- Folha de S. Paulo
Extremistas agravam conflito em país tenso pela crise e pela penúria do Estado
A primeira grande ofensiva do governo contra as universidades foi contida por alguma reação social, embora tímida. Reitores, professores, alguns parlamentares e a OAB não tiveram muita companhia na resistência à arbitrariedade.
A intimidação por meio de ameaça de asfixia financeira foi sustada até segunda ordem. Mas outras ordens virão e, menos discutido, a falta de dinheiro nua e crua de qualquer ideologia vai continuar por ainda muito tempo e afetar muito mais do que o ensino superior.
A gente razoável restante na administração federal contribuiu também para sustar a ameaça obscurantista, antes de mais nada discriminação inconstitucional, assim como tem agido para atenuar outros atropelamentos das leis e da mínima razão.
Por exemplo, houve panos quentes nos casos da Petrobras, do Banco do Brasil ou do desatino belicista em relação à Venezuela, para ficar em escândalos maiores.
Mas “a luta continua” para o bolsonarismo de inspiração revolucionária, motivo de convulsão e conflito permanentes, o que irrita até o Clube Militar.
Em nota publicada no site dessa associação de militares fora da ativa, o coronel Sérgio Paulo Muniz Costa reagiu com profunda revolta aos ataques da ala antiestablishment do governo às Forças Armadas, ao “assalto de aventureiros ignorantes mancomunados em uma nova internacional extremista”.
“É inadmissível que expoentes dessa linha exótica de pensamento, independentemente de onde estejam, continuem a exibir suas preferências ideológicas sem serem reprovados pela sociedade brasileira, usando saudações fascistas na conclusão de seus discursos...”, escreveu o coronel Muniz.
A impaciência se espalha por outros setores, mesmo entre empresários. No entanto, esperam calados o arrefecimento da baderna, em nome da aprovação de alguma “reforma” que tire o país da depressão.
Mesmo entre executivos do mercado financeiro, que na maioria colaboraram com a ascensão de Jair Bolsonaro, o prestígio presidencial despencou mais que entre o povo mais pobre.
Um governo pragmático procuraria evitar conflitos nesta situação em que o reparo da ruína econômica será muito difícil e em que a penúria terminal do governo vai provocar cortes letais de despesa, com efeitos políticos e econômicos relevantes.
Talvez gente do governo se divirta com a ideia de trucidar as universidades ou a ciência, projeto facilitado pela falta de dinheiro, situação que, de um fato da vida, se torna pretexto para pervertidos e ressentidos no poder. Mesmo nesse caso, haverá milhões de prejudicados na classe média-alta e na elite do país. Pode ser pior.
A falta de recursos para o Minha Casa Minha Vida afeta um programa que possibilita o lançamento de quase 80% dos imóveis residenciais. A miséria degrada ainda mais as estradas. Os recursos para investimentos (obras, equipamentos) do governo devem cair a um terço do que era gasto entre 2010 e 2014.
Técnicos do Ministério da Economia dizem que, se a arrecadação não melhorar, vai faltar verba para o pagamento de serviços essenciais para o funcionamento do governo.
São afetados os interesses de empresários, prefeitos, de quem quer que utilize algum serviço público, de rodovias a escolas, talvez hospitais, quase todo o mundo.
O sofrimento com a estagnação econômica tende a ser agravado pelo esgotamento orçamentário. O risco de difusão de conflitos aumenta, agravado pelas falanges extremistas do governismo.
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