Correio Braziliense
Nas redes sociais, permanece
o dispositivo montado para manipular a opinião pública e coordenar as ações
bolsonaristas, apesar de todas as medidas tomadas até agora contra a extrema
direita
Os atos de vandalismo ocorridos em 8 de
janeiro isolaram a extrema direita, porém, a sociedade continua polarizada. A
pronta resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra os
sediciosos e a dura reação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes contiveram a escalada golpista. A pesquisa divulgada ontem
pelo Ipec mostra que 54% dos brasileiros confiam no petista. Por outro lado,
41% disseram que não confiam e 4% não responderam ou não opinaram.
A maior parte dos que confiam no presidente são homens (59%), com mais de 60 anos (63%), que possuem escolaridade até o ensino fundamental (65%) e que moram na região Nordeste (77%). O índice dos que não confiam é maior entre as mulheres (45%). Elas são jovens de 25 a 34 anos (46%), com ensino superior (49%) e moradoras da região Sul (53%). O dado mais positivo foi o fato de que 55% dos entrevistados acreditam que o governo Lula será bom ou ótimo. Já para 21% será ruim ou péssimo. Os que consideram que a gestão será regular são 18%. Essa expectativa não pode ser frustrada.
Será um erro confundir o isolamento da
extrema-direita com o de Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais, permanece o
dispositivo montado para manipular a opinião pública e coordenar as ações
bolsonaristas, apesar de todas as medidas tomadas até agora contra os
propagadores de fake news e financiadores do que houve no domingo. As
narrativas construídas nas redes bolsonaristas atribuem a depredação do Palácio
do Planalto, do Congresso e do STF à ação de provocadores, desvinculando-as de
Bolsonaro, que foi para Miami exatamente para que isso fosse possível. Insistem
na tese da fraude eleitoral.
Entretanto, o presidente Lula saiu
fortalecido, as instituições também. Duas variáveis foram decisivas para
demover o ex-presidente Jair Bolsonaro de assinar o tal decreto de “estado de
emergência” contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A primeira, foi a
ostensiva atuação dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França,
Emmanuel Macron, contra qualquer tentativa de golpe. Os militares brasileiros
são sensíveis a esse posicionamento, porque são estudiosos da geopolítica e
sabem que o governo Bolsonaro se tornara uma ameaça para o mundo, por causa da
questão do desmatamento da Amazônia e da aproximação de Bolsonaro com o
presidente da Rússia, Vladimir Putin. A segunda, a união dos Três Poderes –
Executivo, Legislativo e Judiciário – em repúdio ao vandalismo e defesa da
democracia.
Do ponto de vista da sua legitimidade, o
governo Lula está blindado. Entretanto, a governança e a governabilidade são
ainda um dever de casa. A primeira depende da competência dos ministros, de
suas iniciativas num cenário de escassez de recursos, que exige criatividade e
ações de alto impacto e baixo custo. Os titulares das diferentes pastas,
principalmente as recém-criadas, ainda estão arrumando as gavetas; aguardam a
demissão dos integrantes da equipe de Bolsonaro, inclusive de 8 mil militares
em cargos comissionados, prevista para o próximo dia 24 de janeiro, para
organizar suas equipes.
Terceira via
É aí que a questão da governabilidade
passará pelo primeiro teste, porque uma parte desse pessoal é ligada aos
generais que garantiram a posse de Lula, outra, aos partidos que estiveram com
Bolsonaro e agora se dispõem a dar sustentação a Lula no Congresso. A reeleição
dos atuais presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), são favas contadas, mas o sistema de alianças que se
estabelecerá como hegemônico nas duas Casas tende a ser mais conservador. Pelo
andar da carruagem, Pacheco será um aliado de Lula; Lira, um adversário ladino
e perigoso. O prestígio de Lula na opinião pública terá um peso igual ou
superior à capacidade de cooptação da administração federal, que como se sabe é
muito grande.
Não se deve invocar o nome do povo em vão.
A pesquisa IPEC mostrou que a desconfiança em relação ao governo Lula está na
faixa de 41% dos eleitores. Bolsonaro teve 49,1% dos votos no segundo turno.
Lula venceu com 50,9%, uma margem muito estreita. Esses números mostram a
resiliência dos opositores do petista e são uma tentação para os que acham,
equivocadamente, que Bolsonaro é um cachorro morto.
Por exemplo, o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite, que assume o comando do PSDB com o firme propósito de
ampliar a federação com Cidadania em direção ao eleitorado bolsonarista. O novo
parceiro seria o Podemos, que incorporou ao PSC. Isso lhe garantiria uma
bancada de 40 deputados na Câmara, que poderia dar muito trabalho ao governo
Lula e garantir sustentação à sua candidatura.
O projeto de Leite é açodado, mas vai ao encontro de setores da opinião pública, agentes econômicos e líderes políticos frustrados pelo fato de que Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente, Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento, estão no governo e dão a ele um caráter de ampla coalizão democrática. Os órfãos da terceira via estão em busca de um candidato para chamar de seu. Não combinaram com Bolsonaro, cuja resiliência eleitoral é maior do que alguns imaginam. Por razões políticas e até antropológicas, sua liderança carismática e reacionária continua enraizadas na sociedade.
5 comentários:
Tá certo mas tá errado
"Os militares brasileiros são sensíveis a esse posicionamento (dos EUA e da França - milico brasileiro tem pavor de ser barrado na Disney), porque são estudiosos da geopolítica e sabem que o governo Bolsonaro se tornara uma ameaça para o mundo, por causa da questão do desmatamento da Amazônia e da aproximação de Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin."
Superestimou os milicos. Tanto estudo e os milicos apoiaram o bozo desde antes de sua eleição. Se estudassem mesmo não apoiariam o genocida - não faltou aviso! SABÍAMOS HÁ MUITO TEMPO Q O GENOCIDA ERA UMA AMEAÇA GERAL.
Com o apoio, sujaram a farda.
Os patriotários tomaram o poder e...
não tinham quem botar na presidência! O GENOCIDA fujão estava escondido nos EUA!
Isso!
Bolsonaro segue arrastando seus súditos para o precipício.
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