quinta-feira, 27 de julho de 2023

William Waack - A força do ajuntamento

O Estado de S. Paulo

Lula ainda não digeriu totalmente a natureza do Centrão

Lula assim definiu o Centrão: não existe como organização. Não possui endereço ou um gerente. Trata-se, segundo o presidente, de um “ajuntamento de partidos”, dependendo da situação.

A definição de Lula ignora, porém, a natureza desse ajuntamento. Consiste, como se sabe há décadas, em manter esses agrupamentos privados (chamados de partidos) o mais próximo possível dos cofres e da máquina pública.

O Centrão precede Lula em muitos anos, mas ambos ostentam trajetórias opostas. A de Lula, enquanto chefe do Executivo, é a da perda de poder relativo. A trajetória do Centrão exibe a conquista, pelo Legislativo, de poderes inéditos na história política brasileira.

Lula já havia se convencido 20 anos atrás de que não governaria sem o Centrão. Mas se encontra hoje na situação de ter de governar pelo Centrão. É notória a “continuidade” desse ajuntamento de partidos, não importa a alternância no poder de dois personagens tão distintos como Bolsonaro e Lula.

O maior problema para Lula tem sido compreender que o adesismo do Centrão ao governo não significa automaticamente sustentação. As “moedas de troca” continuam em sua essência as mesmas (cargos e emendas). Mas sua relativa perda de valor, pois o Legislativo abocanhou parte do orçamento público (portanto, não depende tanto do Executivo), vem de outro fator mais abrangente.

O sistema eleitoral brasileiro garante a baixa representatividade do Legislativo, enquanto o grande número de partidos e as formas de financiamento perpetuam oligarquias políticas fracionadas, regionalizadas, divididas entre si mesmas dentro do próprio agrupamento político e com pautas carentes de qualquer “visão” nacional.

Daí Lula reconhecer que esse ajuntamento de partidos chamado Centrão se dá em torno de “situações determinadas”. Em outras palavras, tem conformações distintas conforme as questões tratadas, sejam elas econômicas, de costumes ou regionais. O que dificulta – e encarece – negociações em torno de qualquer votação relevante.

Dadas as conhecidas características dos sistemas de governo e político, seria mesmo utopia supor que fosse fácil a vida de Lula ou de qualquer outro governo. O que a torna tão mais complicada, porém, é a falta de um plano bem definido – a tão falada “agenda” própria.

O presidente parece esperar que as moedas de troca finalmente tragam a esperada “tranquilidade” nas votações no Congresso. Terá de aguardar sentado.

2 comentários:

hisayo nanami disse...

NÃO PASSA DE UM 'MILICIANO LINGUARAZ' A QUERER INTERPRETAR LULA...
QUEM ES TU, BOCA-DE-WATILDE?
VÁ LER MARIA CRISTINA FERNANDES PARA APRENDER, VIVANDEIRO!

ADEMAR AMANCIO disse...

Pois é.