quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Bruno Boghossian – O apagão e a gasolina

Folha de S. Paulo

Queda de energia parece pontual, enquanto reajuste nas bombas indica dificuldade precoce em nova política de preços

A terça-feira não foi um dia de boas notícias para Lula. O petista assistiu do Paraguai ao apagão em quase todo o país, ao anúncio de um aumento salgado nos preços dos combustíveis e a mais um adiamento da votação do arcabouço fiscal na Câmara.

Qualquer queda nacional de energia incomoda o presidente de turno, mas a dor de cabeça de Lula deve ser passageira. Apagões despertam questionamentos sobre a estrutura do país e alguma desconfiança sobre quem gerencia a máquina. Governos recém-instalados, porém, recebem um bom desconto, principalmente se a falha parece pontual.

O eleitor e a economia respondem de forma aguda quando o problema é duradouro e está presente no dia a dia. Em 2001, Fernando Henrique Cardoso vinha recuperando popularidade após a desvalorização do real, até que o racionamento de energia entrou nas casas dos brasileiros e voltou a derrubar seus números.

O reajuste da gasolina e do diesel deve ter para Lula um gosto mais amargo do que o apagão. A alta indica que a estatal encontrou uma dificuldade precoce na promessa do petista de manter os preços dos combustíveis protegidos de flutuações internacionais. Aponta também que o presidente não está disposto, ao menos por enquanto, a implantar uma nova política a marretadas.

O aumento expõe Lula, em alguma medida, ao inevitável mau humor de caminhoneiros e motoristas com os novos preços e a uma hesitação sobre a política do governo na área. A decisão também força uma revisão para cima das expectativas de inflação no momento em que o governo celebrava o início do corte de juros.

Já o adiamento da votação do arcabouço fiscal foi um sinal de outro aumento de preços. Arthur Lira aproveitou um escorregão do ministro Fernando Haddad para fazer uma demonstração de força e obrigar o governo a melhorar sua oferta para o embarque oficial do centrão na base aliada. Lula vinha adiando o negócio, mas pode ter que pagar mais caro para evitar que o prazo de aprovação da proposta se esgote.

 

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