O Estado de S. Paulo
Cinquenta mil pessoas. Talvez um Maracanã (o
de hoje) cheio. Havia muita gente na Paulista. Donde a pergunta: qual a
diferença entre a manifestação do último domingo e o ato fracassado no Rio de
Janeiro, menos de mês atrás, se a pauta-pretexto era a mesma, se tudo
continuaria organizado-engessado em função de Jair Bolsonaro?
Qual? O julgamento de Débora Rodrigues dos Santos e a exposição que seu caso teve a partir do julgamento do ex-presidente. O efeito Débora foi decisivo. A injustiça mobiliza – a proposta de condenação desproporcional indignou a sociedade – e essa onda é surfada pelo bolsonarismo.
Se é improvável a anistia – o objetivo dos
protestos – a Bolsonaro, crescente vai a possibilidade de o Supremo rever as
penas daqueles condenados pelo 8 de Janeiro julgados à baciada. Seria o
correto, juridicamente falando. Politicamente falando – porque esse é o mundo
em que transita a maioria dos ministros do STF: a forma de composição mais
eficiente para baixar a pressão pela impunidade de Bolsonaro.
Muitos daqueles governadores não teriam
participado da manifestação não fossem o caso Débora e a perspectiva de uma
solução negociada – em vez de o perdão aos crimes, o alívio às punições. Muitos
daqueles governadores não querem Bolsonaro elegível em 2026. Um teatro, o que
se encenou. Se o caso Débora foi o elemento aglutinador da massa, a
elegibilidade de Bolsonaro viabilizou o palanque. A turma toda ali, dando corda
à farsa, na expectativa de como o candidato impossível gerirá a sustentação da
mentira – ou o adiamento da verdade.
A foto dos jorginhos com Bolsonaro representa
a unidade da direita em torno do candidato inelegível. União em torno do nada.
A questão – no mundo real – sendo a unidade da direita em função de nome
elegível. Essa inexiste. A direita mais tendente a se fragmentar.
Os caiados dependem de Bolsonaro, o grande
eleitor. Que se recusa a exercer o papel. Que informa diariamente – inflando o
carro de som com zemas para diluir tarcísios – que esticará o embuste da
própria candidatura 2026 adentro. Que arriscará perder o controle que avalia
ter sobre o processo. O sangue está na água e os marçais farejam.
Lula agradece. Agradece a Bolsonaro por fazer
o Lula de 2018. Por querer ser o candidato ainda que por meio de um cavalo –
alguém que lhe empreste o corpo à encarnação, qual Lula tomou Haddad sete anos
atrás. Quais entre os ratinhos topariam essa montaria? Porque são posições
competitivas muito diferentes: ser o candidato de Bolsonaro, apoiado por ele; e
ser a carcaça emprestada à incorporação de Bolsonaro.
A primeira opção pressupõe tempo para que o
candidato – apoiado pelo líder – desenvolva a existência individual. A segunda,
à qual aponta o mito, comunica pressa, solução-puxadinho para que – não tendo
Bolsonaro nas urnas – haja Bolsonaro nas urnas. Lula agradece.
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