- O Estado de S. Paulo
De susto os números da pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo não mataram ninguém nos comitês eleitorais dos principais candidatos a presidente: Dilma Rousseff balança para baixo com 34%, Marina Silva sobe para 29% e Aécio Neves oscila para 19%.
Grosso modo os índices confirmam o que as consultas telefônicas informavam diariamente às campanhas, desde que o acaso levou Marina de novo à condição de titular perdida junto com o prazo de registro de seu partido na Justiça Eleitoral.
Mesmo antes disso, lembra o cientista político Antonio Lavareda, quatro pesquisas publicadas entre outubro de 2013 e abril de 2014 apresentavam a ex-senadora sempre em segundo lugar. Na última, tinha 27% das intenções de votos.
Era concorrente forte, com força devidamente medida. Tira votos de todo mundo. Não por outro motivo forças ligadas ao PT colaboraram para que ela não conseguisse a tempo o registro da Rede de Sustentabilidade. Marina no páreo, já se sabia, seria garantia de segundo turno.
Pode-se dizer, então, que por ora as coisas voltaram ao seu curso natural. Com acréscimo do fator comoção pela morte de Eduardo Campos e a estrutura de um partido como o PSB - minimamente mais bem organizado do que seria a Rede. Sem falar dos utilíssimos contatos da legenda com o mundo real.
Isso aliado à sensação de bem-estar que o voto em Marina proporciona ao eleitorado de um modo geral, Dilma Rousseff e Aécio Neves têm pela frente a difícil tarefa de travar um duelo entre o concreto e o intangível.
Mas ela também terá de enfrentar os espinhos inerentes ao pesado exercício do contraditório com os adversários que não lhe darão trégua.
Lei da atração. O partido agora em segundo lugar na disputa presidencial não quer comprar briga com o PT e o PSDB; prefere tentar neutralizar os adversários.
Razão dos elogios feitos aos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva, ao ex-governador José Serra e aos "melhores quadros" dos dois partidos que, segundo declararam correligionários de Marina Silva, seriam convidados a fazer parte do governo caso ela fosse eleita.
Pelo mesmo motivo a candidata apressou-se a incluir na agenda o aviso de que não concorreria à reeleição. O recado: sinalizar que em 2018 o terreno estaria livre. O canto da sereia, contudo, nesse momento não seduz tucanos nem petistas. Muito pelo contrário.
Majestades. A presidente Dilma Rousseff voltou a abordar a crítica da candidata Marina Silva ao perfil de gerente dizendo que essa característica é essencial à função. E acrescentou: quem não compreende isso está querendo ser "rainha".
O termo remete à imagem de "rainha" pretendida pelo marqueteiro oficial, João Santana, para a presidente quando ela ainda era candidata. Explicou isso numa entrevista à Folha de S.Paulo em que falava como Dilma poderia vir a suceder Lula também no "grande vazio sentimental e simbólico" deixado por ele no público.
Discorria Santana: "Há na mitologia política e sentimental brasileira uma imensa cadeira vazia, que chamo metaforicamente de cadeira da rainha e que poderá ser ocupada por Dilma".
A presidente agora usou a palavra em sentido diferente do utilizado por Santana. Ela quis dizer que a adversária ficaria alheia aos problemas cotidianos do governo, como uma rainha da Inglaterra. Ele se referia à figura que desperta reverência e adoração.
Dilma não conseguiu ocupar essa cadeira. Faltam-lhe os requisitos necessários para a montagem do personagem. Já Marina os tem de sobra. Concorre no terreno do imaginário, naquela via por onde já transitou a lenda do operário que comandava um partido que mudaria a política no Brasil.
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