quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Nicolau da Rocha Cavalcanti* - Quando a voz do povo nos contraria

O Estado de S. Paulo

É fácil desqualificar a coletividade quando as nossas escolhas saem derrotadas. Mas será isso democracia?

No próximo domingo, haverá eleições para os cargos de presidente da República, senador, deputado federal, governador e deputado estadual. É muito provável que nem todos os resultados saiam como desejaríamos. Como lidar com a derrota política? Qual é a melhor resposta perante uma frustração nas urnas?

No início do mês, impressionou-me a reação do presidente do Chile, Gabriel Boric, após a votação que rejeitou, por 61,8% dos votos, a proposta de nova Constituição chilena. Foi uma derrota política duríssima, mas Gabriel Boric não a atenuou, não culpou a desinformação das redes sociais, não desqualificou quem pensa de forma diferente, não pôs em dúvida a lisura das urnas. “Hoje, falou o povo do Chile e o fez de maneira forte e contundente”, disse. Ainda que o plebiscito sobre uma nova Carta constitucional seja muito diferente de eleições regulares, as considerações de Gabriel Boric podem ser muito oportunas para o Brasil de hoje.

Depois de destacar a confiança dos chilenos no processo democrático, Gabriel Boric reconheceu que o povo do Chile “não ficou satisfeito com a proposta de Constituição apresentada pela convenção e, portanto, decidiu rejeitá-la de forma clara nas urnas”. Como é importante admitir a voz das urnas, por mais que ela nos possa parecer, em determinado momento, um grande equívoco, um grande passo atrás, um grande absurdo.

No discurso de Gabriel Boric, há um detalhe significativo. Ele não fala em mensagem dada pela oposição ou por quem tem outras preferências políticas. Refere-se sempre à “mensagem do povo chileno”, o que é uma forma de validar ainda mais a voz de quem lhe deu uma fortíssima derrota política. O modo como nos referimos a quem nos derrota nas urnas – a quem derrota os nossos candidatos – diz muito sobre o nosso apreço real à democracia. Queremos mesmo escutar a voz de todos? Ou, em nosso íntimo, achamos que o Brasil tomará jeito quando o eleitorado for mais parecido com as nossas preferências e com o nosso modo de olhar o mundo?

A democracia não é um regime para assegurar que nossas escolhas prevaleçam sobre as dos demais. Não é fazer valer a vontade pessoal. É tentar ouvir e respeitar o maior número possível de vozes. Por isso, no regime democrático, as derrotas políticas são frequentes. A régua não são nossas convicções, nossas ideias, nossas propostas. O processo é regido por outra dinâmica, genuinamente coletiva.

Há quem se assuste com as escolhas do povo. O povo analfabeto, o povo ignorante, o povo preconceituoso, o povo que não tem memória, o povo que não quer trabalhar, o povo que deseja viver à custa do Estado, o povo que faz tal coisa ou que tem determinada visão de mundo. É fácil desqualificar a coletividade quando as nossas escolhas saem derrotadas. Mas será isso democracia? Ou, antes mesmo, será isso sociedade?

É doloroso perder. É doloroso ver rejeitado nas urnas o que acreditamos ser o melhor para o País, o Estado ou o município. Mas a democracia não é uma foto, não é mero presente. É também futuro: é um processo de aprendizagem, cooperação e articulação. Em sua fala, Gabriel Boric não se limitou a reconhecer a voz do povo do seu país. “Essa decisão das chilenas e dos chilenos exige de nossas instituições e atores políticos que trabalhemos com mais empenho, com mais diálogo, com mais respeito e carinho até alcançar uma proposta (de nova Constituição) que represente a todos, que dê confiança, que nos una como país”, disse.

Na democracia, as derrotas devem levar a trabalhar mais – com mais empenho, com mais diálogo, com mais respeito e com mais carinho (cada uma dessas quatro palavras oferece um horizonte amplo de transformação pessoal e coletiva). A derrota não deve levar ao pessimismo, ao alheamento ou à passividade. Quem só deseja trabalhar na vitória não apenas não aprendeu o que é regime democrático, como demonstra ter uma causa política débil – que se descarta diante dos obstáculos – e uma compreensão superficial dos processos políticos.

“É preciso escutar a voz do povo não só neste dia – continuou Gabriel Boric –, mas ao longo de tudo o que aconteceu nesses últimos anos intensos que vivemos. Não nos esqueçamos por que chegamos até aqui. Este mal-estar (que motivou o processo político de uma nova Constituição chilena) continua latente”. É tentador olhar apenas o resultado momentâneo, mas é equivocado fixar-se apenas nele. Muitas vezes, o modo como se batalha produz mais efeitos (de médio e longo prazos) do que o simples placar da batalha.

Ao longo da História, causas políticas profundamente transformadoras – que produziram novos enquadramentos, novas sensibilidades e muitos benefícios concretos para a vida da população – sofreram grandes derrotas, algumas delas verdadeiramente humilhantes. Mas suas lideranças e ativistas não se detiveram no fracasso. Não se recolheram para cuidar de sua vida particular. Entenderam e respeitaram o processo. Aprenderam com ele. E souberam transformar a derrota momentânea numa vitória muito mais consistente, repleta de sentido e de eficácia.

*Advogado

 

15 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo.

"E souberam transformar a derrota momentânea numa vitória muito mais consistente, repleta de sentido e de eficácia".
Este excerto cabe integralmente nas lideranças petistas. LULA preso foi uma derrota (injusta) mas momentânea e q já foi transformada em vitória.
AGORA É LULA!

Anônimo disse...

Lula ladrão seu lugar é na prisão!

Anônimo disse...

Essa palhaçada que vocês estão fazendo já já acaba, já deram posse para o Luladrão, ele já está montando seu ministério e está roubando normalmente
Kkkkkkk
Pode Jair se acostumando!!

Anônimo disse...

Os banqueiros, o STF e esse jornalismo marrom vendido se aliaram para trazer o Lula de volta das catacumbas da cadeia para voltar a ter acesso ao poder e aos cofres públicos
O povo acordou, o ladrão nunca mais!
Presidente reeleito!

Anônimo disse...

Abaixa ditadura do STF!
Impeachment para o Alexandre de Moraes!
Viva as liberdades democráticas!

Anônimo disse...

Até o New York Times , jornal do Partido democrata , chamou o STF de autoritário e antidemocrático

Anônimo disse...

O Brasil vai crescer mais do que a China e a inflação menor do que os Estados Unidos e Europa
O resto da narrativa dessa oposição de necrotério!

Anônimo disse...

O impeachment do ministro Alexandre de Moraes já passou da hora
O presidente do sedado Rodrigo Pacheco fica quieto porque ele depende de decisão do Supremo em relação aos processos bilionários de seu escritório de advocacia que estão na corte
Vergonhoso esse conluio
Impeachment já!

Anônimo disse...

O GADO ACORDOU.
ASSIM COMO O TOCADOR DE BERRANTE, ACORDAM TARDE.
MAS PODE SER ROBOT.
Enfim, deixou, a conversa, de ser civilizada. Só mugido.

LULA LÁ!
E NO 1o TURNO, GADO!

Anônimo disse...

Eh, gado!
Não mesmo.
Kkkkkk

Anônimo disse...

Crescerá mais. Com Lula, claro!
Depois de 4 anos de tristeza e miséria.

Anônimo disse...

Esse gado escolheu a dedo as palavras encontradas nos anônimos imparciais. Mas aos degenerados que ofendem com palavras chulas o bozo nem uma palavra foi alencada. Conclusão
O Lula já está nandandon e o agiota já está na praça vendendo textos favoráveis ao PT, ou ele é apenas mais um que vai me obrigar a votar no
Bozo. Psicólogo e Advogado

Anônimo disse...

Elencada - antes que alguém me corrija

Anônimo disse...

Não dá pra usar palavras chulas pro Bostonaro? Mas e quando as palavras chulas saem da boca do Broxonaro. aí pode né? O pessoal escolhe motivos incríveis pra votar no degenerado genocida...

Anônimo disse...

É tão burro que leu mas não entendeu