BC eleva taxa básica de juros a 10,75% ao ano
Este é o oitavo aumento seguido da Selic para conter a inflação
Gabriela Valente, João Sorima Neto Ronaldo D'Ercole
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Atento ao baixo nível de crescimento do país, o Banco Central (BC) diminuiu o ritmo de alta dos juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica (Selic) em 0,25 ponto percentual, a metade da dose usada nas últimas seis elevações. Com isso, os juros passaram de 10,5% para 10,75% ao ano: o mesmo patamar de quando a presidente Dilma Rousseff assumiu o mandato, no início de 2011. Esta foi a oitava alta seguida para conter a inflação. Especialistas destacam que a decisão cautelosa ocorre na véspera da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013, que o IBGE divulga nesta quinta-feira.
O Copom praticamente repetiu o comunicado da reunião anterior. “Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu por unanimidade elevar a Taxa Selic em 0,25 ponto percentual para 10,75% ao ano sem viés”, diz a nota. Apenas retirou a expressão “neste momento”. Para especialistas, se fosse mantida, a expressão poderia indicar o fim da alta de juros. Assim, o BC deixou a porta aberta para mais aumentos, se julgar necessário.
— Isso indica que o próximo passo seria uma alta de 0,25 ponto percentual. Ele (o BC) não está comprometido com o 0,25 ponto percentual, mas evitou indicar que vai parar— avaliou o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan.
Com a decisão, o Brasil consolida sua posição no topo do ranking de juros reais, com taxa de 4,48%, segundo levantamento do economista Jason Vieira, do portal Moneyou. O país fica à frente de China, segunda colocada, com juro real de 3,41%; da Turquia (3,09%) e da Índia (2,86%).
Outros fatores pesaram na decisão do BC. Há incertezas sobre o crescimento das economias desenvolvidas, o dólar deu uma trégua nos últimos dias e as críticas à equipe econômica diminuíram após oanúncio do corte de R$ 44 bilhões no Orçamento e compromisso com meta equivalente a 1,9% do PIB. Diante desse cenário, os diretores do BC tomaram a decisão esperada pela maioria dos economistas do mercado financeiro.
‘Caminho pedregoso’
Por mais que os dados pressionassem o BC para pisar no freio da alta dos juros, outros números apontam na direção oposta. As previsões para a inflação não param de subir. A estimativa do mercado financeiro é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche 2014 em 6%. A inflação oficial está em 5,59% em 12 meses. A meta é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para 2015, a estimativa é de 5,7%.
— Quando o caminho é pedregoso, é melhor fazer a trilha com mais calma — ponderou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luiz Otávio Leal, que apostava numa alta de 0,25 ponto percentual, mas considera que o BC teria motivos para aumentar os juros mais um pouco para dar um choque de credibilidade e ajustar as expectativas do mercado.
Para o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, se o BC tivesse elevado a taxa básica em 0,5 ponto percentual, reduziria os juros futuros de longo prazo, com um sinal de que estaria disposto a combater a inflação de forma mais agressiva:
— Seria uma forma barata de resgatar a credibilidade do Banco Central, que está em baixa.
Desde abril do ano passado, o BC começou a aumentar a taxa básica de juros para domar a inflação.
Na época, a Selic estava em 7,25% ao ano: o menor patamar da história. De lá para cá, a inflação oscilou e o crescimento — que poderia aumentar a oferta de produtos e ajudar a combater a alta de preços — não deslanchou. Analistas esperam um crescimento do PIB de 2,2% em 2013.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou positiva a redução no ritmo de alta da Selic. Segundo a entidade, a inflação ainda preocupa, mas os efeitos das últimas altas da taxa sobre os preços ainda estão por vir. A entidade ressalta que para um controle inflacionário eficiente, devem ser usados instrumentos como a redução do déficit fiscal.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), num cenário de baixo crescimento e expectativas de inflação em alta, a política fiscal expansionista do governo exige política monetária que impõe custos elevados ao país “em termos de investimentos, produção e geração de empregos”. Por isso, segundo a entidade “foi acertada a decisão de reduzir o ritmo de alta dos juros”
Fonte: O Globo
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