O Globo
Direita populista tem um discurso que ressoa
com o público
Pablo Marçal está atualmente empatado em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para prefeito de São Paulo, ao lado de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes, de acordo com a pesquisa Datafolha. Analistas começaram a atribuir sua ascensão meteórica à estratégia sofisticada de produção e disseminação de vídeos curtos, chamados “cortes”, distribuídos de forma viral em plataformas como o TikTok. Marçal engajou adolescentes em competições remuneradas, em que eram premiados aqueles que conseguissem viralizar seus vídeos mais rapidamente. Mas será que essa é realmente a razão de seu sucesso nas pesquisas?
Nos últimos anos, o entendimento sobre o
apelo popular de candidatos populistas e antissistema avançou pouco. Diante da
urgência do tema, é alarmante que nossa compreensão permaneça tão limitada. A
morosidade se deve, em grande medida, a nossa recusa em enfrentar o problema: a
direita populista tem uma mensagem que ressoa com o público.
Em vez de aceitarmos a dura realidade,
inventamos desculpas e subterfúgios, atribuindo a ascensão do radicalismo de
direita a causas externas exageradas ou ilusórias, que justificam nossa inação.
Preferimos a confortável ilusão de que estamos no caminho certo, mas acabamos
surpreendidos por forças poderosas e ocultas que surgem não sabemos bem de
onde.
Vejamos as eleições presidenciais de 2018 no
Brasil. Muitas análises até hoje creditam o sucesso de Bolsonaro aos disparos
em massa no WhatsApp.
Embora tenham de fato ocorrido e tenham relevância jurídica, visto que violaram
a legislação eleitoral, foram mesmo eles que garantiram a vitória de Bolsonaro?
Quem se debruçou sobre os disparos sabe que foram caros, ineficientes (afinal,
eram spam) e muito menos maciços do que geralmente se acredita. Se tiver
dúvidas, pergunte aos mais próximos quantos receberam algum desses disparos.
Infelizmente, a postura que tenta escapar dos
problemas difíceis não é exclusiva do Brasil. Nos Estados Unidos, a ascensão de
Trump ainda é frequentemente atribuída à Cambridge Analytica ou à interferência
russa. A Cambridge Analytica, empresa de marketing digital contratada por
Trump, usou ilegalmente dados de usuários do Facebook para
criar propaganda personalizada para diferentes tipos de perfil. Apesar disso,
poucos estudiosos consideram que a estratégia tenha sido eficaz. Da mesma
forma, a interferência russa, apesar de ter impulsionado conteúdos divisivos
durante a campanha de 2016, teve alcance limitado e dificilmente impactou
significativamente as eleições. Ainda assim, é comum ouvir lideranças
democratas e analistas nos jornais atribuindo a vitória de Trump em 2016 aos
dois fatores.
No Brasil, a lista de desculpas que adotamos
é longa. Além dos disparos em massa, falamos da “mamadeira de piroca”, das
campanhas de desinformação, dos grupos de WhatsApp do “Carluxo”, da genialidade
maligna de Steve Bannon, das redes ocultas de financiamento empresarial, do
grande domínio da direita nas redes e, claro, dos algoritmos enviesados das
plataformas digitais. Falamos muito de todas essas causas externas, mas
raramente encaramos os verdadeiros problemas: as falhas do nosso sistema
político, a cisão moral gerada pelas guerras culturais e a incapacidade das
forças políticas tradicionais de apresentar uma alternativa convincente à
oferecida pela nova direita.
Não quero minimizar a importância jurídica
das denúncias sobre os “cortes” de Marçal. Ao que tudo indica, pagar a
adolescentes para produzir e distribuir vídeos com recursos não declarados é
flagrantemente ilegal, conforme as normas da Justiça Eleitoral. Se isso for
comprovado, Marçal deve ser punido com a força da lei. Mas essa não é a questão
central.
O verdadeiro problema surge quando atribuímos
a força de sua candidatura ao emprego desse expediente. Marçal desenvolveu uma
estratégia de campanha on-line muito eficiente e soube fazer bom uso da
presença nos debates televisivos. No entanto nada disso seria suficiente se
seus ataques indignados ao sistema, à ineficiência do setor público e à
leniência com a corrupção e o crime não encontrassem eco em parcela
significativa da população. É para esse ponto que precisamos olhar se quisermos
encontrar uma solução que esvazie de força política a perigosa direita
populista.
4 comentários:
Não adianta querer tapar o soco a peneira Temos em São Paulo um político inexpressivo comandado e foi visto do jogo Dória e um comunista da extrema esquerda do PSOL Com o currículo de comandar um movimento terrorista de invasão de propriedades rurais e Urbanas Explorando a boa vontade a carência do povo humilde usufruindo ganhos Políticos e financeiros
O Marçal é o melhor candidato não adianta e por isso ele vai ganhar eleição já no primeiro turno O povo do paulista não é bobo
Excelente coluna.
O problema é a sintonia mental,a imperfeição reina soberana no planeta terra.
Ótimo texto, o problema não são os meios de propaganda, mas o fato de tanta gente se identificar com a mensagem desse tipo de gente. Sabíamos que existia muita gente sem caráter, só não sabíamos que eram tantos....
Postar um comentário