sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Debate sem polêmica fecha a campanha presidencial

DEU EM O GLOBO

Escândalos da Casa Civil e da quebra de sigilo não foram abordados pelos candidatos

Candidatos evitam temas polêmicos no último debate antes das eleições de domingo promovido pela TV Globo

Fábio Brisolla, Fábio Vasconcellos, Maiá Menezes, Miguel Caballero e Paulo Marqueiro

RIO - No último debate da campanha eleitoral, realizado nesta quinta-feira à noite pela Rede Globo, os dois candidatos à Presidência que lideram as pesquisas - Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) - evitaram confronto direto. Todos os quatro participantes, que incluiu Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), passaram ao largo dos escândalos que marcaram a campanha, como as denúncias de tráfico de influência que derrubaram a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e a violação de sigilo de tucanos na Receita Federal. Dilma e Serra disputaram a paternidade de programas sociais como o Bolsa Família. E Marina, a terceira colocada e em ascensão nas pesquisas, foi a mais incisiva ao atacar tanto o PT como o PSDB

O debate foi dominado por questões programáticas. Logo no primeiro bloco, a defesa da reforma da Previdência uniu Serra e Marina. Os dois concordaram que é preciso ter regimes diferentes para os novos trabalhadores, que estão entrando no sistema, pois aqueles que já estão têm direitos adquiridos. Dilma não se posicionou claramente sobre o tema.

Marina critica "soluções mágicas"

Ao responder a uma pergunta de Serra sobre reforma da Previdência, Marina deixou clara sua estratégia de manter o tom crítico em relação ao tucano e a Dilma. Fez, ao longo do debate, críticas "aos últimos 16 anos" de governo. Foi a mesma resposta que deu ao falar sobre a política habitacional do país, já no terceiro bloco.

- De fato nós temos graves problemas na Previdência e temos que enfrentar enquanto a população é jovem. Se não enfrentarmos agora, pagaremos um preço muito alto. Vejo que, em época eleitoral, vão criando soluções mágicas, que não estão vinculadas com a realidade, indo para o promessômetro. A reforma da Previdência está no vácuo em todos os governos. Nem no governo do PSDB nem no atual governo - disse a verde.

Serra se defendeu:

- Desde a Constituinte, defendi reforma que separasse os que já têm direito adquirido e os que estão entrando. Temos de atuar também no curto prazo, de quem já está no sistema. E tenho defendido que se dê reajuste de 10% aos aposentados, o dobro que o governo quer e dar um salário mínimo de R$ 600.

Logo no primeiro tema - legislação trabalhista -, Marina escolheu Dilma para responder. Foi a deixa para a petista fazer um balanço dos empregos formais gerados no governo Lula, dizendo que foram gerados 14 milhões de empregos nos últimos oito anos:

- A questão da informalidade não foi adequadamente respondida. Temos 50% da população na informalidade não foi respondida. Estamos diante de um grave problema que precisa ser encarado da seguinte forma: mantendo o direito dos trabalhadores, mas simplificando o processo de contratação para diminuir a informalidade. - devolveu Marina.

Dilma reagiu em seguida - na única referência que fez à questão previdenciária.

- Até 2005 havia geração de trabalho mais informal do que formal e isso se modificou. Nós fomos capazes de gerar volume significativo. E queria deixar claro que o aumento de emprego deve manter os direitos trabalhistas. E acredito que o Brasil precisa gerar um volume muito grande de emprego, mas para isso temos de ter taxas elevadas de crescimento.

Serra tenta atacar Dilma com a questão da reforma tributária

A reforma tributária levou Serra ao primeiro ataque à adversária Dilma, no primeiro bloco do debate. Ao responder a uma pergunta sobre o tema impostos, feita pelo candidato do PSOL, Serra criticou a política tributária do atual governo e também Dilma, dizendo que a carga de impostos do Brasil é a maior do mundo.

Ao ser sorteado para perguntar sobre impostos, Plínio reagiu com ironia ao ver que teria que questionar Serra, a quem chamou de Zé. A pergunta foi sobre seu projeto de reforma tributária.

- Ih, ele gosta disso.

Marina atacou o governo federal ao responder a uma pergunta de Serra sobre as enchentes.

Lembrou do caso das verbas do Ministério da Integração Regional, que repassou mais recursos para a Bahia, terra do então ministro Geddel Vieira Lima:

- Que possamos ativar fundo nacional de Defesa Civil, fazer mapa de risco, treinar a população, e evitar repetir o que aconteceu no governo federal, quando o ministro da Integração passou os recursos para os municípios da sua base (na Bahia) - disse a verde.

Serra atacou o governo Lula ao perguntar a Marina sobre o déficit no setor de habitação.

- O déficit de habitação é altíssimo. O governo apresentou um plano de um milhão de moradias, até agora, e, apesar dos anúncios contrários, entregou 15% disso.

Marina voltou a atacar os governos do PT e do PSDB:

- O déficit habitacional é muito grave, e não é de agora. Nos últimos 16 anos, eu insisto, o investimento para a habitação das famílias mais pobres ficou muito a desejar.

No quarto bloco, Serra atacou Marina e Dilma:

- Vocês duas têm muito mais coisa em comum. Você (Marina) estava no governo do mensalão.

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