quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Fernando Exman = O desafio de Guedes na reta final da campanha

Valor Econômico

Ministro equilibra-se entre embate político e pressão de aliados

Intensifica-se, à medida em que o primeiro turno se aproxima, o envolvimento do ministro da Economia na campanha à reeleição do chefe. Paulo Guedes tem sido acionado com mais frequência pelo comitê bolsonarista e, entre uma fala a empresários e participações em eventos direcionados a uma audiência que ultrapassa as fronteiras do mercado financeiro, assumiu a missão de ajudar o presidente Jair Bolsonaro a “furar a bolha”.

O ministro tem um papel fundamental na estratégia de tentar recuperar os votos daqueles que apoiaram Bolsonaro em 2018 e, depois, arrependeram-se em meio à frustração com um governo ultraliberal que não se confirmou. Guedes passou a dirigir-se, também, aos jovens - um exemplo é uma entrevista a um popular “podcast”.

Ele enfrenta, contudo, um outro tipo de desafio. O chefe da equipe econômica, proprietário da chave dos cofres públicos, precisa equilibrar-se entre o papel de cabo eleitoral e a demanda de aliados do presidente pela adoção de medidas populistas. E a pressão tem sido grande.

Nos últimos dias, integrantes do grupo político de Bolsonaro torciam para que o governo anunciasse alguma medida estrondosa, capaz de criar um fato positivo às vésperas do primeiro turno e gerar uma nova dinâmica na reta final da disputa. Nada até agora: diante dos resultados das mais recentes pesquisas de intenção de voto, crescem, nos bastidores, críticas à atuação do ministro em relação à demora na implementação do Auxílio Brasil de R$ 600 e ao fato de a peça orçamentária do ano que vem apenas prever, devido a restrições impostas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, um valor de R$ 400 para o benefício.

A diferença sustentou o discurso da oposição. E não ajudou o fato de o ministro ter questionado o número de brasileiros em situação de insegurança alimentar em recente evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo.

Um integrante do Centrão, aliás, lembra que foi sugerido ao presidente da República a elevação do auxílio para R$ 800. A ideia não foi para frente, em meio a críticas de que a área econômica carecia de sensibilidade social, mas é inegável que uma decisão nesse sentido poderia gerar um efeito demasiadamente danoso na percepção do mercado em relação à economia brasileira.

Pelo menos até agora, não se viu grande turbulência provocada por tensão pré-eleitoral. Isso se deve à percepção de que um eventual novo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se acomodaria mais ao centro, mas, claro, também ao trabalho até agora realizado pelo atual governo. O ministro destaca com frequência, por exemplo, que mesmo com a pandemia e a guerra na Ucrânia as despesas primárias (que excluem gastos com a dívida pública) devem encerrar 2022 em patamar semelhante ao do início do mandato, em torno de 19% do Produto Interno Bruto (PIB). E isso a despeito das concessões na área fiscal, feitas em demasia, que ajudaram a tirar a credibilidade dos alicerces do teto de gastos.

Nesse sentido, tanto Guedes quanto Bolsonaro têm reiterado a melhora do desempenho de alguns fundamentos da economia brasileira, como uma menor inflação em relação à observada em outros países, o crescimento do PIB e a criação de vagas no mercado de trabalho.

Recentemente, o ministro ajudou na construção do discurso feito por Bolsonaro durante a abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, oportunidade em que o presidente falou de medidas adotadas durante sua administração para a modernização da economia, desburocratização e atração de investimentos. Em uma declaração direcionada à comunidade internacional e ao público interno, Bolsonaro usou a expressão “caminho da prosperidade”, termo desenvolvido por Guedes e que tem lugar de destaque no programa de governo do candidato à reeleição pelo PL.

Como previsto, porém, Bolsonaro corria risco de a Justiça impedir a divulgação do discurso na campanha. E assim foi decidido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O mesmo ainda não ocorreu com as participações de Guedes em entrevistas e seminários em entidades setoriais. Em algumas delas, vê-se uma postura mais combativa: em Salvador, pediu a empresários que não acreditem em “narrativas” e rebateu as críticas segundo as quais Bolsonaro seria populista. Quando fala desse tema, costuma sublinhar que há uma diferença entre ser popular e populista.

À sua maneira, o ministro pede a seus interlocutores que não se voltem para o passado e tenham juízo na hora do voto. Em outros momentos, pede que o Brasil seja comparado com outras economias e dá sinalizações em relação ao que pode ser feito num eventual segundo mandato, como a ideia de acabar com o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Sem dar detalhes, recentemente falou em mais ferramentas para recuperação do investimento público e aceleração dos programas de transferência de renda.

Interlocutores de Bolsonaro sustentam que ele “não enfrenta” Guedes. Compara-se, internamente, com o tratamento que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dava ao então ministro da Fazenda Pedro Malan. Quando Bolsonaro fala que faz ou fará algo “com responsabilidade fiscal”, atribui-se a declaração às orientações dadas pelo chefe da pasta da Economia.

O protagonismo de Guedes na campanha está longe do que se viu em 2018, quando era chamado de “Posto Ipiranga” por aliados e adversários, admiradores e inimigos.

Hoje, aliados de Bolsonaro insistem em desacreditar as pesquisas de intenção de voto, mas sabem que Lula está à frente. E torcem para que a abstenção seja alta, principalmente entre os eleitores mais pobres. Isso faria com que Bolsonaro recuperasse terreno parado, sem nada fazer, impedindo assim que uma sensação de nocaute tomasse conta daqueles que acreditaram na fragilidade das pesquisas de intenção de voto.

A Guedes se pode atribuir várias bandeiras ostentadas por Bolsonaro e aliados, inclusive do Centrão. Mas, no pior cenário para o bolsonarismo, começará uma caça às bruxas em busca dos responsáveis pela eventual derrota.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

"precisa equilibrar-se entre o papel de cabo eleitoral e a demanda de aliados do presidente pela adoção de medidas populistas"
Não entendi. Afinal, parece-me q papel de cabo eleitoral e demanda de aliados estão do mesmíssimo lado da balança não havendo espaço pra equilíbrio.
Além do mais, guedes-Ofélia já abandonou o papel de economista há muuuuuuuito tempo, sendo apenas e tão somente cabo eleitoral. Vergonhoso.

Anônimo disse...

Mal vejo a hora de livrarmos dessa má figura. Só trouxe azar para o Brasil. Karma relacionada ao Pinochet, alma penada que deve padecer entre os demônios iguais a ele. Vá com ele diabo velho velhaco.

Anônimo disse...

Será que tencionavam usar as reservas para pagar auxílio de 800 Reais? Olha que estão planejando um jeito de acabar com elas. O sujeito é viciado no dólar e quer abocanha-los.