Orador da solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto, Aécio Neves fez do evento mais um palanque para atacar o governo federal
Marcelo da Fonseca – Correio Braziliense
Ouro Preto (MG) — O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador mineiro Aécio Neves, cobrou ontem, na solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), um esforço para que se mantenham as principais conquistas do país nas últimas décadas. Em discurso na Praça Tiradentes, na noite de ontem, o senador relembrou o movimento das Diretas Já, de luta pela democracia, e alertou para os retrocessos que o país tem vivenciado nos últimos anos devido a falhas na condução da política econômica.
Pela primeira vez como orador do evento, o tucano lembrou a atuação de políticos mineiros no cenário nacional — dos inconfidentes aos ex-presidentes Tancredo Neves e Itamar Franco —, que garantiu ao país, historicamente, avanços significativos. “Foram esses valores que forjaram nossa coragem e alimentaram nosso ânimo para perseverar em defesa da democracia ultrajada e superar a longa e obscura noite da ditadura. Foram esses mesmos valores que iluminaram o coração de tantos homens e mulheres ao longo da nossa história. E que agigantaram homens como Ulysses, Tancredo, Montoro, Teotônio, Brizola, Arraes e tantos outros brasileiros. E todos pisaram no chão desta praça”, disse Aécio, sobre a comenda.
O senador destacou, entretanto, que o país necessita de mudanças para que conquistas históricas não sejam anuladas por erros de gerenciamento e de escolhas baseadas em interesses eleitoreiros. “Percebemos esse sentimento, não apenas em Minas, mas em todo o país. Esta data é importante para revisitarmos nossa história. Agora, um novo salto precisa ser dado. A democracia tem que se transformar em instrumento de crescimento econômico homogêneo. Temos que ter um olho no retrovisor, mas os dois olhos no futuro”, discursou o senador.
O tucano fez questão de sublinhar que as principais conquistas na última década só foram possíveis graças às administrações que antecederam a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E, mesmo assim, o atual governo não conseguiu avançar em questões fundamentais. “Apesar dos avanços das últimas três décadas, resultado da contribuição de diferentes líderes e gerações de brasileiros, permanecemos portadores de uma das maiores desigualdades do planeta. Novas crises se acumulam e nos exigem vigilância atenta e disposição.”
O tucano criticou também a falta de resultados na saúde e cobrou um compromisso maior dos governantes para tirar do papel antigas promessas de melhorar o atendimento médico da população e a educação pública. “O país não aceita o regime de insuficiências, elevado à enésima irresponsabilidade, que tanto precariza o sistema nacional de atendimento à saúde pública, as filas intermináveis, a espera humilhante, a falta de médicos, leitos, remédios e respeito a quem mais precisa e o país sonha ainda hoje verem cumpridas as promessas que se repetem em vão para ser redimido em suas fragilidades estruturais por uma educação de verdade. Que ofereça e prepare para o trabalho, mas especialmente forme cidadãos conscientes dos seus direitos”, afirmou Aécio.
CPI da Petrobras
O senador também aproveitou a solenidade para criticar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que estaria atuando para impedir a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) exclusiva para investigar a petroleira. “Com essa decisão (de impedir a abertura da CPI) gravemente equivocada do presidente Renan, estamos impedidos não só de investigar a Petrobras, mas, daqui por diante, não haverá mais espaços para que o Legislativo investigue fatos relevantes. Basta que a maioria coloque 10, 15 ou 100 temas e cobre que todos sejam investigados em conjunto. Não se pode violentar a Constituição nem a função do Congresso, que é fiscalizar as ações do poder Executivo.”
Segundo Aécio, os parlamentares de oposição vão manter a mobilização em Brasília pela abertura da CPI exclusiva. Aécio concorda que mais CPIs sejam abertas para investigar outras denúncias, mas que temas polêmicos não podem ser usados para impedir a fiscalização das denúncias contra a Petrobras. “Estarei de plantão aguardando a decisão da Ministra Rosa Weber, que confiamos ser de respeito à Constituição e ao regimento do Senado, que garante a instalação de CPIs quando os requisitos são alcançados. Defendo que se instalem outras CPIs, inclusive terei o prazer de dar minha assinatura”, avaliou Aécio.
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