O Globo
Piora fiscal este ano era não só esperada, como inevitável. Governo precisa é garantir o reequilíbrio à frente
O setor público registrou déficit de R$ 79 bilhões no acumulado de janeiro a agosto deste ano, o pior resultado para um início de governo desde o início da série. Lula 1 herdou as contas em dia de Fernando Henrique, e apertou ainda mais o cinto sob Palocci. Manteve as contas no azul no segundo mandato, já sob Mantega. A deterioração das contas públicas aconteceu sob Dilma, passou por Temer e Bolsonaro, e voltou a piorar agora, com a recomposição de despesas represadas pelo teto de gastos. A fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na quinta-feira, que passou a fazer campanha pública por aumentos salariais dos servidores do banco, é a prova de que o funcionalismo federal foi sucateado pela regra do teto, que se mostrou extremamente draconiana. A piora fiscal agora, portanto, era não só esperada, como inevitável. O que é preciso é garantir o reequilíbrio à frente.
Previdência pesa
Os que os números fiscais divulgados pelo
Banco Central mostraram é que a Previdência continua sendo a principal draga de
recursos do país, mesmo com a aprovação da reforma de 2019. De janeiro a agosto,
o governo federal teve superávit de R$ 127 bilhões nas suas contas, enquanto o
INSS registrou déficit de R$ 227 bilhões. O rombo é maior do que os R$ 214 bi
do mesmo período de 2022 e os R$ 210 bi de 2021. Como vários analistas vêm
alertando, o país em breve terá que lidar com uma nova reforma, o que ainda não
está no radar do governo Lula.
Desconfiança
O gráfico expõe o descompasso entre a
promessa da equipe econômica de melhorar as contas públicas nos próximos anos e
as expectativas do mercado financeiro. Quem também alertou para o problema foi
o diretor de Política Econômica o Banco Central, Diogo Guillen, durante a
divulgação do Relatório Trimestral de Inflação. Para o ano que vem, o mercado
estima déficit primário de 0,7% do PIB, contra uma meta de déficit zero. Para
2026, a desconfiança é maior: meta de 1% de superávit contra projeção de 0,4%
no vermelho. Para o governo Lula e o Ministério da Fazenda, os números são um
problema, mas também uma oportunidade. Se o ajuste for feito, haverá uma forte
melhora nas expectativas, com entrada de dólares, valorização do real e queda
dos juros. O fiscal continua sendo a chave para o futuro do país.
Choque na energia
Com o petróleo do tipo brent chegando a US$
92,14 e acumulando uma alta de 28,25% desde 12 de junho, já se pode dizer que o
mundo está vivendo um novo choque no setor de energia. Esse forte aumento de
preços pode pressionar novamente a inflação, manter os juros elevados por mais
tempo e desacelerar o crescimento não só do Brasil mas do mundo.
Alívio nos reservatórios
A projeção do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) é de que os reservatórios de água das hidrelétricas vão chegar
ao fim do período seco no país, no final de outubro, no melhor nível em 14
anos, desde 2009. “Se o indicador do Sudeste/Centro-Oeste se confirmar, região
que concentra 70% dos reservatórios mais relevantes, será o melhor outubro
desde 2009 (69,2%) e 17 p.p. superior a outubro de 2022”, disse o órgão em
relatório ontem.
Comida na mesa
Quem faz supermercado sabe que a vida não está fácil, a despeito dos números do PIB surpreendendo para cima e da queda do desemprego, que ontem recuou para 7,8%. Parte da explicação está na inflação de alimentos em domicílio, que disparou 44,8% entre 2020 e 2022, o dobro do IPCA no período. Este ano, a queda é de apenas 1,8%, segundo Diogo Guillen. Nem de longe devolve a forte alta. Isso ajuda a explicar porque para grande parte dos brasileiros continua difícil botar comida na mesa.
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