O ser humano é o único na face da Terra capaz de processar racionalmente os fatos, analisar criticamente resultados, avaliar a trajetória percorrida, como base para o aprendizado coletivo e a construção de soluções futuras.
Como contribuição à reflexão, procurarei,
neste e nos próximos artigos, expor as conclusões a que cheguei em relação aos
nossos sistemas de governo, eleitoral e partidário, independente da viabilidade
política das alternativas que julgo as melhores.
Comecemos pelo sistema de governo. Não
tenho dúvidas, vis a vis a experiência de outros países, quanto à superioridade
do parlamentarismo ou do semipresidencialismo sobre o sistema presidencialista.
Sei que esta alternativa já foi refugada em dois plebiscitos em 1963 e 1993. A
nossa tradição é mais ligada a personagens carismáticos do que a partidos e
programas, fato reafirmado em 2022.
Apesar de características históricas bastante
diferentes, vale a comparação com a experiência recente de outros países.
Portugal resolveu em três meses a crise de governo em torno da não aprovação do
orçamento de 2022, dissolvendo o parlamento, convocando novas eleições e dando
maioria estável ao primeiro ministro socialista, Antônio Costa. A Alemanha
construiu, a partir dos resultados das eleições parlamentares, a coalizão
semáforo, reunindo socialdemocratas, liberais e verdes, com ampla maioria, em
torno de um documento programático denso e detalhado.
Na França, aonde as eleições parlamentares
são feitas dois meses após a presidencial, Macron não fez maioria absoluta, e
dependerá de um acordo com os Republicanos, de centro-direita, para governar. No
Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson perdeu as condições de
governabilidade, foi substituído por Liz Truss, em decisão do Partido
Conservador, que durou apenas 45 dias no poder e foi substituída por Rishi
Sunak.
No presidencialismo brasileiro, cada uma
dessas crises, levaria à um doloroso e longo processo de impeachment ou à
permanência de um governo inoperante e desgastado.
As eleições parlamentares brasileiras são bastante dissociadas das presidenciais, fruto de um sistema eleitoral incompreensível para o eleitor. A 15 dias das eleições, 75% dos brasileiros não tinha escolhido seu deputado. Aqui, as coisas são invertidas. Agora eleito, Lula começa a cuidar da formação da maioria parlamentar necessária para governar, buscando atrair partidos que não se alinharam na eleição como MDB, PSD, União Brasil, PP, numa tentativa de reedição do “presidencialismo de coalizão”. A desconexão entre eleição presidencial e maioria parlamentar nas eleições brasileiras merece ser repensada em nome da maior qualidade do ambiente de governabilidade e governança.
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