O Estado de S. Paulo
Pressão da Paulista, do PL e em inglês fajuto? Que nada! Quem decide a anistia é o Centrão
Num domingo muito especial, Donald Trump,
presidente da (ainda) maior potência, deliciava-se com o derretimento do
multilateralismo, do comércio e das bolsas mundo afora, considerando tudo isso
como “coisa linda de se ver”, enquanto Jair Bolsonaro, ex-presidente da maior
economia da América Latina, lia com o jeitão dele um papelzinho em inglês
ridicularizando a prisão de “Popcorn and ice cream sellers” que vandalizaram os
três Poderes no fatídico 8/1.
O ato da Avenida Paulista, marcado para defender o projeto de anistia aos paus-mandados do 8/1, virou o que já se esperava: pró-Bolsonaro e uma demonstração de força dele na direita, com perto de 45 mil presenças, o dobro do que ele reuniu na Praia de Copacabana, mas só um quarto do que exibiu na mesma Paulista em fevereiro de 2024. Um copo meio cheio, meio vazio.
O bolsonarismo postou vídeos do ano passado
como se fossem de domingo. Ou seja, passou recibo de que o de agora não foi lá
essas coisas. A maior vitória foi a foto de sete governadores, quatro querendo
entrar no vácuo da inelegibilidade de Bolsonaro: Tarcísio de Freitas (SP), que
finge que não vai, mas está pronto para ir; Ronaldo Caiado (GO), que vai, mas
vai sozinho; Ratinho Jr. (PR), empurrado por Gilberto Kassab; e Romeu Zema
(MG), candidato de quem mesmo?
Bolsonaro mostrou que ainda põe gente na rua,
mas não tanto quanto antes, e que dificilmente disputará em 2026, mas é o
grande líder dessa direita. Qualquer um dos pré-candidatos de agora, e dos
efetivamente candidatos depois, vai precisar da sua força política e do seu
eleitorado, apesar da expectativa de estar, além de inelegível, também preso. O
ato de domingo, portanto, reafirma a liderança de Bolsonaro, não o suficiente
para garantir a anistia no Congresso, onde quem manda é o Centrão, oscilando entre
governo e oposição. Nada acontece na Câmara e no Senado sem que o Centrão
queira, seja quem for o presidente da República.
Bolsonaro meteu o Centrão no Planalto e lavou
as mãos para emendas parlamentares bilionárias e sem controle. Lula meteu os
atuais e ex-presidentes da Câmara e do Senado – do Centrão – na viagem à Ásia
e, já na volta, foi confraternizar na residência oficial do Senado.
O PL mantém a pressão pela urgência da
anistia, mas está se desenhando um meio-termo, com foco nos “excessos” das
penas dos “pipoqueiros, vendedores de picolé” e da cabeleireira Débora dos
Santos, e não em livrar previamente Bolsonaro. Com ato na Paulista, aliança com
Trump, recado em “inglês”, fortalecimento da extrema direita internacional, ou
não, o fato é que a anistia está nas mãos do Centrão.
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