sábado, 21 de janeiro de 2023

Gabriel Guimarães* - Centro-direita é a alternativa à barbárie

O Globo

O fortalecimento da democracia no país passa por um projeto crítico ao PT que permita a recuperação do eleitor que um dia foi do PSDB

Desde a eleição presidencial de 2018, os partidos de centro-direita no Brasil estão em crise. A vitória de Bolsonaro com uma plataforma de extrema direita — associada a um discurso de pseudoliberalismo econômico na figura de Paulo Guedes — capturou um eleitorado, antipetista, que estava familiarizado com o projeto da centro-direita encabeçado pelo PSDB, mas que passou a enxergar Bolsonaro como único capaz de derrotar o PT.

Com os atos terroristas promovidos por bolsonaristas no dia 8 de janeiro, esse eleitorado da centro-direita pode ter caído na real. Pesquisa realizada pelo Datafolha mostra que 93% dos brasileiros repudiam os atos extremistas, e 55% acreditam que Bolsonaro teve alguma responsabilidade pelas cenas de depredação e vandalismo na capital federal. Há, então, uma provável fatia — que votou em Bolsonaro em 2018 e em 2022 — descontente com as consequências da postura do ex-presidente de atentar contra a democracia.

A centro-direita tem uma oportunidade de recuperar seu protagonismo. Num momento em que há uma percepção clara de que o discurso bolsonarista provoca a violência e a desordem social, parte do eleitorado deve buscar na centro-direita uma alternativa à barbárie. Diante da oportunidade, os partidos que ocupam a centro-direita já se movimentam. MDBCidadania, PSDB, PSD e União Brasil divulgaram notas em repúdio aos atos e em defesa da democracia.

Tais notas, contudo, não são suficientes para recuperar esse eleitorado. É preciso que a centro-direita assuma uma postura de oposição — democrática e propositiva — ao governo Lula. Desde já, o governo federal demonstra sinais confusos na agenda econômica e nos critérios éticos da escolha para o comando de determinados ministérios. Esses gargalos — administrativos e éticos — apresentados no início do mandato dão oportunidades para que a centro-direita tenha uma postura oposicionista.

Alguns partidos desse campo, contudo, optaram pela adesão imediata ao governo por acreditar que o sucesso do governo Lula pode ser a retomada da normalidade política brasileira. No entanto a defesa da democracia e a retomada dessa normalidade não podem estar associadas ao sucesso do governo Lula, mas sim à construção de uma alternativa democrática e competitiva à barbárie bolsonarista, que possa enfrentar o PT dentro das regras do jogo.

O fortalecimento da democracia no país passa pela construção de um projeto de centro-direita crítico ao PT que permita a recuperação do eleitor que um dia pertenceu ao PSDB e chegou ao bolsonarismo. Enquanto essa alternativa democrática não for construída, muitos ainda enxergarão — de forma errônea e infundada — a tragédia bolsonarista como única saída para expressar o antipetismo e o desejo pelo diferente.

Há uma chance para a civilidade retornar à política brasileira. Os “anos de ouro” de disputa entre PSDB e PT são um exemplo da democracia que precisa ser resgatada no Brasil. A centro-direita tem o dever e a responsabilidade de ocupar o espaço deixado pela barbárie bolsonarista e mostrar que o PT pode ser contestado de forma democrática, plural e respeitosa, sem vandalismos e rompantes autoritários.

*Gabriel Guimarães, cientista político formado pela FGV/CPDOC, é mestre e doutorando em ciência política no Iesp-Uerj

3 comentários:

Anônimo disse...

"Desde já, o governo federal demonstra sinais confusos na agenda econômica e nos critérios éticos da escolha para o comando de determinados ministérios"

Confusos?
Determinados?
Eu, hein, GaGui?

Parece papo de Bispo, tipo:

IGREJA UNIVERSAL - A CLOROQUINA DA FÉ

ADEMAR AMANCIO disse...

Saudade do debate civilizado,ou quase isso,entre o PT e PSDB.'Coxinha' e 'Mortadela' chega ser risível de tão inofensivo.

Anônimo disse...

A maior parte dos coxinhas virou bolsonarista! E os coxinhas mais sensatos tiveram que se contentar com mortadela no ano passado...