Folha de S. Paulo
Medidas de Trump mostram que EUA são menos
confiáveis do que se supunha, o que compromete posição de liderança do país
Mesmo que Donald Trump desfaça
amanhã todas as medidas
tresloucadas que baixou (o que não vai acontecer), ele já causou
aos EUA danos
difíceis de reverter. Muito do poderio americano derivava do fato de o país ser
visto como porto seguro, na economia, na geopolítica, na estabilidade
democrática e na capacidade de produzir inovação. Não é mais.
A fase mais aguda do tumulto econômico das tarifas deverá passar em dias, mas o mundo se deu conta de que os EUA são um parceiro comercial menos confiável do que se supunha. Vários países procurarão colocar-se em posição de menor dependência, desacoplando suas economias da americana.
Pode sobrar até para o dólar. A moeda
americana não vai deixar imediatamente de ser a grande reserva global de valor,
mas Trump criou um incentivo a que se busquem alternativas.
No plano militar, a Europa
percebeu que não pode mais contar com Washington para encabeçar a
defesa do continente contra a Rússia. Não dá
nem para descartar a possibilidade de os EUA se tornarem uma ameaça mais
concreta do que Vladimir
Putin, o que ocorreria caso Trump
decida mesmo tomar a Groenlândia, que é parte da Dinamarca, à força.
Também estamos vendo coisas que até há pouco
seriam inimagináveis, como a imprensa (a tradicional, não a satírica)
discutindo planos do presidente para violar a Constituição e turistas europeus
desistindo de viajar à América por medo de sofrer prisões arbitrárias.
É possível até que os EUA estejam vivendo as
fases iniciais de um "brain drain", a fuga de cérebros, que é o
fenômeno pelo qual países instáveis perdem suas melhores mentes científicas
para outras nações. Timothy
Snyder, por exemplo, já anunciou que trocou Yale pela Universidade de
Toronto.
O problema de base são os eleitores. Eles não
sabem a força que têm. É verdade que trumpistas radicais votaram por uma
delirante reforma da natureza. Mas parte considerável dos americanos foi de
Trump em protesto contra os preços de Joe Biden.
Compraram mais inflação e muita devastação pelo Agente Laranja.
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