O Estado de S. Paulo
A corrida para liberação das emendas de relator pode interferir na votação da PEC da Transição
Antes do veredicto do julgamento do STF, o
governo Jair Bolsonaro correu para acelerar a liberação do saldo total de cerca
de R$ 1,9 bilhão de emendas do orçamento secreto na área de Saúde. Essa
liberação a jato ajuda o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL),
nos compromissos de distribuição das emendas de relator, antes da decisão do
STF.
É uma verdadeira corrida para salvar as
emendas de relator de 2022 do modo como elas funcionam hoje, sem transparência
nenhuma.
O roteiro até chegar a esse desfecho teve os seguintes passos: o governo acelerou a concessão de benefícios previdenciários antes da eleição, motivo de seguidas queixas ao longo da semana do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O Orçamento ficou insuficiente para fechar
o ano, e Bolsonaro teve de fazer o bloqueio das despesas discricionárias (as de
livre destinação). O governo, então, pediu ao TCU para editar uma medida
provisória para a edição de crédito extraordinário (fora do teto de gastos).
O TCU autorizou. Uma MP de R$ 7,5 bilhões
foi editada por Bolsonaro para abrir esse espaço no teto. O governo alegou um
aumento extraordinário da procura por benefícios previdenciários no
pós-pandemia para pedir mais recursos e apontou riscos para o funcionamento do
INSS.
Correu, então, imediatamente para liberar o
limite, incluindo as RP9, até pelo receio da decisão do STF.
Este é o resumo.
Há um entendimento de que, mesmo que o
modelo do orçamento secreto seja alterado, o que já tiver empenhado fica
valendo.
É certo que Bolsonaro poderia ter utilizado
todo o espaço aberto com a MP aos ministérios, deixando as RP9 para depois. O
Orçamento de 2022 está com R$ 15,4 bilhões de despesas bloqueadas. Cerca de R$
7,9 bilhões desse valor são emendas do orçamento secreto.
O resultado desse enredo é que a corrida
para liberação das emendas de relator, permitida com a MP, pode interferir na
votação da PEC da Transição, prevista para semana que vem.
Os parlamentares já vão estar abastecidos
pelas suas emendas de relator, o que diminui o atrativo que consta na PEC que
permite liberar até R$ 23 bilhões de despesas bloqueadas do Orçamento de 2022.
Não foi à toa que Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, cobrou o
compromisso de Lira com a votação.
O ponto central é o governo correndo para pagar as RP9. Parte é a incerteza em relação ao resultado do STF. Mas parte, não. É o compromisso mesmo de Bolsonaro com Lira.
Um comentário:
Jesus,Maria e José!
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