está magoado por não ser citado na campanha de seu partido?
FHC – Quando deixei o governo eu disse que não ia mais fazer política partidária. A decisão foi minha. Não tem cabimento eu ficar me acotovelando no meu partido com outros políticos. Eu não sou caudilho, não sou personalista e nunca aceitei esse tipo de papel. A razão de eu não estar mais na campanha é que eu não quero. Se quisesse, tinha batido na mesa.
ISTOÉ – Não o incomoda ver o candidato José Serra usar a imagem de Lula em vez da sua na campanha?
FHC – Pessoalmente não, mas precisa ver politicamente o que isso significa.
ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a forma com que seu legado tem sido tratado nesta eleição?
FHC – Eu sei o que fiz e posso dizer com orgulho: eu mudei o Brasil. Este legado não está aparecendo, mas vai aparecer. Legado pertence à história. É angustiante o problema do político que tem visão de Estado, porque o julgamento que interessa ele não vai ver. Olha o jeito como Getúlio e Juscelino saíram do governo e a maneira com que foram julgados depois. Quem faz campanha está pensando no hoje e o julgamento que me interessa não é este, é o da história.
ISTOÉ – Lula não acaba se aproveitando deste legado, ao contrário do que faz o PSDB?
FHC – Eu acho que presidentes devem pôr limites, sair das campanhas. Tenho uma visão diferente da do Lula, que não quer sair da campanha. O que o Lula está fazendo nunca se viu em nenhum lugar. O presidente virar guerrilheiro? Isso não pode, porque junto ele traz o círculo de poder. É abuso de poder político. Eu tenho uma visão mais republicana.
ISTOÉ – O sr. está pessimista com o Brasil?
FHC – Acho que economicamente o Brasil tem motores muito poderosos. O Brasil engatou com o mundo e isso começa de longe. A primeira dívida real que temos nesse ponto é com o Collor. Depois nós reorganizamos o Estado brasileiro. E ainda dizem que eu sou neoliberal… Isso me chateia.
ISTOÉ – E qual a parcela do governo Lula?
FHC – Depois que estabilizamos a moeda ele pôde acelerar as políticas sociais, que são as mesmas do nosso governo. Uma das virtudes do governo Lula é que ele se dirigiu muito mais ao povo e o povo sentiu mais a política.
ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a campanha do PSDB?
FHC – Qualquer coisa que eu diga agora vai ser tomada como crítica à campanha. É uma posição muito incômoda para mim. Fui presidente por oito anos e não me cabe ficar estilhaçando os outros na campanha. Cada um faz o seu. Só depois dos resultados efetivos é que a gente pode dizer o que foi certo e o que foi errado. Hoje se tem a visão do marquetismo. E acho que uma sociedade como a nossa já está um pouco cansada de marquetismo. Vivemos uma época de marquetismo exagerado e é preciso voltar ao nervo político. É importante se tentar algo diferente.
ISTOÉ – O quê, por exemplo?
FHC – O que é política? É você ter convicções e tentar fazer com que os outros tenham as mesmas que você. Veja o que aconteceu no caso do Obama. Quem tinha os recursos, a máquina toda, era a Hillary, mas ele sintonizou com o país em dado momento. O Lula também está sintonizado neste momento.
ISTOÉ – E o que Serra pode fazer para sintonizar com o País?
FHC – A campanha de Serra não está sintonizada com o País, mas ele tem condições de mudar isto. É uma coisa muito pessoal, mas eu acho que o ator conta muito. Passa muito pela pessoa, pelo ator. Esta semana ele apareceu em tevê nacional (no “Jornal da Globo”) e falou com as pessoas. Se eu fosse o Serra só faria aquilo, não ficaria esperando debates. Qualquer campanha tem que ser de conversa com o País. Eu sempre conversei, o Lula também, cada um do seu jeito. Serra é um homem inteligente, preparado. Ele sabe se expressar de maneira direta, mas não está conseguindo fazer isso.
ISTOÉ – Serra não está se comunicando com o povo?
FHC – Mas eu não quero colocar toda a responsabilidade nele. É de todo mundo. É preciso mais tenacidade, motivação. Serra é professor, sabe falar de maneira clara. Há mil modos de se comunicar com o povo.
ISTOÉ – Qual é a receita?
FHC – Não há, mas nesse tipo de situação, a meu ver, você tem que convencer, ser espontâneo, fazer graça e ser contundente também. Tem que misturar tudo isto e mostrar que tem garra.
ISTOÉ – A marquetagem está atrapalhando?
FHC – Atrapalha. O povo não te pega. Por exemplo, eles fizeram o Lula ficar calado um ano, no início do governo, para não dizer bobagem. Quando o Lula começou a falar, ele ganhou. Estamos fazendo campanhas engessadas, porque a maior preocupação no campo de batalha é a couraça. Se você conseguir quebrar isso, muda o jogo.
ISTOÉ – O sr. já falou isto para o Serra?
FHC – Lógico que já falei. Falo com ele por e-mail principalmente. Eu acho que ele concorda. O problema é que, quando você está em campanha, é muita sugestão, muita pressão, muita responsabilidade. Você não tem liberdade. Agora, é possível mudar. Não há uma onda petista. Há uma onda lulista. Em governo de Estado o PT não está crescendo em nenhum lugar. Acho que nesse momento entra a vontade. Ou você entra com vontade ou não faz nada. Você tem que ter decisão, vontade de lutar.
ISTOÉ – O sr. está magoado por não ser citado na campanha de seu partido?
FHC – Quando deixei o governo eu disse que não ia mais fazer política partidária. A decisão foi minha. Não tem cabimento eu ficar me acotovelando no meu partido com outros políticos. Eu não sou caudilho, não sou personalista e nunca aceitei esse tipo de papel. A razão de eu não estar mais na campanha é que eu não quero. Se quisesse, tinha batido na mesa.
ISTOÉ – Não o incomoda ver o candidato José Serra usar a imagem de Lula em vez da sua na campanha?
FHC – Pessoalmente não, mas precisa ver politicamente o que isso significa.
ISTOÉ – O sr. está satisfeito com a forma com que seu legado tem sido tratado nesta eleição?
FHC – Eu sei o que fiz e posso dizer com orgulho: eu mudei o Brasil. Este legado não está aparecendo, mas vai aparecer. Legado pertence à história. É angustiante o problema do político que tem visão de Estado, porque o julgamento que interessa ele não vai ver. Olha o jeito como Getúlio e Juscelino saíram do governo e a maneira com que foram julgados depois. Quem faz campanha está pensando no hoje e o julgamento que me interessa não é este, é o da história.
ISTOÉ – Lula não acaba se aproveitando deste legado, ao contrário do que faz o PSDB?
FHC – Eu acho que presidentes devem pôr limites, sair das campanhas. Tenho uma visão diferente da do Lula, que não quer sair da campanha. O que o Lula está fazendo nunca se viu em nenhum lugar. O presidente virar guerrilheiro? Isso não pode, porque junto ele traz o círculo de poder. É abuso de poder político. Eu tenho uma visão mais republicana.
ISTOÉ – O sr. está pessimista com o Brasil?
FHC – Acho que economicamente o Brasil tem motores muito poderosos. O Brasil engatou com o mundo e isso começa de longe. A primeira dívida real que temos nesse ponto é com o Collor. Depois nós reorganizamos o Estado brasileiro. E ainda dizem que eu sou neoliberal… Isso me chateia.
ISTOÉ – E qual a parcela do governo Lula?
FHC – Depois que estabilizamos a moeda ele pôde acelerar as políticas sociais, que são as mesmas do nosso governo. Uma das virtudes do governo Lula é que ele se dirigiu muito mais ao povo e o povo sentiu mais a política.
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