sábado, 5 de maio de 2012

Governo já prevê juros abaixo de 8% neste ano

Com o cenário econômico atual e após as mudanças na remuneração da caderneta de poupança, o governo de Dilma Rousseff acredita que haja espaço para que a taxa básica de juros da economia, a Selic, fique abaixo de 8% já no final deste ano. Isso porque o ritmo da economia brasileira ainda é lento e só deve se acelerar no segundo semestre

Planalto já vê taxa de juros abaixo de 8% até fim do ano

Cenário só foi possível com alteração na regra de rendimento da poupança

Expectativa do governo é que economia ainda fraca permita redução da Selic sem risco de pressão inflacionária

Valdo Cruz e Sheila D'Amorim 

BRASÍLIA - Com as mudanças feitas na remuneração da caderneta de poupança e um crescimento econômico ainda lento, a equipe da presidente Dilma Rousseff já avalia que é possível que a taxa básica de juros (Selic) fique abaixo de 8% até o fim do ano.

Segundo assessores presidenciais, isso será possível porque a atividade só vai acelerar, de fato, no segundo semestre, o que abre espaço para o Banco Central dar sequência à redução da Selic, hoje em 9% ao ano.

Reservadamente, a equipe econômica já avalia como impossível atingir um crescimento de 4% neste ano, como deseja Dilma, principalmente depois do anúncio do desempenho negativo da indústria no primeiro trimestre.

A expectativa é que o crescimento da economia fique em pelo menos 3,5%, estimativa com a qual o Banco Central vem trabalhando e que é ainda superior à de boa parte do mercado, que fala em algo entre 2,5% e 3,5%.

Neste cenário de economia enfraquecida, os assessores presidenciais destacam que só a trava da poupança segurava a taxa de juros e que é possível testar um novo piso.

O Palácio do Planalto já dá como certo que, sem nenhuma reviravolta no cenário traçado atualmente, o Banco Central irá reduzir a taxa Selic dos atuais 9% para 8,5% na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no final de maio.

Nas reuniões seguintes, a avaliação é que o BC tem condições de fazer uma redução de 0,50 ponto percentual e mais uma ou duas de 0,25 ponto percentual -fechando 2012 com taxa de 7,5% a 7,75%.

Ontem, um dia após as mudanças no rendimento da poupança, analistas e investidores derrubaram suas estimativas para a taxa básica de juros neste ano e também em prazos mais longos.

Contribuiu para este movimento o pessimismo com o crescimento das economias avançadas. Se o mundo todo cresce menos, é menor a chance de o Brasil alavancar a sua economia.

As taxas para janeiro de 2017 recuaram 0,30 ponto percentual, de 9,81% para 9,50%, comportamento incomum neste mercado, acostumado a oscilações de 0,01 ponto.

As apostam indicam que os investidores preveem taxa básica de 8% no fim do ano. Mas este pode não ser o piso.

O economista David Becker, do Merril Lynch, reviu de 9% para 7,75% sua projeção para a Selic neste ano.

Segundo ele, o governo não enfrentaria o risco político de mexer na poupança se não fosse para tentar alcançar patamares de baixa inédita para os juros.

"A mudança institucional claramente sinaliza que o governo vê espaço para a taxa continuar caindo", afirmou.

Na sua avaliação, a inflação está sob controle neste momento e a maior preocupação é a atividade fraca.

Assessores presidenciais dizem que Dilma decidiu antecipar as mudanças na remuneração da caderneta de poupança depois de uma reunião com o ministro Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, há duas semanas.

Nesta reunião, os dois concordaram que, diante da demora na recuperação da economia e da piora do cenário externo, era possível reduzir mais os juros.

O ex-secretário do Tesouro e hoje economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, observa que, diante do desempenho da indústria até abril, os analistas do mercado passarão a rever para baixo suas projeções de crescimento "para menos de 3%".

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, existe o risco de a inflação reacelerar no ano que vem. Mas, na sua opinião, o BC deverá optar por medidas de restrição para conter o crédito antes de voltar a aumentar a taxa básica de juros.

"Baixar a Selic não é garantia de que a demanda vai se recuperar. Mas não fazer nada é garantia de que a economia não vai crescer", disse.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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