terça-feira, 24 de junho de 2025

Ação dos EUA contra Irã amplia incertezas - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Entrada de americanos no conflito dificulta saída diplomática; mudança de regime em Teerã pode dar lugar a caos ou endurecimento

Netanyahu conseguiu arrastar Trump para sua guerra contra o Irã.

lançamento das megabombas americanas contra instalações atômicas iranianas dificulta muito uma saída diplomática para a crise, pela qual Teerã renunciaria de forma crível a seus projetos nucleares bélicos em troca do fim das sanções econômicas. Essa, sem dúvida, teria sido a solução menos traumática para as partes envolvidas e para o mundo.

A questão que se coloca agora é a de saber como a teocracia responderá aos ataques. E ela não tem muitas opções. O regime está militarmente debilitado e sofre contestação política interna. Uma retaliação percebida como muito fraca poderia significar um suicídio político para os aiatolás; e uma muito forte poderia desencadear uma contrarretaliação ainda mais intensa por parte de americanos ou de israelenses.

Um caminho alternativo seria responder econômica e não militarmente. Ou seja, os iranianos poderiam fechar o estreito de Hormuz à navegação, causando uma nova crise do petróleo. A dificuldade aqui é que o regime também depende de vender óleo para a China para sobreviver.

Num mundo leibniziano, os ataques israelo-americanos provocariam a queda do regime e sua substituição por um governo moderado que desistisse da bomba. O problema aqui é que não há nenhuma garantia de que isso vá ocorrer e nem mesmo de que esse seja um cenário provável.

Embora a teocracia seja odiada por boa parte dos iranianos, não há por lá uma oposição de matizes liberais muito articulada. Não dá para descartar nem a possibilidade de um golpe da linha-dura, que perseguiria a bomba com ainda mais afinco.

Estou entre aqueles que gostariam de ver um Irã livre da repressão e sem artefatos atômicos. Talvez seja preconceito antirreligioso meu, mas me preocupa a ideia de que a segurança mundial dependa de gente convicta de que existe uma vida "post mortem" muito melhor do que a terrena.

Frequentemente, a decisão mais sábia diante de nós é evitar a incerteza. É o que Netanyahu e Trump não fizeram.

 

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