Valor Econômico
Movimentações do governador de São Paulo são
acompanhadas atentamente; ele é visto como alguém com vantagem sobre os demais
governadores cotados para a disputar a eleição presidencial
A possibilidade de uma candidatura unificada
da direita para enfrentar o campo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
na eleição presidencial de
2026 ganhou força nos últimos dias, mas também ficou
evidente que qualquer definição passará pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O
contexto foi ilustrado pela manifestação
de domingo (6) na avenida Paulista, convocada por Bolsonaro em defesa
de anistia para
condenados pelos atos de 8 de janeiro. Na ocasião, ele atraiu para o palanque
sete governadores aliados, sendo quatro deles potenciais presidenciáveis.
Inelegível até 2030 por decisão do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE),
Bolsonaro reafirmou no protesto a intenção de no ano que vem se registrar como
candidato, mesmo com a expectativa de ser barrado. A saída seria elevar o vice,
ainda incerto, à condição de cabeça de chapa.
Há uma pressão nos bastidores, contudo, para ele abrir mão da ideia e ungir ainda neste ano um sucessor, dando tempo para a formatação de uma campanha. Apesar da interdição imposta pelo ex-presidente, seu apoio é considerado fundamental pelos demais atores do campo para atrair os eleitores conservadores - o que faz com que descartem por ora um descolamento do ex-presidente.
A foto com os sete governadores - Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Junior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM)
e Mauro Mendes (União-MT)
- serviu aos planos de Bolsonaro de exibir peso político, a fim de respaldar
sua defesa nos tribunais. Ele agora é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado e,
se condenado, pode ser preso. Da parte dos aliados, a adesão à bandeira da
anistia embute um aceno ao eleitorado bolsonarista e um receio com a pecha de
traição.
Segundo relatos ao Valor, a indefinição de
Bolsonaro deixa o cenário turvo, mas a intenção é buscar aglutinação, ainda que
cada um deles ponha em curso táticas individuais. Caiado, por exemplo, foi o
primeiro a oficializar uma pré-candidatura à Presidência, durante evento na semana
passada em Salvador. Na Paulista, o governador de
Goiás falou com naturalidade sobre a busca de espaço, negou a possibilidade de
divisão e sinalizou que uma aproximação pode ocorrer em eventual segundo turno.
Zema e Ratinho também veem espaço para composições.
“Vou fazer todo o possível para que esse
grupo esteja unido nas eleições do ano que vem”, afirmou o presidente do PP,
senador Ciro Nogueira (PI),
um dos elos de Bolsonaro com o centrão.
Na mesma linha, Tarcísio declarou após o ato na Paulista que “se engana quem
pensa que a direita está fragmentada, desunida, que os interesses individuais
vão prevalecer”. Segundo ele, “todo mundo está imbuído do mesmo propósito e do
mesmo ideal de transformação” e “vai caminhar junto”. Uma aliança da direita
pode ainda incluir o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que
também prega entendimento.
Tarcísio
A situação de Tarcísio é considerada elemento
central para destravar as conversas. Ele hoje se diz pré-candidato à reeleição
no Estado, apesar das pressões para se colocar como alternativa à Presidência,
e afirma que seu candidato é Bolsonaro, intensificando gestos públicos para
demonstrar lealdade ao ex-presidente, de quem foi ministro.
Segundo pessoas
próximas, Tarcísio só dará um passo maior com o aval do ex-chefe, que até agora
resiste a demonstrar preferência por qualquer um dos nomes especulados.
Governadores que estão no cargo têm que renunciar até abril de 2026 para serem
candidatos à Presidência.
As movimentações de Tarcísio são
acompanhadas atentamente e têm potencial para alterar a conjuntura porque ele é
visto como alguém com vantagem sobre os demais. São
citados aspectos como: relação de confiança com Bolsonaro; projeção nacional,
em virtude de comandar o Estado mais rico; potencial nas pesquisas; e
capacidade de agregação política.
O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que é
secretário da gestão paulista, já
disse que sua primeira opção é lançar Ratinho - atualmente no segundo
mandato, ele não pode concorrer à reeleição estadual -, mas que apoiará Tarcísio se ele
tentar a Presidência.
Apesar de negar pretensões nacionais, Tarcísio subiu nos últimos meses o tom contra o governo Lula, criticando sobretudo a condução econômica. Ao mesmo tempo, busca manter uma relação republicana entre as duas gestões, como na parceria para a construção do túnel Santos-Guarujá. O bolsonarista foi o único governador que discursou na Paulista. Antes da manifestação, ele recebeu os convidados de outros Estados para conversas no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Também hospedou Bolsonaro no local, como faz quando ele tem compromissos na capital.
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