• Nada justifica, num campo de batalha, atirar para o lado errado. Ao centrar o fogo no tucano Aécio Neves nas primeiras semanas do horário eleitoral, talvez a campanha de Dilma tenha catapultado Marina Silva, que tem menos tempo de televisão
Correio Braziliense
A grande charada da eleição para a Presidência da República é acertar o conceito de mudança desejada pela maioria da sociedade. Desde junho do ano passado, esse sentimento gravita em torno da casa dos 70% dos eleitores. Os jovens que foram às ruas naquela ocasião expressaram esse desejo, que foi sufocado em razão da violência de grupos radicais de manifestantes e da repressão policial.
Estava adormecido, principalmente após a Copa do Mundo, até ser catalisado nas eleições pelo trágico acidente que afastou da disputa sucessória o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Marina Silva (PSB), por gravidade, absorveu 29% desses votos; mesmo que já estejam consolidados, outros 41% desses eleitores estão em disputa.
A presidente Dilma Rousseff (PT), que pleiteia a reeleição, persegue esses votos e faz malabarismos para convencer os eleitores de que um novo mandato seria de mudanças. Aécio Neves (PSDB) responsabiliza o governo pela estagnação do país e garante ter equipe de governo e apoio político para viabilizar as mudanças, ao contrário de Marina Silva e sua Rede.
Nós contra eles
Como mudar sem jogar a criança fora com a água da bacia? É mais ou menos disso que se trata, para o eleitor comum. O bom senso, porém, não tem favorecido os governistas. Dilma era favorita, mas não conseguiu convencer a maioria dos eleitores de que é possível mudar o seu próprio governo. De certa forma, o oba-oba petista sinaliza o contrário.
Talvez o grande equívoco da campanha de Dilma Rousseff tenha sido apostar no confronto de indicadores dos governos Lula (PT) e Fernando Henrique (PSB), uma polarização que remete ao passado e não ao futuro. Ou seja, que obedece a uma lógica conservadora. É uma polarização que existe na cabeça dos militantes, mas não na memória da maioria dos eleitores.
O PT errou de candidato, diria a turma do “Volta, Lula!”. Agora, isso não importa; nada justifica, num campo de batalha, atirar para o lado errado. Ao centrar o fogo no tucano Aécio Neves nas primeiras semanas do horário eleitoral, talvez a campanha de Dilma tenha catapultado Marina Silva, que tem menos tempo de televisão.
Dois Brasis
O país que a presidente Dilma Rousseff mostrou na propaganda de tevê também não é o da conjuntura. A economia passou por uma recessão técnica no primeiro semestre. O PIB recuou 0,45% no segundo trimestre deste ano, após ter diminuído 0,12% nos primeiros três meses, sempre em relação ao trimestre imediatamente anterior, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
A última vez que a economia brasileira passou por uma recessão técnica foi no início de 2009, no auge da crise financeira mundial. Resultado: a projeção para o crescimento do PIB para este ano é de 0,7%, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central na segunda-feira.
Além disso, frustrou-se a previsão de que a taxa de juros (Selic) encerraria 2015 em 11,75% ao ano. Agora, a previsão voltou a ser de 12% ao ano. A expectativa para o IPCA deste ano também passou de 6,25% para 6,27%. A projeção para o ano que vem aumentou de 6,25% para 6,28%.
Outra bandeira de Dilma na eleição está ameaçada: o emprego. A Volkswagen deu férias coletivas de 10 dias para funcionários da unidade de Taubaté, que emprega cerca de 4.500 trabalhadores. A General Motors do Brasil pode suspender temporariamente o contrato de cerca de 900 funcionários.
Com 1,2 mil trabalhadores em lay-off (suspensão de contratos de trabalho) desde julho, a Mercedes-Benz negocia com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC medidas para reduzir a tabela de salários e o quadro de pessoal na fábrica de São Bernardo do Campo. A fábrica de caminhões e ônibus emprega 10,5 mil funcionários. Ou seja, a palavra de ordem no bastião do PT é “apertar o cinto”.
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