Folha de S. Paulo
Entrada de americanos no conflito dificulta
saída diplomática; mudança de regime em Teerã pode dar lugar a caos ou
endurecimento
Netanyahu conseguiu
arrastar Trump para sua guerra contra o Irã.
O lançamento
das megabombas americanas contra instalações atômicas iranianas
dificulta muito uma saída diplomática para a crise, pela qual Teerã renunciaria
de forma crível a seus projetos nucleares bélicos em troca do fim das sanções
econômicas. Essa, sem dúvida, teria sido a solução menos traumática para as
partes envolvidas e para o mundo.
A questão que se coloca agora é a de saber como a teocracia responderá aos ataques. E ela não tem muitas opções. O regime está militarmente debilitado e sofre contestação política interna. Uma retaliação percebida como muito fraca poderia significar um suicídio político para os aiatolás; e uma muito forte poderia desencadear uma contrarretaliação ainda mais intensa por parte de americanos ou de israelenses.
Um caminho alternativo seria responder
econômica e não militarmente. Ou seja, os iranianos poderiam fechar o estreito
de Hormuz à navegação, causando uma nova crise do petróleo. A dificuldade aqui
é que o regime também depende de vender óleo para a China para sobreviver.
Num mundo leibniziano, os ataques
israelo-americanos provocariam a queda do regime e sua substituição por um
governo moderado que desistisse da bomba. O problema aqui é que não há nenhuma
garantia de que isso vá ocorrer e nem mesmo de que esse seja um cenário
provável.
Embora a teocracia seja odiada por boa parte
dos iranianos, não há por lá uma oposição de matizes liberais muito articulada.
Não dá para descartar nem a possibilidade de um golpe da linha-dura, que
perseguiria a bomba com ainda mais afinco.
Estou entre aqueles que gostariam de ver um
Irã livre da repressão e sem artefatos atômicos. Talvez seja preconceito
antirreligioso meu, mas me preocupa a ideia de que a segurança mundial dependa
de gente convicta de que existe uma vida "post mortem" muito melhor
do que a terrena.
Frequentemente, a decisão mais sábia diante
de nós é evitar a incerteza. É o que Netanyahu e Trump não fizeram.
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