Folha de S. Paulo
Até Bolsonaro deve ter direito a seu sigilo
médico
Hoje eu vou defender Jair
Bolsonaro. Não acho que o sigilo sobre
seu prontuário médico e cartão de vacinação deva ser retirado.
É verdade que essa é uma defesa bem indireta. Não tenho nenhuma intenção de
agradar ao ex-presidente nem coloco seu bem-estar entre as minhas prioridades.
Penso, porém, que o sigilo médico é uma instituição que precisa ser respeitada,
inclusive no caso de Bolsonaro.
São duas as razões que me levam a advogar por uma confidencialidade forte para informações médicas. A primeira é a proteção da intimidade. Uma boa anamnese pode incluir o que há de mais íntimo sobre uma pessoa, de suas preferências sexuais a hábitos alimentares, passando por eventuais vícios e histórico de doenças, do próprio indivíduo e de sua família. Não é por outro motivo que o prontuário é considerado um documento de propriedade do paciente, ainda que fique sob a guarda de profissionais ou instituições de saúde.
Mais importante, a garantia de sigilo em
relação ao que o paciente conta para o médico (e vai para seus registros) tem
por finalidade a preservação da vida e da saúde. Ela existe para que ninguém
deixe de procurar socorro por medo de encrencar-se com a Justiça. Se a polícia
tivesse acesso irrestrito a todos os prontuários que indiquem consumo de drogas
ou tentativas de aborto, muita gente deixaria de buscar hospitais na hora do
aperto, o que teria graves consequências sanitárias. Hospital não é nem pode
tornar-se delegacia.
É claro que nenhum direito é absoluto, de
modo que existem situações em que o sigilo pode ser levantado. Mas elas devem
ser excepcionais, coisas como impedir que o paciente psicótico assassine alguém
ou evitar que o sifilítico que recusa antibióticos siga infectando amantes. A
curiosidade pública não está entre essas razões.
O sigilo médico é
importante para a sociedade. Não devemos permitir que Bolsonaro destrua também
essa instituição.
4 comentários:
Corretíssimo!
É, devo dizer que é muito lógico o texto do colunista. Inclusive sobre Bolsonaro.
Não é o caso da vacina...nem é preciso ser muito letrado pra entender da responsabilidade de um dirigente máximo apregoar a ineficácia das vacinas - sabe-se lá com qom que prpósito - e às escondidas vacinar-se...salta aos olhos a covardia e a cafajestice deste gesto...
Saúde é nosso maior patrimônio.
Postar um comentário