A inflação costuma afetar diretamente a avaliação dos governos. Tudo indica que foi determinante nas derrotas do ex-presidente dos EUA, Joe Biden, e do ex-primeiro-ministro alemão Olaf Scholz. Muitos analistas de opinião pública associaram a recente queda de apoio ao presidente Lula ao recrudescimento da inflação, particularmente a dos alimentos.
O ovo de galinha foi o
grande vilão com um aumento de 19,44%. Será culpa das galinhas? Certamente não.
O preço dos alimentos tem um processo de formação complexo que combina eventos
climáticos, preços e demanda internacionais, sazonalidades, custo de insumos.
Para a rejeição popular não recair apenas sobre as galináceas, o tomate e o
café moído apareceram como coadjuvantes no drama da economia popular com altas
de 12,57% e 8,53%, respectivamente.
A inflação dos últimos doze
meses (5,26%) ficou bastante distante da meta inflacionária fixada pelo
Conselho Monetário Nacional de 3,0%. O Boletim Focus, média das expectativas de
mercado, projeta uma inflação de 5,65% em 2025.
Inflação alta, além de ser
um injusto mecanismo de transferência de renda contra os mais pobres, determina
juros altos. Esse foi o motivo de recentemente o Comitê de Política Monetária
subir a taxa básica de juros (SELIC), que orienta todas as demais, para 14,25%.
Juros altos freiam a economia por seus impactos no investimento e no consumo. O
objetivo do Banco Central é esfriar a economia que está excessivamente aquecida
e sem capacidade ociosa para um crescimento sem inflação. A opinião pública em
geral não entende isso. Parece uma perversidade maligna da direção do Banco
Central, mas não é. O senso comum tende a pensar: crescer é bom, gera empregos.
Sim, desde que seja sustentável. Fora isto, logo, logo, virá o cavalinho de pau
e a crise. Foi o que aconteceu no Governo Dilma de 2014 a 2016, após os
estímulos artificiais e voluntaristas do período anterior. Incremento induzido de
demanda sem ampliação da oferta, numa situação de quase pleno emprego, dá em
inflação.
O problema é que a atual
política econômica dá sinais evidentes de esquizofrenia. De um lado, o Banco
Central pisa no freio. Do outro, o Governo Federal acelera. Todas as últimas
medidas apontam na direção do aquecimento da demanda por bens e serviços:
política fiscal expansionista com déficits primários nos últimos dois anos,
liberação de saques do FGTS, facilitação do crédito consignado para o setor
privado, isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Política econômica
é igual cobertor curto, puxa de um lado, vaza do outro. Seus três objetivos
essenciais (crescimento acelerado, estabilidade cambial e monetária e
distribuição com equidade da renda e da riqueza) nem sempre são solidários.
Governar é fazer escolhas.
Não está claro onde vai dar o caminho escolhido.
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