- O Globo
Para Celso Amorim e Aloysio Nunes, apoiar uma intervenção na Venezuela seria “insensatez” e “delírio”. “Temos que confiar no bom senso dos militares”, diz o chanceler de Lula
Os ex-chanceleres Celso Amorim (governo Lula) e Aloysio Nunes (governo Temer) concordam pouco, ou quase nada, sobre política externa. Mas os dois são frontalmente contrários à hipótese de o Brasil participar de uma intervenção militar na Venezuela.
Para Amorim, uma guerra no país vizinho seria um “desastre absoluto”. “Uma ação militar liderada pelos Estados Unidos pode gerar uma convulsão na América Latina. Seria uma insensatez”, afirma.
O ex-ministro critica o alinhamento automático do governo Bolsonaro a Washington. Ele diz que o Brasil perdeu a chance de atuar como mediador ao reconhecer o autoproclamado presidente Juan Guaidó. “Somos o país que teria mais condições de apaziguar acrise e promover o diálogo. Isso ficou inviabilizado”, avalia.
Apesar da proximidade entre os governos petistas e o chavismo, Amorim faz críticas a Nicol ás Maduro .“Houve uma imprevidência absoluta na economia, e obviamente falta diálogo coma oposição. Masas atitudes agressivas dos EUA, que agora são apoiadas pelo Brasil, só incentivam o fechamento do regime”, afirma.
“Precisamos confiar no bom senso dos militares brasileiros. Eles são cautelosos e não querem se meter em confusão”, acrescenta o embaixador, que também foi ministro da Defesa no governo Dilma.
A exemplo de Amorim, Aloysio Nunes considera que o Brasil errou ao tratar Guaidó como presidente da Venezuela. “Há um grau enorme de ficção nisso. O Brasil deve ser solidário à oposição e denunciar as barbaridades do regime, mas não pode deixar de reconhecer que do outro lado há um governo”, afirma.
O ex-ministro ajudou a aprovar a suspensão do país vizinho do Mercosul, mas diz que o governo Temer nunca rompeu totalmente o diálogo com Caracas. Ele sustenta que o Itamaraty deveria manter alguns canais abertos para evitar “aventuras unilaterais”.
“O melhor caminho é respeitar o direito internacional e buscar uma transição negociada. A ideia de invadir a Venezuela é um delírio, pode levar a uma guerra civil”, afirma. “Felizmente, nossos generais têm dito não a uma intervenção armada. Isso é positivo”, elogia.
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