terça-feira, 7 de setembro de 2010

Filha de Serra teve dado acessado uma 2ª vez

DEU EM O GLOBO

Depois da procuração falsa usada em 30 de setembro do ano passado, houve outro acesso em 8 de outubro

Roberto Maltchik e Vivian Oswald

BRASÍLIA. O terminal da servidora Adeildda Leão Ferreira dos Santos, na Delegacia da Receita Federal em Mauá (SP), não serviu apenas para o acesso ilegal às declarações de renda de tucanos. Horas antes de extrair esses documentos, o computador foi usado para levantar as informações cadastrais da filha de José Serra, Verônica Serra, e das quatro pessoas que mais tarde tiveram seus dados fiscais devassados. O levantamento consta de apuração especial feita pelo Serpro em todos os registros efetuados com o uso do CPF de pessoas que pudessem ser alvo de um dossiê para atacar a candidatura do tucano à Presidência.

A descoberta evidencia que a busca por informações pessoais da filha de Serra, parte delas protegidas por sigilo fiscal, ocorreu em duas frentes. A primeira, em 30 de setembro de 2009, na sede da Receita em Santo André (SP), com o uso de uma procuração fraudulenta, apresentada pelo suposto contador Antônio Carlos Atella Ferreira. Atella prestou depoimento à Polícia Federal na sexta-feira. A segunda ocorreu no dia 8 de outubro do ano passado, oito dias depois da primeira investida.

Todos os acessos às informações cadastrais, que constam do sistema CPF, ocorreram de manhã, horário em que a servidora diz que estava usando sua estação de trabalho. A descoberta põe sob enorme suspeita o álibi de Adeildda. Ela afirmou, em depoimento à Corregedoria e em nota à imprensa, que as informações privadas dos tucanos foram devassadas no horário de almoço. O advogado da servidora vai se pronunciar hoje.

As informações pessoais de Verônica Serra foram levantadas às 8h52. Duas "telas" com dados como nome, data de nascimento, endereço e telefone foram acessadas consecutivamente. O mesmo procedimento se repetiu - em horários diversos, mas sempre na manhã de 8 de outubro de 2009 - com os dados do sistema CPF de Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado. O Serpro já havia detectado essa operação no caso do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

No caso de Eduardo Jorge, as consultas ao sistema CPF, a partir do terminal de Adeildda, ocorreram às 9h33 e às 10h22 de 8 de outubro de 2009. As declarações de Imposto de Renda dele foram devassadas às 12h43 do mesmo dia. A servidora alega que trabalhou normalmente pela manhã e saiu do terminal um pouco antes de meio-dia, para comemorar o aniversário de 15 anos de casamento.

O sistema é capaz de rastrear todas as operações feitas com determinado CPF, usando como fonte o banco de dados da Receita. De acordo com o documento do Serpro, ao qual O GLOBO teve acesso, Adeildda teria manuseado três "telas" com informações cadastrais de Eduardo Jorge às 9h33.Às 10h22, foi feita nova conferência de informações. Os dados do Serpro indicam Adeildda como usuária e apontam o endereço do computador usado pela servidora.

"Só tenho certeza de que não imprimi as declarações do Sr. Eduardo Jorge, pois naquele dia, excepcionalmente, saí por volta das 11:45hs (não sei precisar ao certo, mas com certeza antes das 12:00 horas), para almoçar com meu marido e comemorar o nosso aniversário de 15 anos de casamento e só retornei por volta das 13:00/13:10hs para pegar minhas coisas e ir embora", afirma Adeildda em nota.

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